Os rumores corriam doidos no fim de semana, e esta manhã confirmaram-se: Luca de Montezemolo anunciou que iria abandonar a Ferrari, efetivamente a partir do dia 13 de outubro, quando o grupo Fiat irá ser cotada na Bolsa de Nova Iorque. A decisão foi comunicada pelo próprio ainda antes da reunião do Conselho de Administração da marca italiana, que terá lugar amanhã em Maranello.
“Este é o fim de uma era e, por isso, tomei a decisão de deixar a minha posição de presidente depois de quase 23 anos maravilhosos e inesquecíveis, para além do tempo em que estive ao lado de Enzo Ferrari nos anos 70″, começou por dizer Montezemolo no comunicado oficial da marca. “A Ferrari terá um papel significativo a desempenhar junto com o grupo FCA na bolsa de valores de Wall Street no próximo mês. E isso vai abrir um novo e diferente estágio que eu penso que deve ser liderado pelo diretor-executivo do Grupo”, revelou.
"A Ferrari é a empresa mais maravilhosa do mundo. Foi um grande privilégio e uma honra liderar essa marca por tanto tempo. Eu dediquei todo o meu entusiasmo e empenho a essa empresa ao longo dos anos. Junto com a minha família, que era, e continua a ser, a parte mais importante da minha vida. Desejo aos acionistas, principalmente a Pietro Ferrari, que esteve sempre ao meu lado, que todos tenham muito sucesso, porque é isso que a Ferrari merece Meus agradecimentos, primeiramente, vão para as mulheres e homens da fábrica em Maranello, nos escritórios, nas pistas de corrida e nas lojas ao redor do mundo. Eles foram os arquitetos reais do crescimento dessa companhia espetacular, das vitórias inesquecíveis e da transformação dessa marca em uma das mais fortes no mundo.” concluiu.
A saída de Montezemolo acontece depois de meses de tensão no seio do grupo entre ele e Sergio Marchione, o presidente do grupo Fiat. As coisas precipitaram-se após a saída de Stefano Domenicalli e a sua substituição por Marco Mattiacci. Este último foi imposto por Marchione, depois dos resultados desastrosos que a equipa de Maranello está a ter. Aliás, quando Sergio Marchionne referiu Montezemolo, não deixou de o criticar, afirmando que o desempenho da Ferrari nestes últimos tempos é considerado “inaceitável”. “Luca e eu discutimos o futuro da Ferrari longamente” começou por afirmar. “E o nosso desejo mútuo é vê-la melhorar e atingir seu verdadeiro potencial na pista. E isso levou a alguns mal-entendidos e tudo se tornou visível ao longo do fim de semana” contou.
Curiosamente, Montezemolo sai numa altura em que a Scuderia vai anunciar lucros de 400 milhões de euros, os maiores de sempre. E sobre o que ele vai fazer a seguir, fala-se que o seu destino poderá ser a Alitália, onde tentará colocar em ordem a companhia aérea, devastada por dividas e má gestão e que recentemente se aliou à árabe Etihad. Quanto ao seu substituto, poderá ser Marchione a acumular ambos os lugares, já que Ross Brawn está indisponível para tomar conta do cargo de diretor desportivo, devido a problemas de saúde.
Nascido em 1947, Luca Cordero de Montezemolo chegou á Ferrari aos 26 anos, em 1973, como chefe de equipa. por essa altura, a equipa de Formula 1 estava a definhar nas últimas filas da grelha de partida. Foi ele que acolheu um jovem desconhecido, o austríaco Niki Lauda, depois de ter dado nas vistas na equipa BRM. Com ele, a Scuderia venceu os títulos de construtores entre 1975 e 77, e os de pilotos em 1975 e 1977.
Depois saiu para fazer parte de cargos mais altos no Grupo Fiat, passando também pela organização do campeonato do mundo de futebol, em 1990. Em 1993, volta à Ferrari como seu presidente, numa altura em que a Scuderia tinha voltado a mergulhar em crise, depois do fracasso do chassis F92A. Contratou Jean Todt, mas foi com a entrada de Michael Schumacher, em 1996, e pouco depois, de Ross Brawn, que as coisas mudaram. Os três (Todt, Brawn e Schumacher) levaram em 2000 a Scuderia a quebrar o jejum de campeonatos, que durava desde 1979, e a um período áureo que durou até 2004, onde venceram todas as competições.
Após a saída de Schumacher e Brawn, a Scuderia venceu mais um campeonato de pilotos, em 2007, com Kimi Raikkonen, mas desde então, e mesmo com a chegada de Fernando Alonso e de vários engenheiros mediáticos, como James Allison, a marca não têm conquistado qualquer título, apesar de ter estado bem perto em 2010 e 2012, impedidos pela Red Bull e pelo alemão Sebastian Vettel.
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