Se nas semanas antes, quem acompanhava a polémica do barulho dos motores sabia que por trás disso era uma luta pelo poder - e sobre o qual não deixei de avisar por estas bandas - esta semana, depois do GP do Bahrein, as coisas se tornaram bem mais claras: Bernie Ecclestone e Jean Todt estão em guerra aberta. Os motores podem ser um pretexto, mas na realidade, é uma luta pelo poder de controlar a Formula 1. E a luta é de tal forma forte que os rumores de separação se tornaram nos últimos dias cada vez mais fortes.
Agora têm a ver com o teto orçamental de 150 milhões de euros que Todt quer impôr às equipas, e do qual Ecclestone está a usar isso para manipular as principais equipas - Ferrari, McLaren, Red Bull - que gastam o dobro para tentar andar entre os da frente. Ecclestone respondeu à sugestão de Todt convencendo essas equipas para recusar a proposta, o que deixou zangado, mas preferiu não responder a quente.
Para piorar as coisas, no Bahrein, outro dos protagonistas foi Luca di Montezemolo. Cada vez mais insatisfeito por saber que vai estar mais um ano sem lutar verdadeiramente pelo título mundial - dado que os motores Mercedes mostram cada vez mais serem os melhores do pelotão, o patrão da Ferrari partiu para a critica, chamando a Formula 1 de "taxistas" e criticando fortemente o barulho dos motores e a poupança de combustível:
“A Formula 1 nunca deveria ser uma competição de poupança de gasolina e de pneus, pois o DNA da Formula 1 impõe que se ande sempre nos limites, que se ataque de principio a fim, e ninguém pode fazer isso com o regulamento actual.” Verdade, Montezemolo, mas quem o dará razão serão aqueles que têm memória curta...
Mas estas declarações fizeram tirar Jean Todt do sério. Criticando fortemente o seu ex-patrão, o presidente da FIA declarou: “Antes de falar, Montezemolo fazia melhor em falar com os seus engenheiros, pois sempre se poupou combustível na Formula 1 – quantas vezes nos últimos anos ouvimos os engenheiros a darem essa instrução aos se corria com os V8?
Nunca ouvi um diretor dum filme e o seu ator principal falarem mal da sua obra em público, pois isso desencorajaria os espectadores de irem assistir ao filme, mas espanta-me que os principais interessados em que a Formula 1 seja um sucesso comercial continuem a criticar a nova Formula 1, quando, do meu ponto de vista, os novos motores e os novos regulamentos são exatamente aquilo que a Formula 1 deveria ser.”
E o que todos dizem é verdade. Segundo contava Joe Saward num post que escreveu no fim de semana barenita, os novos motores V6, os tais que não fazem barulho nenhum, têm a mesma potência dos V8, mas conseguem economizar cerca de 35 por cento do seu combustível, o que é um feito nos dias de hoje. Contudo, a luta de poder continua, e está a ser usado para várias matérias. Uma delas é a entrada de equipas para 2015. Fala-se muito que Gene Haas poderá ter sido a equipa escolhida, mas quem fez o anuncio foi... Bernie Ecclestone.
Ora, o processo de candidaturas e a sua escolha é da parte da FIA, e toda a gente sabe que, nos bastidores, ter um chassis e um motor pronto em menos de oito meses é uma tarefa praticamente impossível. E inicialmente, Ecclestone era contra a ideia. Para haver um volte-face deste tipo por parte do patrão da Formula 1, a unica justificativa têm a ver com a ideia de uma arma de arremesso para Todt, no sentido de minar o seu poder. É que neste momento, a FIA não anunciou a entrada de nenhuma equipa, nem disse quando será a sua entrada, apesar de Gene Haas estar muito confiante de que a licença será dele.
Mas no final, mais do que uma "luta pelo poder", também é uma maneira de expiar pelos "pecados cometidos". Montezemolo, que vê a Ferrari a arrastar-se na pista - viram o Alonso a comemorar um nono lugar? - e Ecclestone, que a partir do dia 24 de abril, será julgado em Munique por acusações de suborno no famoso "caso Gribowsky", e onde apesar da sua idade, pode não se safar de uma pena de prisão. E Todt sabe disso tudo, preferindo jogar na sombra, com o tempo a seu favor.
3 comentários:
Estou com o Bernie nesta.
Ou é a maior categoria, gasta-se o que que se pode e corre-se o quando é possível, ou vai virar várzea.
Por mais estranho que pareça, prefiro dar razão ao Bernie também. Sem ele, a F1 não seria metade do que é hoje.
Incompetência técnica e esportiva resolve-se com politicagem. Se a FIA não tivesse mandado a pirelli fazer pneus p/carros da Red Bull em 2013 estaria mais confortável agora. Ninguém ali vale 100 gramas do quê o gato enterra, mas estou achando o máximo ver as máscaras caindo.
Abs.
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