quinta-feira, 28 de abril de 2011

5ª Coluna: Ninguém chorará por Istambul

Daqui a dez dias iremos ver o GP da Turquia pela última vez no calendário da Formula 1. Digo isso devido aos vários rumores que se circulam sobre o futuro da corrida, quase como se fossem certezas, de que os organizadores disseram que não iriam pagar mais dinheiro a Bernie Ecclestone e à FOM para manter a corrida nos anos que aí vêm. A acontecer, já saberemos qual vai ser a corrida que sairá para dar lugar aos Estados Unidos, isto é, partindo do principio que a corrida do Bahrein voltará ao calendário em 2012.

Francamente, observo a Turquia como o exemplo clássico de um bom circuito construido no lugar errado. Em termos automobilisticos, este pais foi sempre uma nota de rodapé quer em termos de pilotos e circuitos, quer fosse em pista, quer fosse nas classificativas. O rali da Turquia tem alguma tradição, mas não é um clássico como é o seu vizinho e rival rali da Acrópole, na Grécia, e ainda por cima, este ano não faz parte do calendário do WRC, por exemplo.

Ao olhar para o circuito de Kurtkoy, observo-o como o melhor exemplo daquilo que Ecclestone quer fazer da Formula 1, só que deu tudo errado. Um projeto de largas dezenas de milhões de euros, projetado por Hermann Tilke especialmente para receber a Formula 1, mas que nunca ganhou o coração dos fãs. A corrida de 2009 ficou famosa pelas piores razões, quando atraiu mais do que... 25 mil pessoas ao longo de todo o final de semana. Numeros destes não se viam desde os tempos em que o circo visitava o travado circuito de Jerez de la Frontera, em 1990.

Mas antes, o exemplo turco ficou na história pelas piores razões politicas. Em 2006, os organizadores decidiram chamar para o pódio, para entregar o troféu de vencedor, o presidente da "Republica Democrática do Chipre do Norte", a metade norte da ilhja de Chipre, separada em 1974 por divisões étnicas após uma invasão e uma curta guerra civil. Ora, essa entidade só é reconhecida pela Turquia, e a organização foi obrigada a pagar uma enorme multa pela ousadia. Não sei se foi por causa disso ou foi outra coisa, mas desde então que o circuito ficou "às moscas"...

O exemplo de Kurtkoy é demonstrativo de que o modelo ecclestoniano, tal como está, só serve a curto prazo. Custos com tendência a aumentar, falta de divulgação, corridas feitas em paises sem tradição, circuitos que se transformam em "elefantes brancos", contas por pagar durante anos a fio. Para ser honesto, os unicos mercados do qual a Formula 1 deveria estar sempre presente seriam - para além da Europa - os Estados Unidos, a China e a India, para além da Europa, Austrália, Japão e Brasil. Saber das razões pelo qual o Bahrein recebe a Formula 1, ainda por cima o preço que paga para ter, demonstra que para certas pessoas com poder, é um brinquedo caro. E essa direção, na minha opinião, é uma receita para o desastre.

Em jeito de conclusão, a unica contribuição da Turquia ao mundo da Formula 1 é provavelmente a famosa curva oito, provavelmente a mais desafiadora da atualidade. Quem já guiou em Kurtkoy nos simuladores, como eu, até gosta do que vê, e provavelmente deve ser um dos dois circuitos desse alemão que gosto (o outro é Sepang). De resto, ninguém ficará com saudades de Istambul. Pode ser que um dia volte, mas tenho sérias dúvidas. Aliás, nem ficaria espantado se no ano que vêm e empresa que gere o circuito declare falência ou algo parecido...

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