Em 1988, a Formula 1 começava a ter ideias sobre "chicanes móveis". Afinal de contas, iria ter o novo regulamento da Formula de 3.5 litros, livrando-se dos Turbos, mas há muito tempo que existiam equipas que tinham os motores atmosféricos. E até já tinham chegado a pódios, naquela temporada! Perguntem a Thierry Boutsen, Ivan Capelli ou Alessandro Nannini como apareceram ao lado de Alain Prost e Ayrton Senna...
Mas se alguns conseguiam ser rápidos, outros... nem tanto. Como a Tyrrell, que naquela temporada, já tinha aparentemente visto os seus melhores dias para trás. Com uma dupla constituída pelos britânicos Jonathan Palmer e Julian Bailey, e correndo no chassis 017, desenhado por Maurice Philippe, tinha já conseguido cinco pontos, todos por Palmer, graças a dois quintos lugares no Mónaco e Detroit, dois circuitos urbanos, não eram os melhores dos aspirados, nem por longe. Mas em Jerez, palco do GP de Espanha daquele ano, o estreito e sinuoso circuito não ajudava os carros mais rápidos.
E durante as sessões de qualificação... de uma certa maneira, o copo verteu.
A coisa começou quando Riccardo Patrese conseguia uma boa volta para se colocar o mais à frente possível na grelha. E pelo caminho apanhou o Tyrrell de Julian Bailey, uma nítida "chicane móvel". O italiano odiou tanto que quando ele viu Bailey no seu espelho, fez-lhe um "brake test", acabando ambos por baterem e o britânico acabou na gravilha.
Os comissários viram o incidente e chamaram Ken Tyrrell com intenções de penalizar Bailey, por ser aquilo que era: demasiado lento - esta gente ainda não conhecia Taki Inoue, Yuji Ide ou outras futuras "chicanes móveis"... - mas depois de verem as imagens, a pedido do "tio Ken" decidiriam que Patrese era o culpado e multaram-no em 10 mil dólares, com alguns a afirmarem que deveria ser ele a pagar os estragos que causou ao Tyrrell.
Mas apesar disto, alguns pilotos acharam na altura que Bailey estawa ali a mais. Um deles* disse, debaixo da capa do anonimato: "Espero que multem este maldito atrasado. Já existem manobras acidentais suficientes nesta competição sem que haja gente que realmente tente causá-las..."
Nascido a 9 de outubro de 1961, em Woolwich, nos arredores de Londres, Bailey cresceu em Menorca, quando os pais decidiram que um ambiente mais ameno seria melhor para o seu filho. Meteu-se na Formula Ford em 1981 e no ano seguinte, ganhou o Formula Ford Festival, em Brands Hatch. Cinco anos depois, estava na Formula 3000, pela GA Motorsports, com um chassis Lola, e ganhou... em Brands Hatch! Foi o suficiente para que a Tyrrell o contratasse para 1988, ao lado de Palmer, que um ano antes, tinha vindo da Zakspeed. Contudo, até Jerez, ele tinha... oito não-qualificações, e um nono lugar como melhor resultado, em Detroit. A quatro voltas do vencedor... e três de Palmer.
Claro, a fama fica. E quem quer marcar um tempo da forma mais limpa possível, num ano de 1988 onde já tinham 31 carros inscritos - logo, o começo das pré-qualificações - e num circuito estreito como aquele, qualquer tempo era precioso. E as paciências dos pilotos não eram muitas, muitas...
Claro, Patrese pagou o preço, mas foi sétimo na grelha e foi quinto no final da corrida. Já Bailey? Só conseguiu o 28º tempo e viu a corrida das boxes. E ainda iria colecionar mais uma não-qualificação, na Austrália.
Mas apesar da má fama, regressaria à Formula 1 em 1991 para ser... piloto da Lotus. E consegue um sexto lugar em Imola! Mas isso é uma história para outros dias. Porque, afinal de contas, falamos de alguém que correu pela Nissan e MG nas 24 horas de Le Mans, foi piloto do ultracompetitivo BTCC, pela Toyota, e até foi um dos "The Stig" no Top Gear!
*Há quem jure que tenha sido Derek Warwick. Outros afirmam que poderia ser o próprio Jonathan Palmer!
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