terça-feira, 3 de setembro de 2024

A imagem do dia


Creio ser mais uma manifestação de vaidade que outra coisa, aqueles que metem um carro de Formula 1 na sua sala de estar. E quando falo disso, falo desses bólidos na escala 1 para 1! Contudo, hoje em dia, existe uma pessoa que tem um carro desses na sua casa. E - esse sim - pode ter o direito de ter esse carro em casa, porque foi ele que o projetou, como um arquiteto projeta as suas casas!

E até calha bem contar a história, porque há 45 anos, o seu carro se mostrou ao mundo. E teve gente importante a ajudá-lo. 

Hector Rebaque tinha 21 anos quando chegou à Formula 1, vindo do México. Vinha nas passadas dos irmãos Rodriguez, Pedro, nascido em 1940, e Ricardo, dois anos mais novo. Comprou um chassis Hesketh, teve umas participações modestas, e em 1978, arranjou um chassis melhor, um Lotus. Em Hockenheim, foi sexto classificado e conseguia o seu primeiro ponto de um piloto mexicano em sete anos. O feito foi aplaudido, e para 1979, a mesma coisa foi feita: um chassis cliente, ainda por cima, o melhor do pelotão, aquele que tinha ganho corridas e obtido títulos. Com um Lotus 79, teria um ano melhor, tinha a certeza.

Mas nessa temporada, os chassis deram um pulo em termos aerodinâmicos, e um bólido que era campeão na temporada passada, acabava no fundo do pelotão, porque entretanto, os carros se tornaram imensamente velozes: a média era de quatro segundos. 

Assim sendo, Rebaque, então com 23 anos decidiu-se por algo mais radical. Iria construir o seu próprio chassis.

Pediu a ajuda da Penske para construir aquilo que se tornou no HR100. Projetado por Geoff Ferris - o mesmo de todos os carros da marca entre 1974 e 76, enquanto estiveram na Formula 1 - e tendo como assistente outro jovem, John Barnard, acabaram por fazer uma espécie de cópia desenvolvida do Lotus 79. Os "sidepods" e as saias foram desenvolvidos, inspirados no Williams FW07, um tanque de combustível maior foi colocado e a frente foi modificada, para o tornar mais aerodinâmico. Construído em Poole, a sede europeia da marca, pintado numa cor castanho-café, o carro ficou pronto para o final da temporada de 1979, mas em Zandvoort, onde fez a sua aparição, foi mais para os patrocinadores saberem onde estava a ser investido o seu dinheiro que outra coisa, porque o carro estava longe de estar pronto. 

Na corrida seguinte, em Monza, o carro já estava pronto, mas a falta de desenvolvimento mostrou-se logo. Fez o último tempo - mais lento que o carro de Artuto Merzário! - e claro, não se qualificou. Mas no Canadá, as coisas melhoraram. Conseguiu o 22º melhor tempo, qualificando-se com sobras, mas a sua corrida acabou na volta 26, quando um apoio do motor se quebrou. Em Watkins Glen, não se deu bem com a chuva e não se qualificou.

A ideia original seria de correr com o HR100 em 1980, mas no final do ano anterior, aliado a complicações com a CSI, a antecessora da FIA, Rebaque chegou à conclusão que, entre ter um chassis próprio e encomendar um para correr na sua equipa privada, não existia muitas diferenças, e decidiu que o melhor seria guardar o carro em sua casa e tentar a sua sorte como piloto. Apenas seis meses depois, com o apoio da Pemex, a petrolífera mexicana, era piloto da Brabham, onde ficou até ao final de 1981, sendo um respeitado segundo piloto.

Até hoje, Rebaque - agora um respeitado arquiteto na capital mexicana - tem o seu chassis em casa. E certamente, lembra-se da sua aventura de juventude. Que já tem 45 anos. 

PS: Este post calha bem para assinalar aquilo que é o numero 20 mil da história deste blog. Já tem 17 anos e meio, e nunca pensei que durasse tanto tempo, mas aqui está, firme e forte, e com uma enorme vontade da parte do autor para dar noticias, contar estorias e assistir a momentos da história do automobilismo. E a vontade continuará enquanto ainda existir tempo para viver.   

1 comentário:

Tala disse...

Parabéns pelos anos de blog e pelo numero impressionante de postagens. Ótima qualidade que acompanho com muito prazer.
Forte abraço,
Ricardo Talarico
São Paulo - SP - Brasil