A história de John Paul Sr. não começou na América. Começou, na realidade, na Holanda, o seu lugar de nascimento, a 12 de março de 1939 como Hans-Johan Paul. Lá ficou até 1956, quando acabou o liceu e foi para a América tentar a sua vida. Americanizou o nome, estudou Gestão e aos 21 anos, já era casado e com um filho, o junior. Milionário no final da década de 60, trocou a casa por um barco grande e decidiu meter-se no automobilismo. Em 1972, a sua mulher deixou-o e levou o seu filho com ele.
A sua (re)entrada no automobilismo aconteceu em 1975, e com ele estava o seu filho John Paul Jr. Tinha decidido ficar ao lado do seu pai, e trabalhava na sua oficina. Contudo, havia uma componente de perigo naquilo que fazia. Com barcos velozes, e com interesses no Louisiana e Florida, a marijuana nos anos 70 era um negócio bem lucrativo, e ajudava a sustentar o negócio do automobilismo. Mas o próprio John Paul Sr. não era uma pessoa fácil. Quem o conhecia falava dele como alguém com um "temperamento instável" e ora era simpático, ora era violento. A partir de 1977 estava metido na IMSA, correndo essencialmente em Porsches, e o primeiro grande feito foi a vitória na Classe 2 da Trans-Am, a bordo de um Porsche 935.
Em 1980, mais concretamente a 26 de maio, casa-se de novo com Chalice Alford, no "paddock" de Lime Rock Park, minutos antes de entrar na corrida, ao lado do seu filho, no Porsche 935 que a sua equipa tinha. No final, pai e filho estavam no lugar mais alto do pódio, a primeira vez que ambos fariam isto. E ainda por cima, era a primeira corrida de John Paul Jr. na classe. O filho tinha certamente muito mais talento que o pai, mas era o sénior que se metia em sarilhos. Chalice desapareceu sem deixar rastro no verão de 1981, e alegadamente, John Paul Sr. aproveitou isso para se divorciar e casar com Hope Haywood, irmã de Hurley Haywood, no Haiti. Tudo isto no meio do ano de 1982, onde venceu tudo na IMSA, incluindo Daytona e Sebring, bem como o título com o seu filho ao volante.
Parecia que estava a equilibrar as coisas, mas a 19 de abril de 1983, Stephen Carson era baleado no peito e perna quando tentava fugir de alguém. Sobreviveu e testemunhou que fora John Paul Sr que o tinha baleado. A razão? Carson ajudava Paul Sr. nos seus negócios ilegais de contrabando e aceitava testemunhar contra ele no caso que o FBI tinha montado contra ele por fuga aos impostos e claro, tráfico de droga. John Paul Sr. foi detido, e quando pagou uma fiança para ser libertado... acabou por fugir para a Suíça. Acabou por ser detido pelas autoridades locais em janeiro de 1985, cumpriu pena de seis meses antes de ser extraditado para os Estados Unidos. O caso era sólido contra ele, e a 4 de junho de 1986, foi sentenciado a vinte anos de prisão, ais tarde alargado para 25. O seu filho, por não ter querido testemunhar contra o pai, apanhou cinco anos de pena, do qual cumpriu três.
A prisão não foi um lugar onde se acalmou. Pior: a 10 de março de 1987, tentou escapar da prisão de Lavenworth, no Kansas, com outro prisioneiro. Foi detido pelos guardas, que dispararam na sua direção para os intimidar, e conseguiram. Parecia que isso iria agravar a sentença, mas em julho de 1999, John Paul Sr consegue liberdade condicional, mais de dez anos depois do seu filho ter saído da prisão e voltado a correr na IMSA e na IndyCar Series.
Pouco depois de ter saído, John Paul Sr. conheceu Colleen Wood, uma empregada de escritório, e convenceu-a a vender tudo e a morar no seu barco na Florida. Tudo estava relativamente bem até que no final desse ano, Wood desapareceu, sem deixar rastro. A policia interrogou-o como "pessoa de interesse", e não houve qualquer acusação. Mas no inicio de 2001, John Paul Sr. pega no seu barco e desaparece sem deixar rastro, aparentemente tinha planos para dar a volta ao mundo, numa viagem que duraria cinco anos. Desde então, foi visto nas ilhas Fiji, na Tailândia e em Itália, aparentemente, depois de ter vendido o seu barco, mas o caso continua por resolver.
Se estiver vivo, John Paul Sr terá 81 anos e no seu palmarés terá vitórias em Sebring, Daytona e um quinto lugar em Le Mans, na edição de 1978, a bodo de um Porsche 935 da Dick Barbour Racing com o próprio Dick Barbour e o britânico Brian Redman.
Só para verem que no automobilismo, nem todos podem ser anjos. Mas a história quer dele, quer do filho, morto ontem aos 60 anos, sucumbindo à Doença de Huntington, poderia fazer parte de uma série da Netflix, ou se quisermos pensar no ambiente da época, de uma série como o Miami Vice. É que o automobilismo, a sua febre da velocidade e o custo que tem para manter uma competição destas, pode atrair gente... duvidosa.
1 comentário:
Ótima matéria. Parabéns.
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