quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A imagem do dia


Confesso não ter muito conhecimento da NASCAR, mesmo em termos históricos, porque não puxou muito. Mas conheço as suas origens: uma competição que nasceu na Carolina do Sul, entre rapazes que tinham carros potentes para escapar da policia porque levavam álcool destilado ilegalmente, nos anos 40 e 50. Gente como Junior Johnson, por exemplo, passou tempo na prisão porque fazia isso como ocupação, mesmo depois da competição se ter engrandecido e se tornar no que foi, por causa da construção da oval de Daytona e da entrada em cena da familia France, que engrandeceu a pista e essa localidade na Florida para ser o que é agora.

Dale Earnhardt é da geração seguinte de Johnson, Richard Petty, "Fireball" Roberts e outros, e se apanhou muitos deles - Cale Yarborough é outro nome que se pode referir - ao contrário dessa gente, é a segunda geração de uma dinastia, porque era filho de Ralph Eranhardt, que foi também dessa primeira geração, mas não teve tanta fama. Infelizmente, morreu aos 45 anos, em 1973, de ataque cardíaco, quando Ralph estava a começar a sua carreira na Winston Series.

Por muito que provasse o seu valor em pista, nesses temos de meados da década de 70, apesar do crescimento da competição com pistas como Talladega, Pocono ou Martinsville, entre outros, não tinha o chamamento televisivo das 500 Milhas de Indianapolis, por exemplo. Até que um dia de fevereiro de 1979, enquanto meia América ficava em casa, retida contra a sua vontade por causa de uma tempestade de neve, viam embasbacados Cale Yarborough e Donnie Allison brigarem um contra o outro porque se auto-eliminaram com a meta à vista, enquanto Richard Petty comemorava a sua sexta vitória na clássica de Daytona, talvez a mais inesperada da sua carreira. 

E enquanto a América se apaixonava definitivamente pela NASCAR, Earnhrdt aproveitava bem essa onda. Ainda em 1979, venceu a sua primeira prova, em Bristol, e foi campeão no ano seguinte. Contudo, o número do qual ficou na lenda, o 3, apareceu apenas em 1984, quando regressou à Richard Childress Racing, onde estivera por algumas provas no final de 1981. Esse número pertencia a Ricky Rudd, e só sairia da Richard Childress Racing depois de morto.

Em 1987, Earnhardt, já com 36 anos, tinha vencido o campeonato no ano anterior, e estava na luta pelo título desse ano. A 17 de maio desse ano, em Charlote, na Carolina do Norte, acontecia a The Winston, uma competição All-Star do qual só poderiam competir por convite. Dale, o campeão, era um convidado natural, e na corrida, Bill Elliot parecia dominar, pois tinha feito a pole-posiition. pois Dale tinha tocado no carro de Geoff Bodine, perdendo posições. Mas recuperou, foi para os lugares da frente e quando Bodine tentou passar Elliot, tocando-se ambos e despistando-se, Earnhardt aproveitou. E ali, de perseguidor, passava a perseguido, e a oito voltas do fim, Elliot queria o primeiro lugar de volta e fez de tudo para o tirar dali. Chegou a tocá-lo, ele foi á relva, mas manteve a calma, o controlo e o sangue-frio, e o primeiro lugar foi o seu, quando mostraram a bandeira de xadrez. Chamaram a aquele momento de "Pass on The Grass", quando, irónicamente... não houve ultrapassagem alguma.

Earnhardt acabou campeão nesse ano, e a alcunha de "O Intimidador" começou a pegar. E isso num tempo em que havia personagens como Tim Richmond, que chegou a correr em Indianápolis e teve uma vida cheia como curta, pois morreu devido ao HIV, em 1989, aos 34 anos.

Nos treze anos e meio seguintes, Earnhrdt correu contra uma nova geração de pilotos, que incluiu o seu filho Dale Jr, e foi campeão mais quatro vezes, a última dos quais em 1994. E quatro anos depois, em 1998, conseguiu a sua única vitoria no Daytona 500, algo do qual perseguiu quase toda a sua vida (tinha 46 anos quando a alcançou) e ainda era competitivo no ano 2000, quando começou a contemplar a ideia de se retirar, ele que iria fazer 50 anos a 29 de abril de 2001, e faria a sua 19ª temporada seguida pela Richard Childress Racing. 

Como sabem, não teve tempo. E há precisamente vinte anos, neste 18 de fevereiro, data do Daytona 500 desse ano, Dale Earnhart bateu no muro na última volta dessa corrida, quando lutava pela vitória. O legado dele, precisamente vinte anos depois do seu trágico desaparecimento, não só foi o fortalecimento das regras de segurança nos carros - o HANS tornou-se obrigatório a partir dali - mas também o facto de Earnardt se ter tornado o símbolo de um tempo onde a NASCAR vivia um auge de popularidade do qual muitos não se identificam com o que se passa agora.   

1 comentário:

João Carlos Viana disse...

Só uma correção: o número 3 permaneceu com a equipe de Richard Childress, porém, ninguém correu com o histórico número após a morte de Dale. Somente quando o neto de Childress, Austin Dillon, estreou na categoria principal (que mudou de nome várias vezes nos últimos anos...) é que o número 3 retornou à Nascar.