domingo, 4 de outubro de 2009

GP Memória - Estados Unidos 1964

Um mês depois de Monza, a Formula 1 cumpria a primeira de duas etapas em solo norte-americano, a primeira das quais no pequeno circuito de Watkins Glen, cujo perímetro de 3780 metros era o suficiente para que se organizasse uma corrida que durava... 110 voltas à pista.


Com a vitória de John Surtees em Monza, de repente, as suas chances de conquistar o título mundial tinham aumentado consideravelmente. Com os 28 pontos que detinha, mais as três vitórias, duas delas nas últimas três corridas, estava a somente quatro pontos do lider, o BRM de Graham Hill, que tinha somente uma vitória. Jim Clark era segundo, com 30 pontos, mas tinha três vitórias. Quanto à Ferrari, com três vitórias consecutivas pois o segundo piloto da equipa, Lorenzo Bandini, tinha ganho na Austria, a hipótese de vencer o título de Construtores era bem real.

Mas em Watkins Glen, os carros da marca do Cavalino Rampante estavam pintados... a azul e branco. Como na altura os carros tinham de estar decorados de acordo com as cores nacionais, estas eram as cores da North American Racing Team (NART), do seu grande amigo Luigi Chinetti, há muito radicado nos Estados Unidos. A razão era simples: Enzo Ferrari estava em conflito com a Federação Italiana de Automobilismo, que não lhe queria homologar o seu modelo 250LM. Para demonstrar que o seu protesto era sério, decidiu alinhar os seus carros com as cores americanas para Surtees e Bandini.


A corrida norte-americana era o palco ideal para a entrada de uns quantos pilotos locais. Neste caso, era três os inscritos: Hap Sharp, num Cooper da Rob Walker Racing; Walt Hansgen, no terceiro Lotus oficial, ao lado de Jim Clark e Mike Spence, e A.J. Foyt, no terceiro BRM, ao lado de Graham Hill e Richie Ginther. Contudo, Foyt, que nesta altura já era um dos melhores pilotos americanos e tinha ganho duas edições das 500 Milhas de Indianápolis, recusou alinhar.
A equipa oficial da Lotus alinhava com os novos modelos 33, enquanto que os privados ficavam com os modelos 25. Era o caso de Reg Parnell, que tinha os seus pilotos, Mike Hailwood e Chris Amon, com esses modelos. Na Brabham, Jack Brabham e Dan Gurney corriam na equipa oficial, enquanto que Rob Walker alinhava outros dois, para o suiço Jo Siffert e o sueco Jo Bonnier. A Cooper tinha dois carros, para Phil Hill e Bruce McLaren, e a BRP tinha Trevor Taylor e Innes Ireland. Para finalizar, a neófita Honda alinhava o seu unico carro com Ronnie Bucknum ao volante.


Os treinos decorrem normalmente, mas Clark tinha problemas de fiabilidade com o modelo 33, logo foi buscar um 25 de reserva, e foi com ele que fez o melhor tempo das sessões de qualificação. Como se sentia mais confiante com ele, iria alinhar na corrida com ele. Ao seu lado estavam o Ferrari de John Surtees e o Brabham de Dan Gurney. Na segunda fila estavam o BRM de Graham Hill e o Cooper-Climax de Bruce McLaren. Na terceira fila estavam o segundo Lotus de Mike Spence, o carro de Jack Brabham e o segundo Ferrari de Lorenzo Bandini. Para fechar o "top ten" estavam o Brabham privado de Jo Bonnier e o BRP de Innes Ireland.

No dia da corrida, perante 65 mil espectadores, e um tempo ameno, a corrida começa com Surtees a largar melhor do que Clark, enquanto que este é superado pelo seu companheiro Spence na luta pelo segundo posto. Graham Hill é quarto, com Brabham e Ireland logo atrás. Gurney caiu de terceiro para sétimo, mas recupera dois lugares pouco depois.

Pouco depois, é a vez de Hill a superar os dois pilotos da Lotus e ficar com o segundo posto, mas Clark começa então a reagir, passando Spence, Hill e no final da volta 14 já tinha superado Surtees para ficar com a liderança da corrida. Quando assim o fez, começou a distanciar-se do seu compatriota da Ferrari, dando indicação de que queria vencer esta corrida e marcar posição na luta pela revalidação do seu título mundial.

Contudo, na volta 40, o Lotus de Clark começa a arder devido a problemas no tubo de injecção de combustivel, e aos poucos, os seus adversários aproximam-se e o ultrapassam. Na volta 44, quando é obrigado a parar nas boxes, Clark já tinha sido ultrapassado por Surtees, Hill e Gurney. Clark perdeu imenso tempo para ajustar o tubo de injecção de combustivel e voltou à pista na penultima posição. Passadas seis voltas, Clark voltava à corrida, mas esta durou outras seis voltas, até que Chapman decidiu chamar Mike Spence, que estava na quarta posição, para que este trocasse de lugar com Clark. Spence continuou, mas desistiu ao fim de seis voltas.

O escocês continuou na corrida, irremediavelmente atrasado, enquanto que na frente, Graham Hill tinha alcançado a liderança na volta 45, depois de ultrapassar o Ferrari de Surtees. Ambos mantiveram uma dura batalha pela liderança, enquanto que Clark, de volta à acção mas sem poder marcar pontos, fazia uma corrida somente para prejudicar as aspirações dos seus rivais. Já tinha apanhado Gurney (antes deste desistir, na volta 69, com um motor partido) e estava a alcançar Hill, ao ritmo de um segundo por volta, pois Surtees tinha se atrasado devido a um pião.


Tudo indicava que iria haver luta pela liderança, mas a poucas voltas do fim, o Lotus começou a engasgar-se, sinal de que o combustivel no depósito tinha chegado ao fim. No final, Clark tinha feito 102 voltas, o suficiente para ser classificado na sétima posição... no carro que à partida era de Spence. Quem herdou o seu lugar foi um inesperado Jo Siffert, que com o seu Brabham de Rob Walker, conseguia o primeiro pódio da sua carreira.


No final da corrida, Graham Hill alcançava a segunda vitória do ano, e a segunda consecutiva em Watkins Glen. John Surtees era segundo, mantendo as suas aspirações ao título, tal como Hill. Jo Siffert era o terceiro, a uma volta de Hill e nos restantes lugares pontuáveis ficaram o segundo BRM de Richie Ginther, a três voltas do vencedor, o Lotus de Walter Hansgen, na unica vez que pontuou na sua carreira, e o BRP de Trevor Taylor, que ficou a quatro voltas. Quando faltava apenas a corrida da Cidade do México para disputar, Hill continuava lider e as hipóteses de Clark renovar o título eram minimas. Assim, Surtees poderia dar-se ao luxo de pontuar sem problemas, enquanto que Hill tinha de deitar fora pelo menos cinco pontos. Aqui, a regularidade era penalizada...


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