A ABOLIÇÃO DE UMA LEI RESTRITIVA
Em 1896, quando Estados Unidos e França começavam a ter corridas de automóveis, na Grã-Bretanha lutava-se para abolir uma lei que impedia os automobilistas... de circular. O "Locomotive Act" de 1865, aprovado pela Câmara dos Comuns (na realidade, foram três leis aprovadas e ajustadas em 1861, 1865 e 1878), impedia os donos de "carruagens sem cavalos" a andar acima dos quarto quilómetros por hora, ou se preferirem... a velocidade de uma pessoa a passo. A razão pela aprovação da lei, na altura, tinha a ver com as primeiras carruagens a vapor, que serviam como substitutos das diligências. A velocidade que essas carruagens andavam era cada vez mais alta e já provocava acidentes entre os pedestres e assustava os cavalos.
A Lei de 1865 foi de todas a mais restritiva, pois obrigava a que todas essas carruagens sem cavalos a ter uma pessoa a agitar uma bandeira vermelha para avisar da sua presença, para além das restrições draconianas em termos de velocidade. A presença da pessoa foi abolida em 1878, quando a lei foi revista.
Contudo, durante a década de 90 do século XIX, o "lobby" para a abolição - ou modificação da lei - foi cada vez mais forte até que a 15 de outubro de 1895, o presidente da câmara de Tunbridge Wells, Sir David Salomons, e um notório entusiasta dos automóveis, organizou uma exposição nos terrenos da sociedade local de agricultura. Contudo, o solo estava emlameado pela chuva, e o "mayor" decidiu levar os carros para o centro da cidade, acima do limite imposto. Sir David contou depois que "nem um dos cavalos que cruzamos sequer desviou o olhar à medida que passavam por eles esses veículos sem cavalos".
Isso foi o inicio de um movimento que incluiu outros entusiastas como Harry John Lawson, que decidiu fazer uma companhia, a British Motor Syndicate Limited, Frederck Simms, (na imagem, a demonstrar o primeiro veículo armado do mundo) que tinha nascido na Alemanha e se tinha tornado entusiasta dos automóveis quando conheceu em 1890 Gottfried Daimler, e depois se tornou no seu representante na Grã-Bretanha, e Henry Sturmey, engenheiro e jornalista, que em novembro de 1895 decidiu fundar a primeira - e hoje a mais antiga a funcionar ininterruptamente - revista de automoveis: The Autocar.
Simms tinha um amigo, Evelyn Ellis, filho do Barão Howard de Walden, que tinha ligações à família real. Fez amizade com o então Príncipe de Gales, o futuro Eduardo VII, e adquiriu um dos Panhard e Levassor que tinha feito a corrida entre Paris e Bordéus, em 1895. Apesar dos receios iniciais - "Evelyn, não guies tão depressa, tenho medo!", o príncipe gostou muito da novidade que acordou mais tarde ser o patrono do primeiro Salão Automovel britânico. Ellis levou o Panhard para várias localidades britânicas, violando abertamente a lei, mas não conseguiu encontrar nenhum agente da autoridade para o mandar parar.
Assim sendo, o "lobby" ficou forte o suficiente para que a lei fosse abolida. Apesar das discussões terem começado ainda em 1895, foi apenas quando foi eleito um novo governo, no final desse ano, que a lei voltou a ser discutida, e a 14 de novembro de 1896, foi aprovado o "Locomotives on Highways Act", onde aumentava o limite de velocidade em estrada para os 22 quilómetros por hora.
A medida foi celebrada com entusiasmo e os seus adeptos queriam comemorar... com uma corrida. Na realidade, foi algo mais parecido com o que aconteceu em 1894 entre Paris e Rouen, mas desta vez entre Londres e Brighton. Organizada por Harry John Lawson, alinharam 33 carros, a grande maioria dos quais franceses. concentraram-se no Central Hall de Westminster, e mesmo não sendo uma corrida no sentido mais puro, os carros Bollée, guiados pelos irmãos Bollée, foram o primeiro e segundo classificados.
O aumento do limite de velocidade iria ter consequências: não só nascia a industria automotiva britânica, e a Grã-Bretanha entrava no jogo As consequências seriam enormes.
(continua no próximo episódio)
(continua no próximo episódio)
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