domingo, 14 de junho de 2020

A imagem do dia

A história de um carro é muitas vezes contada de diversas maneiras. Mas como um carro entra na história, vale a pena ser contada. Especialmente quando hoje se faz 50 anos da sua primeira vitória em Le Mans e como, por uma coincidência, esta semana se soube da mote do seu projetista, Hans Metzger, que também ajudou a desenvolver o motor 6 em linha, e mais tarde, o TAG-Porsche V6 Turbo.

O 917 é uma ideia de Ferdinand Piech, que queria a Porsche na Endurance, tanto que sempre desprezou e enxovalhou qualquer ideia do regresso da marca de Estugarda à Formula 1, com a excepção da parceria TAG-Porsche, porque era Mansour Ojjeh que pagava tudo, eles apenas desenvolviam o motor. Em suma, uma encomenda.

Como é sabido, o carro se mostrou ao mundo no Salão de Automóvel de Genebra de 1969, e estava na sua configuração LH, ou "langheck" (cauda longa). Cedo se mostrou que era instável de traseira, difícil de controlar, e o acidente mortal de John Woolfe, na primeira volta, das 24 horas de Le Mans desse ano, mostrou que haveria correções a serem feitas.

E foi o que aconteceu nos meses seguintes. Com muitos 917 construidos - a FIA obrigava a construção de 25 chassis para poder ser homologada, logo, todos que tivessem dinheiro poderiam ter um - equipas como a John Wyer Automotive ou a Porsche Salzburg tinham o seu e montavam duplas fabulosas, constituídas por alguns dos melhores pilotos do pelotão, e em 1970, descobriu-se o problema para a instabilidade a ata velocidade: cortar a cauda excessivamente longa. Daí ter surgido a versão K (kurzheck, ou cauda curta).

Nas 24 Horas de 1970, a Porsche estava preparada em vários aspectos. Até Steve McQueen era para ter conduzido um dos carros, tendo como companheiro de equipa o escocês Jackie Stewart. Ia ser o carro numero 26, mas Hollywood não deixou, ameaçando cortar-lhe o seguro de vida e o financiamento do filme. A Porsche Salzburg, que pertencia a uma das filhas de Ferdinand Porsche, e prima de Piech, colocou dois carros, com esquemas de cores invertidas. O banco com riscas vermelhas (e cauda longa) foi guado por Vic Elford e Kurt Aherns, o vermelho com riscas brancas (e cauda curta) tinha como pilotos o britânico Richard Attwood e o alemão Hans Hermann, que 15 anos antes, tinha sido um dos pilotos que guiavam os "Estrelas de Prata" da Mercedes.

A partida foi... cinematográfica (está no filme Le Mans), e essencialmente, os Ferrari não deram muita luta. A marca alemã acabou com uma tripla (dois 917 e um 908), e a versão K foi a grande triunfadora. Para Hermann, com 42 anos, foi o pretexto para abandonar o automobilismo. Tinha começado com uma brincadeira à mulher, mas quando a coisa se tornou real, aproveitou bem a ocasião.

Os 917 marcaram toda uma era, mas por incrível que pareça, só correram em Le Mans por mais uma edição. Em 1971, um LH com as cores da Martini, guiado por Helmut Marko e Gijs van Lennep foi o vencedor, com uma segredo: o carro era todos feito em magnésio, um material leve, mas altamente incendiário. E bateu um recorde de volta que ficou nos registo até ao inicio deste século. No final desse ano, a CSI aboliu a classe de 5 litros e acolheu a de 3 litros, a mesma da Formula 1, e estes carros tiveram segunda vida na Can-Am, com Mark Donohue e George Follmer a guiá-los, entre outros. Mas isso é outro episódio. 

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