terça-feira, 12 de abril de 2022

A imagem do dia


Se ainda estivesse por aqui, Carlos Reutemann faria hoje 80 anos. Piloto por mais de uma década, quase campeão, imbatível nos dias bons e alheado nos maus, depois teve uma segunda carreira como senador da República até morrer, em julho de 2021. Não esteve tanto tempo nesta terra quanto Juan Manuel Fangio ou Froilan Gonzalez, mas durante um tempo, fez os argentinos sonhar com campeonatos.

Alguns dos seus grandes momentos são conhecidos: a sua primeira vitória, em Kyalami, em 1974, que também foi a primeira da Brabham em quatro anos, a primeira de um argentino desde Fangio, mas também a primeira da equipa sob a alçada de Bernie Ecclestone, que a comprou a Ron Tauranac, em 1972. As suas vitórias no Brasil, em 1977, 1978 e 1981 também são memoráveis, as duas primeiras pela Ferrari, mas também se esquece que ele triunfou no primeiro GP brasileiro, em 1972, em Interlagos - e a primeira transmitida a cores no Brasil - que não contava para o campeonato, apenas servia para dar condições de receber a Formula 1 naquelas paragens. 

Também a Reutemann teve uma grande frustração: nunca ganhou na sua terra natal. Esteve perto em 1974 - tanto que o presidente da altura, Juan Domingo Peron, marchou para o pódio, julgando que seria ele a ganhar, até que teve um problema na última volta e entregou a vitória a Dennis Hulme, fazendo com que o presidente, embaraçado, tivesse de fazer marcha-atrás - e conseguiu um segundo lugar em 1981, no dia do seu aniversário, numa prova ganha por Nelson Piquet

O que poucos notam é que o ano em que ele teve mais vitórias não foi em 1981, mas sim em 1978. E que no ano em que os Lotus dominaram o campeonato, o argentino triunfou em Jacarépaguá, Long Beach, Brands Hatch - depois de uma manobra brilhante a Niki Lauda, na reta da meta - e em Watkins Glen. E é sobre essa corrida que quero falar.

A Formula 1 estava em rescaldo, nessa altura. Mário Andretti era campeão, mas Ronnie Peterson estava morto, vitima do acidente em Monza, na corrida anterior. A Lotus tinha ambos os campeonatos, mas nos bastidores, os pilotos queriam um bode expiatório. E encontraram-no em Ricciardo Patrese, piloto da Arrows, implicado no acidente, mas não o maior responsável. Esse cabia a James Hunt, piloto da McLaren, e ironicamente, um dos que tirou o pobre sueco dos destroços do seu Lotus e estava por trás da campanha para o culpar. Por causa disso, Patrese não pode alinhar na corrida, impedido pelos pilotos, que ameaçaram boicotar, se o deixassem correr. Regressaria depois, em Montreal, para ser quarto na prova.

Na qualificação, Andretti foi o melhor, mas Reutemann ficou logo a seguir, embora quase um segundo mais lento que o americano da Lotus. Havia cartazes na pista dizendo "Mário, ganha pelo Ronnie!", o que sensibilizava-o. E os organizadores estavam tão confiantes que ele ganharia que Mário e a sua mulher, Dee Ann, foram convidados para posarem com o troféu de vencedor... no pódio.  

Contudo, no domingo, a história foi diferente.

Na partida, enquanto Emerson Fittipaldi queimava a sua embraiagem do seu Copersucar e caía na classificação - o brasileiro recuperaria até quinto - Andretti cedo foi apanhado pelo argentino, que o ultrapassou... e foi-se embora. O italo-americano tinha um problema com o sistema de travões e era impotente contra os Ferrari, pois pouco depois, foi também passado por Gilles Villeneuve. Os dois desapareceram no horizonte, até que o canadiano ficou sem motor na volta 24, acabando ali a sua prova. Por essa altura, ele já tinha 35 segundos de vantagem sobre a concorrência, e quando Andretti desistiu, três voltas depois, com o motor rebentado, limitou-se a passear e a gerir a corrida até à meta, onde triunfou, então, pela nona vez na sua carreira, sobre Alan Jones e Jody Scheckter, que iria conseguir o último pódio da Wolf.

Para Reutemann, era novo triunfo - tinha vencido ali em 1974, com a Brabham - e os "tiffosi" pensaram que o carro tivesse sido mais fiável, talvez a Ferrari tivesse sido a oposição mais forte nesse campeonato de 1978.      

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