terça-feira, 10 de agosto de 2021

A imagem do dia


Esta imagem é engraçada: Ayrton Senna a dar uma volta no circuito do Hungaroring, em 1986, a bordo de um Lada. Mais do que os acontecimentos da corrida, nomeadamente a ultrapassagem de Nelson Piquet ao próprio Senna, que deu a vitória ao piloto da Williams, esta imagem mostra o mundo que existia na altura, e de como uma pessoa queria correr naquilo que se chamava, então, da Cortina de Ferro. 

A Formula 1 sempre foi um desporto altamente tecnológico, do qual se gastaria dinheiro como se fosse a nova corrida às armas, e foi essencialmente, um desporto capitaliasta. Mas Bernie Ecclestone tinha o sonho de ver aqueles carros num circuito à volta da Praça Vermelha, onde passeavam os tanques e os misseis no 7 de novembro. Tentou algumas vezes, em 1980 e 81, junto do Politburo do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), mas os "velhos caquéticos" estavam mais preocupados com outras coisas do que acolher uma data de carros velozes. 

Mas Bernie não desistiu. O governo húngaro era o mais progressista dos que estavam do outro lado da Cortina de Ferro, numa espécie de comunismo "goulash", onde certos elementos capitalistas eram permitidos. E ter um Grande Prémio até seria um grande atrativo para quem o organizaria. E foi.

A 10 de agosto de 1986, trezentas mil pessoas estavam nos arredores de Budapeste para ver o primeiro Grande Premio, vindos de muitos lados como a Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia, Roménia ou a Alemanha Oriental, e alguns até vinham da Áustria ou Itália para ver a corrida num circuito que foi construído em menos e um ano. E apesar de ser sinuoso e lento - esteve sempre na corda bamba nos primeiros anos - a sua importância era demasiadamente grande para ser cortado. E foi por isso que se pode ver este tipo de imagens. Ainda antes da Cortina de Ferro passar à história.

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