terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

No Nobres do Grid deste mês...

(...) "chegamos a 2018 a pensar nisto: um passado distante está a chegar ao fim. Aquele tempo heróico do qual falava os nossos pais e do qual líamos nos livros e jornais da especialidade. O tal passado onde o perigo estava mesmo à espreita, e um erro normalmente custava a vida. Onde um piloto corria o risco de um acidente mortal a cada sete anos da sua carreira, e de onde muito poucos sobreviviam incólumes.

Aliás, foi por causa de acidentes que ambos se retiraram. Gurney decidiu pendurar o capacete pouco depois de a McLaren lhe ter pedido para substituir seu amigo e fundador da marca, Bruce McLaren, depois do seu acidente fatal, a 2 de junho de 1970. Gurney fez três corridas na Formula 1 e mais algumas na Can-Am, e ele, aos 39 anos, e bem-sucedido nos Estados Unidos com a sua Eagle, começou certo dia, no fim de semana do GP da Holanda de 1970, a contar todos os amigos que tinham morrido em acidentes. A conversa, contada anos depois por Tyler Alexander, mostrava a todos que ele pretendia ir embora assim que pudesse. No dia seguinte. Piers Courage teve o seu acidente fatal, e um mês mais tarde, após o GP britânico, Gurney pendurava o capacete de vez.

Oito anos antes, em 1962, no circuito de Goodwood, no Lavant Trophy, realizado no dia a seguir à Páscoa, Moss sofreu um acidente grave no seu Lotus 24, que o obrigou a ficar de fora do inicio do campeonato daquele ano. Não era a primeira vez que Mossa tinha sofrido acidentes desses – um deles, em 1960, em Spa-Francochamps, também colocou fora de combate por algumas semanas – mas aos 33 anos, achou, depois da recuperação e uma série de testes, que tinha perdido a vontade de correr. E foi por isso que pendurou o capacete nesse mesmo ano de 1962, assim que surgiu pilotos como Jim Clark e Graham Hill. E o próprio Dan Gurney, que nessa temporada iria dar à Porsche a sua única vitória na Formula 1."

No passado dia 14 de janeiro, Dan Gurney morreu na sua casa de Newport Beach, aos 86 anos de idade, vitima de complicações resultantes de uma pneumonia. O piloto americano teve uma carreira enorme e recheada, ajudando a muoldar os anos 60 no automobilismo, com vitórias na Endurance, IndyCar, NASCAR e Formula 1, sendo o único que deu a primeira vitória a três equipas: Porsche, Brabham e Eagle. E claro, é um dos três únicos pilotos que venceram com a sua própria equipa, a par de Jack Brabham e Bruce McLaren.

Poucos dias depois, a 18 de janeiro, a familia de Stirling Moss anunciou que ele se iria retirar das aparições oficiais, aos 88 anos de idade e depois de ter passado grande parte de 2017 a recuperar de uma infeção pulmonar. De uma certa forma, quer ele, quer Tony Brooks são os pilotos mais antigos ainda vivos e os únicos sobreviventes da década de 50, uma competição que ainda teve carros com motor à frente.

É sobre o final dessa era nostálgica e do privilégio que ainda os termos vivos, que escrevo este mês no Nobres do Grid.

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