"Ando a seguir com atenção a “guerra surda” e a polémica acerca dos novos motores V6 Turbo, de 1.6 litros. Ao longo do fim de semana australiano, li e ouvi muita gente a comentar sobre o barulho desses motores, e muitos disseram que estavam insatisfeitos, afirmando, entre outras coisas, que estavam a ouvir “cortadores de relva” e “aspiradores de pó”. E claro, esses belos “soundbytes” tornaram-se num excelente pretexto para que Bernie Ecclestone abrisse a boca e dissesse a sua opinião sobre o barulho dos novos motores Turbo, ele que foi sempre um critico e sempre foi contra esta mudança.
A diferença é “gritante”? Claro que é. Mas acho muito estranho, sabem? Sabia-se há muito tempo que estes iriam ser os motores a partir de 2014, e desde o final do ano que os sons desses motores foram divulgados ao público pelas marcas. Mas francamente, nunca vi tamanho “amor” pelos roncos dos V8 como agora. Sabem porque digo isso? Porque quando esses mesmos motores V8 foram introduzidos, em 2006, não foram recebidos de braços abertos. Bem pelo contrário: houve muitos que disseram que “era o fim da Formula 1”. Como sabem, ela sobreviveu e prosperou. É por isso que digo que tudo isto é estéril, e só ajudam à propaganda de Bernie Ecclestone, que está a apontar baterias a Jean Todt, numa crescente guerra surda entre ambos, pelo motivo do costume: dinheiro. (...)
(...) deixem contar uma coisa, que por agora, apenas os jornalistas especializados contam: se reclamam do ruído, esquecem-se que estes motores irão fazer estes carros bem mais velozes. Com os novos V6, os carros atingirão em linha reta, em sítios como Monza, velocidades semelhantes ao tempo dos V10: 370 km/hora. Poderemos não ver agora, pois todo o seu conjunto ainda não atingiu o ponto de equilíbrio, mais quando os engenheiros conseguirem resolver os “problemas de juventude” dos bólidos, os tempos por volta irão baixar.
Eu vou dizer-vos uma segunda coisa. O sonho de Bernie (concretizado pela sua “toupeira” Max Mosley) foi o de ter a Formula 1 nas suas mãos. Ele o conseguiu apenas por “estar ali”, porque como sabem, os construtores puxam a brasa à sua sardinha e cada um têm a sua agenda, especialmente a Ferrari. E como ele reina em casa dividida, pode fazer o que quiser: estabelecer os preços aos proprietários dos circuitos, às cadeias de televisão, às companhias. O único local onde não controla diretamente é a FIA e como sabem, em 1980 e 81, tentou separar-se dela, criando o seu próprio campeonato. Como falhou nessa parte, porque do outro lado havia um opositor formidável chamado Jean-Marie Balestre, decidiu que o melhor seria aliar-se. Daí a existência do Pacto (ou Acordo) de Concórdia.
E também gostava que entendessem uma terceira coisa, esta se calhar mais importante do que as duas anteriores: tudo o que Bernie Ecclestone sempre falou, fala e falará neste momento, todos os seus "soundbytes", para além de alimentar uma guerra surda com o presidente da FIA, também é uma tentativa de desviar a atenção de um belo abacaxi que têm nas mãos: o julgamento por suborno (o caso Gribowsky) do qual vai começar a ser ouvido, como réu, no mês que vêm, na Alemanha. Não se esqueçam disto, também: as acusações contra ele são graves e as possibilidades de ele ser condenado são elevadas. (...)
Este mês, no site Nobres do Grid, tento explicar as razões pelos quais Bernie Ecclestone alimenta mais uma polémica com Jean Todt. Poder, dinheiro e controle são essencialmente os motivos pelos quais existe toda esta guerra sobre o "barulho dos motores", que não é mais do que uma justificação e um motivo pelo qual ele quer entrar em guerra do a FIA e porque anda a alimentar a ideia de uma separação - ou uma cisão - e criar a sua própria Formula 1, com Luca di Montezemolo como seu aliado oportuno - na realidade, uma maneira da Ferrari ter as regras feitas à sua medida - dado que só assim que têm hipóteses de vitória, já que na pista, Fernando Alonso comemora oitavos lugares, como vimos este domingo, no Bahrein...
Tudo isto e muito mais podem ler neste link.
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