Estas duas fotos estão separadas exactamente por um ano de diferença. A primeira foto mostra John Watson, então no seu segundo Grande Prémio da sua carreira (e com a barba que o iria cortar quando venceu o GP da Austria de 1976), e a segundo mostra um Mike Wilds descontraído, sentado no carro de Helmuth Koinigg, poucos minutos antes da partida do GP dos Estados Unidos, que era disputado no circuito de Watkins Glen. São estados de espírito diferentes, mas ambos tem algo em comum: John Watson acabara de saber da morte de Francois Cevért, enquanto que na outra foto, o piloto que está sentado no cockpit do seu Surtees terá mais alguns minutos de vida.
No final daquele dia, provavelmente, Wilds deve ter recordado aqueles minutos ao sol, trocando umas palavras com o jovem "rookie", julgando que ainda se iriam ver no final da corrida. Apostamos que estado de espírito não deve ter fugido ao de Watson, um ano antes: mergulhado numa amarga e profunda tristeza, sabendo que não mais o verá vivo, e provavelmente reflectindo naquela ténue linha vermelha que separa o triunfo da tragédia.
O automobilismo daquele tempo poderia ser mais autêntico, mas também era um tempo onde os pilotos sofriam com as desgraças alheias, pois tinham a consiência de que os próximos a morrer poderiam ser eles.
3 comentários:
vc que é um cara antenado...
dá uma olhada nisso, Paulo...
http://blogsportbrasil.blogspot.com/2009/10/oi-sou-nico-rosberg-e-perdi-meu.html
e ve se aparece...
uahuhauhauha
abração
se a gente pudesse traçar uma linha de base para medir os nossos momentos , seríam poucos os de verdadeira reflexão, e estariam fora da normalidade. então, podemos dividir o noss tempo em espaços entre dois instantes de introspecção... é isso o que vocé faz com Watson, o coloca entre dois momentos de verdadeiro conhecimento.
lembro que li em alguma parte que é a posibilidade de morte que coloca a nossa vida em perpectiva, e se for desse jeito, correr a 300 km/hr é uma viajem introspectiva. para watson, voltar a essa epifania pode ter sido refrescante.
afinal de contas, acho que cuase ninguém entra no automovilismo na procura de rotina... corrigindo a marx, a rotina é o opio dos povos.
Felipão:
Já apareci por lá e vi o video. Nâo ficaria surpreendido que aquilo seja um passatempo do Nico para colocar alguns fãs no paddock da Williams em Interlagos...
Luis:
Concordo com o que dizes na última frase: ninguém entra nisto do automobilismo para encontrar um trabalho. É mais uma missão, ou uma vocação, como os cavaleiros ou os frades. Muitas das vezes, olho para aqueles pilotos como os samurais do Japão no tempo dos "shoguns": lutando e morrendo pelo seu senhor, por aquele ao qual devem uma lealdade quase canina. Mas quando olho para os samurais, não é por essa lealdade. É porque sabem que vão morrer.
Aquela frase do Bruce McLaren, que tenho em cima do blog diz tudo: a vida é medida por realizações e não por anos. Se vivesse nesse tempo e soubesse que tinha o destino traçado, ao menos faria os possiveis para deixar uma marca em termos de resultados. E acho que todos eles pensavam assim.
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