quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

A imagem do dia


Trago hoje de novo os eventos de Imola 1983, nestes dias que passam após a morte de Patrick Tambay, porque entretanto li algures nas redes sociais uma declaração do próprio sobre o que aconteceu naquele dia. E porque para os tiffosi, para os italianos, e para muitos dos amantes da Formula 1, isto toca no coração.

Como sabem, já falei da corrida no domingo, mas o que descobri hoje foi ele a falar sobre esse dia. Todos os que conversaram com Tambay, seja de modo profissional, ou de outra maneira, falam de duas coisas em comum: a sua extrema simpatia e o gozo que tinha quando falava sobre os seus tempos na Formula 1, e como mudava o seu semblante quando alguém lhe perguntava sobre Gilles Villeneuve. É que para ele, tinha sido um dos melhores amigos do canadiano, ao ponto de ele ter sido padrinho de batismo do Jacques Villeneuve. E já me contaram que foi depois de uma conversa honesta com Tambay, no Mónaco, que ele convenceu a mãe, Joanne, que queria seguir o destino do pai, com o resultado que conhecemos.

E como já contei no outro dia, depois de conseguir o terceiro posto na grelha, o mesmo que Gilles alcançou na corrida anterior, a última da sua carreira, os "tiffosi" escreveram aquela frase de incentivo. O que não sabia era que Tambay andava com as emoções à flor da pele, como disse no final da corrida. 

Me emocionei ao ver o grafitti 'TAMBAY, VINGA GILLES!' Por uns vinte minutos eu chorei, incapaz de controlar minhas emoções. Aquilo era mais forte do que eu, disse a mim mesmo para parar, mas não conseguia. Os mecânicos perceberam e me deixaram em paz. Eu não sabia se seria capaz de sair [do lugar]“

"Corri pensando em Gilles, de vez em quando ele me vinha à mente. As pessoas com seus gritos, que ouvia muito bem, me lembraram dele, dedico minha vitória a Gilles. Eu estava na frente, mas estava começando a perder a concentração por causa do motor quando alguma coisa me bateu no meu capacete, como se alguém tivesse me batido a dizer: 'Vamos rapaz, acorda!' Pensei que tinha batido num pássaro, mas ao chegar [à meta] não encontrei nenhum sinal no capacete."

Para quem já não se recorda, quando a corrida acabou, na volta de descompressão, Tambay parou o o carro na pista porque os "tiffosi" entraram para celebrar a vitória. Eram tantos que teve de parar o carro no caminho. Foi levado ao colo por eles, felizes porque a vingança que tanto queriam tinha acontecido, e porque era alguém que Gilles teria adorado. Não admira a emoção que ele sentiu naquele dia. Foi como que o espírito dele tivesse descido à terra a ajustado contas. 

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