terça-feira, 16 de janeiro de 2018

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Nestes posts em homenagem a Dan Gurney, falecido este domingo aos 86 anos, que irei colocar ao longo desta semana, era inevitável falar sobre a sua vitória nas 24 horas de Le Mans de 1967, ao volante do Ford GT40, ao lado de A.J. Foyt, outra lenda americana do automobilismo, quatro vezes vencedor das 500 Milhas de Indianápolis.

Entre 1966 e 69, o Ford GT40 foi o carro dominador da clássica da Endurance, e depois de Bruce McLaren e Chris Amon terem sido os vencedores da edição anterior, com uma chegada muito polémica (a chegada cerimonial fez com que Bruce McLaren e Chris Amon fossem os vencedores em detrimento de Dennis Hulme e Ken Miles...), em 1967, Henry Ford II queria uma vitória "all american". Com Mário Andretti entre os presentes, Gurney e Foyt alinharam-se no carro numero 1 para ver se conseguiam ter uma chance de vitoria nesta corrida longa de Endurance. Que não foi pacífica, diga-se de passagem.

Primeiro que tudo, Foyt. Vencedor em Indianápolis e um dos maiores pilotos de então, odiou a sua passagem por Le Mans. Chamou-o de "galinheiro", entre outras coisas - foi por isso que nunca tentou a Formula 1, ao contrário de Bobby Unser, por exemplo - e por causa disso, o seu companheiro de equipa, Dan Gurney, decidiu ser prudente, com a ideia de levar o carro até ao fim.

Escrevi sobre essa aventura em junho do ano passado, quando passaram 50 anos sobre a vitória de ambos em La Sarte, e nessa altura, Gurney falou sobre a corrida destes modos:

"A ideia de que tínhamos sido votados como a dupla menos provável de ter sucesso foi ainda mais uma razão para desenvolver nossa estratégia", observou Gurney numa entrevista à Motorsport em 2013. "Na verdade, eu disse para mim mesmo: 'não irei puxar muito este carro'. A corrida de 1967 foi a minha décima tentativa, e acho que, pela primeira vez, fomos como se fosse um concurso de resistência ao invés de uma corrida [de pedal a fundo]"

"O calcanhar de Aquiles era o fato de que o carro ser muito pesado", observou Dan. "Foi-nos dito que tinha mais de 3000 libras, embora a ficha especificasse que pesava 2600 libras. Tinha quase 500 cavalos de potência e ultrapassou as 330 quilómetros por hora em Mulsanne e quando você chegava à volta de 90 graus no final da linha reta [Arnage], levava uma travagem séria. Se você tomasse uma tática de qualificação ou sprint, você destruiria os travões. Eles teriam desaparecido numa hora e você teria que os substituír."

"A única maneira era travar mais cedo, provavelmente mais de 50 metros antes, e fazê-lo suavemente. Eu não metia qualquer marcha até que o carro tivesse abrandado talvez 80 km/hora apenas através de arrasto. Então eu aplicava os travões e metia a marcha normalmente. Essa técnica poupava nos travões."

"A.J. não queria se envolver no set-up do carro. Ele dizia: 'Faz isso'. Então eu trabalhei com Ron Butler, nosso mecânico-chefe e o carro estava bom. Trabalhei no spoiler traseiro, o que foi bastante crítico. Você queria apenas apertar o suficiente para torná-lo plano através da torção, sem perder muita velocidade direta. Finalmente, acabou por ficar tudo bom, com uns ajustes aqui e ali", concluiu Gurney.

A tática funcionou bem, e no final, aquela vitória "all american" tornou-se na primeira grande vitória americana desde Jimmy Murphy, quando venceu em 1921 a bordo do seu Dusenberg. E uma semana depois, Gurney iria voltar a repetir o mesmo feito quando levou o seu Eagle à vitória no GP da Bélgica, em Spa-Francochamps. 

Quanto ao champanhe, Gurney disse que a ideia surgiu quando viu Shelby, Ford e as suas esposas. "Nós estávamos lá no pódio e eles nos entregaram uma garrafa de champanhe. Os fotógrafos abaixo de nós estavam olhando com expectativa e a coisa clicou. Eu pensei: 'Como eles também podem participar disso?' Eu pensei: 'Por que não?' E usei o champanhe como uma mangueira para pulverizar os fotógrafos. Eu acho que eu também consegui Henry e Mrs Ford! Ela não achou que fosse tão engraçado quanto o resto de nós. Foi um espetáculo do momento, uma dessas coisas que não acontecem muitas vezes na vida", contou Gurney.

A garrafa, vazia (cujo desenho que coloco aqui é da autoria do Ricardo Santos) acabou nas mãos de um fotógrafo da Life, Flip Schulke, que o guardou por muitos anos, como... suporte de lâmpada, até ao dia em que devolveu a Gurney. Hoje em dia, está na casa dele, como objeto de memorabilia desse dia e da sua carreira. E de como começou uma tradição, que é continuada nos dias de hoje e não tem tendência para acabar tão cedo. 

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