Apesar de escrever muito, raramente coloco aqui colunas ou artigos de opinião, porque nem sempre há a oportunidade de o fazer, e também muito daquilo que escrevo tem já o meu cunho pessoal.
Mas hoje é diferente: desde há algum tempo que o Gustavo Coelho, do Blog F1 Grand Prix, está envolvido no projecto do Pit Stop, a secção automobilistica do site do Sidney Rezende, e aquilo tem uma coluna de opinião, que sem preodicidade definida, coloca lá artigos sobre o automobilismo em geral. O primeiro a escrever foi o Felipe Maciel, sobre o Felipe Massa, e hoje, foi a minha vez de colocar lá o meu artigo de opinião, que refere sobre as novas categorias do automobilismo, pouco dias depois da estreia de uma nova competição, a Formula Superleague.
O artigo está lá, mas decidi também coloca-lo aqui, na integra. Espero que seja o primeiro de muitos...
"No intervalo entre duas corridas do WTCC, espreitava noutro canal do meu burgo a corrida a novíssima Superleague Formula, que decorrida no circuito de Donnington Park debaixo de imensa chuva, e com o Safety Car a rolar atrás deles durante a maior parte do meu tempo de antena. Não é propriamente um início auspicioso, mas esta competição tinha uma particularidade, pelo menos no meu país: uma televisão de sinal aberto estava a transmitir uma corrida de automobilismo em directo, algo que não acontece há mais de dois anos!
O resultado é demais conhecido de todos vocês, mas comecei a pensar nesta nova tendência: o aparecimento das várias competições de automobilismo, paralelas à Formula 1. Uma realidade nova, com pouco mais de meia dúzia de anos, sustentada maioritariamente pela televisão.
Quando se viu que a fórmula mágica de Bernie Ecclestone para tornar a Formula 1 num dos desportos mais ricos e mais vistos do mundo tinha resultado, muitos foram aqueles que quiseram imitá-lo. E viam que o terreno estava fértil para isso, pois no inicio desta década, todas as competições organizadas pela FIA, fora do enquadramento da Formula 1, como o Mundial de Sport-Protótipos, ou de Turismos, tinham desaparecido. A notável excepção era o Mundial de Ralis, mas isto tinha a mais ver com o facto de ser disputada em estradas e não em circuitos. E se quisessem competir noutra categoria, teriam que atravessar o Atlântico para fazê-lo, na então CART, ou na IRL…
Contudo, desde então que surgiram várias competições paralelas, que tentam atrair pilotos que se perdem ao longo do percurso nas categorias de base, ou então pilotos recém-retirados da Formula 1. Sendo a categoria máxima um desporto verdadeiramente de elite (este ano só há vinte vagas), as outras categorias passaram a ser excelentes alternativas para pilotos e marcas. Mas teria que ter duascondições: garantias de transmissão televisiva, e não ser organizada pela FIA.
O primeiro dos casos é a Le Mans Séries. Organizada pela Automobile Club de L’Ouest (ACO) que para além de organizar as 24 Horas de Le Mans, detêm os direitos ao nome, começou a organizar desde 2002 dois campeonatos paralelos, um europeu e um americano, com protótipos e regulamentos iguais, no sentido de reavivar as corridas de Resistência, tão populares nas décadas de 50 até ao inicio da de 90, tentando trazer para si as marcas míticas do passado. Com o tempo, marcas como a Audi, a Peugeot e a Porsche, começaram a aparecer no pelotão, e provas como as 12 Horas de Sebring ou as próprias 24 Horas de Le Mans, voltaram a conhecer as glórias do passado. E outras provas mais pequenas, como os 1000 km de Monza ou de Spa-Francochamps, ganharam nova vida.
O segundo exemplo é mais novo, pois surgiu somente em 2005. Trata-se da A1GP, uma espécie de “Campeonato do Mundo de Automobilismo”, onde vários pilotos competem sob as suas bandeiras. Uma ideia do sheik árabe Makhtoum al Makhtoum, da mesma família real que está a erguer do zero uma nova cidade, o Dubai, e que teve como parceiro um notável homem de negócios sul-africano de origem portuguesa, António “Tony” Teixeira. De uma certa forma, é como regressar ao inicio do século XX, ao espirito da Taça Gordon Bennett, onde países como a Grã-Bretanha, Itália, Alemanha e França, construíam as suas máquinas, e disputavam entre si quem eram os melhores. Só que hoje em dia, têm todas máquinas iguais, onde os pilotos não competem sob uma base fixa (podem colocar os pilotos que quiserem durante o campeonato), e o que interessa é competir e ganhar pelo orgulho das nações em disputa. E não se admirem se virem o carro francês ao lado do carro da Malásia, ou o carro brasileiro ao lado do carro vindo do Paquistão, por exemplo…
No mesmo ano, um terceiro conceito de fórmula é o GP Masters, uma categoria que trazia os pilotos do passado, no sentido de competir uns contra os outros, fazendo reavivar nos saudosistas as lembranças das corridas da sua infância. O princípio é o mesmo da A1GP: uma categoria monomarca, uma Sprint Race e uma Feature Race, grelhas invertidas, e os nomes do passado, como Nigel Mansell, Emerson Fittipaldi, Riccardo Patrese ou Andrea de Cesaris, de volta, para recordar as disputas do passado.
Outro conceito importante é o calendário. Se o Le Mans Séries faz “concorrência” à Formula 1, mas tem poucas provas no calendário, as outras categorias decidiram apostar naquilo que se chama de “defeso”, ou seja, eles correm durante o Inverno europeu. Vão para o Médio Oriente e Ásia, um mercado em absoluta expansão, com corridas na China, Malásia, Bahrein e de futuro, na Índia. São mercados onde estão quase metade da população mundial (China e Índia juntos dão quase 2,5 mil milhões de pessoas), logo, um potencial de lucro quase infindável.
Tirando o caso da Le Mans Séries, todas elas (e esta nova Superleague Formula) são categorias monomarca, onde têm máquinas, motores e pneus iguais, e a única diferença é a maneira como os pilotos e mecânicos saibam afinar esses carros no fim de semana das corridas. E muitas vezes, para animar o público (e os espectadores), temos jornadas de duas corridas, com equilíbrios artificiais. O melhor caso é aquele que é seguido pela GP2: os oito primeiros da primeira corrida, têm a grelha invertida na segunda, para dar maior emoção e luta…
Mas como disse certo dia Lord Stanley, o mítico patrão da BRM, no inicio dos anos 70 “Para ganhar algum dinheiro no automobilismo, é preciso gastar muito mais”, os organizadores destas categorias, principalmente as monomarca, passaram por maus bocados. A GP Masters terminou em 2007, depois de ver canceladas as provas desse ano e disputas entre o organizador e o fornecedor de chassis e motores. Em princípio, poderá voltar em 2009, agora sobre o nome de Formula Masters, mas nada é garantido. A A1GP teve prejuízos de 200 milhões de dólares só no primeiro ano, e atraiu pouca ou nenhuma publicidade. O Sheik Makhtoum, que dava a cara pelo projecto, saiu em 2006, e desde então é Tony Teixeira que segura o barco. Os bons resultados dos anos seguintes, para além do acordo de fornecimento à Ferrari, indicavam que o projecto estava a caminhar em passos sólidos, mas o adiamento da jornada inicial deste ano em duas semanas, em conjunto com rumores de que apenas 16 das 25 equipas tinham confirmado a sua participação, colocou algumas nuvens negras sobre a categoria.
Com isto tudo, será que a Superleague Formula será bem sucedida, só porque aliou automobilismo ao futebol? Isso, só o futuro responderá. E a história tem largos exemplos de grandes sucessos e espectaculares fracassos…"
O resultado é demais conhecido de todos vocês, mas comecei a pensar nesta nova tendência: o aparecimento das várias competições de automobilismo, paralelas à Formula 1. Uma realidade nova, com pouco mais de meia dúzia de anos, sustentada maioritariamente pela televisão.
Quando se viu que a fórmula mágica de Bernie Ecclestone para tornar a Formula 1 num dos desportos mais ricos e mais vistos do mundo tinha resultado, muitos foram aqueles que quiseram imitá-lo. E viam que o terreno estava fértil para isso, pois no inicio desta década, todas as competições organizadas pela FIA, fora do enquadramento da Formula 1, como o Mundial de Sport-Protótipos, ou de Turismos, tinham desaparecido. A notável excepção era o Mundial de Ralis, mas isto tinha a mais ver com o facto de ser disputada em estradas e não em circuitos. E se quisessem competir noutra categoria, teriam que atravessar o Atlântico para fazê-lo, na então CART, ou na IRL…
Contudo, desde então que surgiram várias competições paralelas, que tentam atrair pilotos que se perdem ao longo do percurso nas categorias de base, ou então pilotos recém-retirados da Formula 1. Sendo a categoria máxima um desporto verdadeiramente de elite (este ano só há vinte vagas), as outras categorias passaram a ser excelentes alternativas para pilotos e marcas. Mas teria que ter duascondições: garantias de transmissão televisiva, e não ser organizada pela FIA.
O primeiro dos casos é a Le Mans Séries. Organizada pela Automobile Club de L’Ouest (ACO) que para além de organizar as 24 Horas de Le Mans, detêm os direitos ao nome, começou a organizar desde 2002 dois campeonatos paralelos, um europeu e um americano, com protótipos e regulamentos iguais, no sentido de reavivar as corridas de Resistência, tão populares nas décadas de 50 até ao inicio da de 90, tentando trazer para si as marcas míticas do passado. Com o tempo, marcas como a Audi, a Peugeot e a Porsche, começaram a aparecer no pelotão, e provas como as 12 Horas de Sebring ou as próprias 24 Horas de Le Mans, voltaram a conhecer as glórias do passado. E outras provas mais pequenas, como os 1000 km de Monza ou de Spa-Francochamps, ganharam nova vida.
O segundo exemplo é mais novo, pois surgiu somente em 2005. Trata-se da A1GP, uma espécie de “Campeonato do Mundo de Automobilismo”, onde vários pilotos competem sob as suas bandeiras. Uma ideia do sheik árabe Makhtoum al Makhtoum, da mesma família real que está a erguer do zero uma nova cidade, o Dubai, e que teve como parceiro um notável homem de negócios sul-africano de origem portuguesa, António “Tony” Teixeira. De uma certa forma, é como regressar ao inicio do século XX, ao espirito da Taça Gordon Bennett, onde países como a Grã-Bretanha, Itália, Alemanha e França, construíam as suas máquinas, e disputavam entre si quem eram os melhores. Só que hoje em dia, têm todas máquinas iguais, onde os pilotos não competem sob uma base fixa (podem colocar os pilotos que quiserem durante o campeonato), e o que interessa é competir e ganhar pelo orgulho das nações em disputa. E não se admirem se virem o carro francês ao lado do carro da Malásia, ou o carro brasileiro ao lado do carro vindo do Paquistão, por exemplo…
No mesmo ano, um terceiro conceito de fórmula é o GP Masters, uma categoria que trazia os pilotos do passado, no sentido de competir uns contra os outros, fazendo reavivar nos saudosistas as lembranças das corridas da sua infância. O princípio é o mesmo da A1GP: uma categoria monomarca, uma Sprint Race e uma Feature Race, grelhas invertidas, e os nomes do passado, como Nigel Mansell, Emerson Fittipaldi, Riccardo Patrese ou Andrea de Cesaris, de volta, para recordar as disputas do passado.
Outro conceito importante é o calendário. Se o Le Mans Séries faz “concorrência” à Formula 1, mas tem poucas provas no calendário, as outras categorias decidiram apostar naquilo que se chama de “defeso”, ou seja, eles correm durante o Inverno europeu. Vão para o Médio Oriente e Ásia, um mercado em absoluta expansão, com corridas na China, Malásia, Bahrein e de futuro, na Índia. São mercados onde estão quase metade da população mundial (China e Índia juntos dão quase 2,5 mil milhões de pessoas), logo, um potencial de lucro quase infindável.
Tirando o caso da Le Mans Séries, todas elas (e esta nova Superleague Formula) são categorias monomarca, onde têm máquinas, motores e pneus iguais, e a única diferença é a maneira como os pilotos e mecânicos saibam afinar esses carros no fim de semana das corridas. E muitas vezes, para animar o público (e os espectadores), temos jornadas de duas corridas, com equilíbrios artificiais. O melhor caso é aquele que é seguido pela GP2: os oito primeiros da primeira corrida, têm a grelha invertida na segunda, para dar maior emoção e luta…
Mas como disse certo dia Lord Stanley, o mítico patrão da BRM, no inicio dos anos 70 “Para ganhar algum dinheiro no automobilismo, é preciso gastar muito mais”, os organizadores destas categorias, principalmente as monomarca, passaram por maus bocados. A GP Masters terminou em 2007, depois de ver canceladas as provas desse ano e disputas entre o organizador e o fornecedor de chassis e motores. Em princípio, poderá voltar em 2009, agora sobre o nome de Formula Masters, mas nada é garantido. A A1GP teve prejuízos de 200 milhões de dólares só no primeiro ano, e atraiu pouca ou nenhuma publicidade. O Sheik Makhtoum, que dava a cara pelo projecto, saiu em 2006, e desde então é Tony Teixeira que segura o barco. Os bons resultados dos anos seguintes, para além do acordo de fornecimento à Ferrari, indicavam que o projecto estava a caminhar em passos sólidos, mas o adiamento da jornada inicial deste ano em duas semanas, em conjunto com rumores de que apenas 16 das 25 equipas tinham confirmado a sua participação, colocou algumas nuvens negras sobre a categoria.
Com isto tudo, será que a Superleague Formula será bem sucedida, só porque aliou automobilismo ao futebol? Isso, só o futuro responderá. E a história tem largos exemplos de grandes sucessos e espectaculares fracassos…"
1 comentário:
É isso aí, Speeder, valeu pela colaboração! Vai ser o primeiro de muitos sim, com certeza.
Grande abraço!
Gustavo Coelho
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