quarta-feira, 19 de abril de 2017

Moral e ética em situações complicadas

O acidente no passado domingo, do piloto britânico Billy Monger, durante uma prova de Formula 4 britânica, teve consequências graves. Sabia-se que o piloto de 17 anos tinha tido fraturas graves nas pernas, braço e pulso, mas hoje soube-se que acabou por ter de ser amputado abaixo do joelho. Monger, que era sexto no campeonato de Formula 4 britânico, estava a ganhar lugares quando embateu fortemente na traseira do carro do finlandês Patrik Pasma. Este foi transportado para o hospital em observação, mas acabou por ter alta no dia seguinte.

O problema disto tudo é que, à hora em que escrevo isto, o comunicado oficial é uma página de crowdfuning, assinado pela equipa e pela familia. Não há um comunicado do hospital onde está internado, não há um comunicado da organização da própria Formula 4 britânica e mesmo o comunicado da sua equipa, a JHR Developments, no Twitter, remete para o mesmo site, para doar o mais possivel. O valor é, à partida alcançável - 260 mil libras - e até agora, já conseguiram mais de 80 mil, cerca de 25 por cento do valor.

Honestamente, não quero colocar isto em questão, porque acho que é uma situação grave e o garoto merece todo o nosso apoio neste momento muito dificil. Só que não gosto de confiar numa só fonte, pois pode ser uma armadilha. Não é que seja cético, mas a situação é muito séria, pois falamos de um garoto de 17 anos que aparentemente, perdeu as pernas. Ao ver a velocidade das pessoas partilharem uma página, com uma explicação aparentemente oficial, sem mais perguntas, confunde-me. Confunde-me até que ponto as pessoas confiam de uma forma cega a algo que até pode ser usado para fins pérfidos. É esse o meu receio: que tudo pode ser treta.

Mesmo que isto tudo seja verdade - espero ardentemente que sim - isto levanta outras questões, mais éticas. Em noticias delicadas como esta, a minha experiência automobilística diz que "no news is bad news", ou seja, quando há um manto de silêncio vindo do hospital após um acidente muito grave é sinal de que as noticias são más. E quando o pior acontece, como já vi ao longo dos anos, os primeiros a avisar são as famílias. E só dali a uma ou duas horas, a noticia é dada ao mundo, pelo hospital.

Eu não acuso nada. Simplesmente quero algo bem feito, para depois podermos ajudar este pobre rapaz, que teve a sua vida mudada aos 17 anos de idade, um acidente horrivel do qual todos viram pela televisão, num acidente que faz lembrar muito Alex Zanardi, há mais de 15 anos, em Lausitz. Um pouco de paz de espírito é o que desejo, mais nada. Porque o meio onde trabalho já levou muitas pancadas, e mais uma seria péssimo. Para o bem de todos nós.