quinta-feira, 28 de abril de 2011

O homem do dia - Ferrucchio Lamborghini

Era um empreendedor e fazia os seus negócios com paixão. O seu signo era Touro, mas isso não contribuiu pela sua paixão pela arte taurina, que fez com que muitos dos seus modelos tivessem nomes de touros míticos das arenas espanholas. E claro, fosse escolhido como o seu símbolo da marca. A sua ligação aos automóveis começou pelos... tratores, mas certo dia decidiu fazer o seu carro quando Enzo Ferrari o insultou devido às suas constantes queixas sobre o seu modelo. Em pouco tempo fez modelos que maravilharam a apaixonaram os "afficionados" e levou o seu nome aos quatro cantos do mundo, apesar de não querer se envolver no automobilismo.

Contudo, o primeiro choque petrolifero dos anos 70 quase o levou à falência, e foi obrigado a vender as suas divisões automobilisticas e de tratores, mas o nome sobrevive e prospera hoje em dia graças ao grupo VAG, que o transformou numa marca de luxo, com modelos desejados e sonhados por todos. No dia em que faria anos, falo sobre Ferruchio Lamborghini.

Nascido a 28 de abril de 1916 em Renazzo di Cento, na região da Emiglia-Romana, Ferruccio Elio Arturo Lamborghini era filho de um produtor de vinhos local. Cedo se apaixonou pela mecânica e foi estudar na Escola Técnica Fratelli Taddia. Quando acabou o curso, em 1940, a Itália entra em guerra e foi recrutado para a Regia Aeronautica, onde trabalha como mecânico na ilha de Rodes, então fazendo parte da Itália, durante o conflito. No final da guerra, é feito prisioneiro por um ano antes de voltar a Itália. Quando acontece, casa, mas a sua mulher morre ao fim de um ano, quando dá à luz o seu filho Antonio "Tonino" Lamborghini.

Por essa altura, Ferrucchio tinha aberto uma garagem e nos tempos livres modificava um Fiat Topolino que tinha comprado, transformando-o num carro de 750cc, bem mais potente do que tinha antes. Em 1948, inscreveu esse Topolino nas Mille Miglia, onde se portou bem até perto de Turim, altura em que perdeu o controle e bateu o seu carro na parede de um restaurante. Desgostoso, deixou os automóveis e a sua experiência iria fazer com que ganhasse anticorpos com o automobilismo, algo que o iria acompanhar durante boa parte da sua vida adulta.

Sendo assim, passou para os tratores. Inicialmente com o intuito de ajudar nas vinhas do seu pai, Lamborghini aproveitou as sobras de guerra para construir um trator seu. Com motores de Morris, transmissões da General Motors e diferencial da Ford, construiu o seu próprio trator que se tornou tão eficaz que os seus amigos e vizinhos queriam um semelhante. Assim sendo, em 1948 constituiu na localidade de Piave di Cento, perto de Bolonha, a Lamborghini Trattori. Construindo uma média de mil tratores por ano, contrados num pequeno modelo batizado de "Carioca". Lamborghini prosperou e transformou a sua empresa numa das maiores do seu pais no final dos anos 50. Depois tentou diversificar a sua produção, construindo aparelhos de ar condicionado e até tentou arranjar uma licença para construir helicópteros, mas o governo italiano acabou por não conceder.

Por esta altura, Lamborghini era um homem rico. Apaixonado por automóveis, começou a ter uma coleção apreciável de supercarros, entre os quais um Mercedes 300SL, um Maserati 3500 GT, um Jaguar E-Type, para além de Lancias e Alfa Romeos. Chegava a ir para o trabalho com um carro diferente, todos os dias.

Um dia, compra um Ferrari 250 GT. Um carro lindo, mas Lamborghini, um engenheiro, descobre os seus defeitos: um interior demasiado espartano para o seu gosto, demasiado barulhento para o seu gosto, e depois descobre que as embraeagens eram feitos com um material demasiado inferior, logo, sujeitos a avarias constantes. Lamborghini escreveu uma carta para Enzo Ferrari, cuja fábrica ficava em Maranello, não muito longe de Piave di Cento, a apontar os defeitos da sua máquina, mas o Commendatore rejeitou liminarmente as suas sugestões.

Em reação ao desprezo que Ferrari lhe deu, Lamborghini decidiu criar aquilo que considerava ser o carro de turismo perfeito, que combinasse a performance com um interior requintado. Assim sendo, em 1963 decidiu fazer o seu próprio automóvel. Pede a Giotto Bizzarini que construa um motor V12 de 3 litros semelhante ao que tinha feito para o Ferrari 250GT, algum tempo antes. Depois pede a outro ex-trabalhador da Ferrari, o desenhista Gian Paolo Dallara, que com a ajuda de Franco Scaglione, que tinha trabalhado na Bertone e na Pininfarina, criarem em menos de quatro meses o modelo 350 GTV.

O carro estava pronto em outubro e foi apresentado no Salão Automóvel de Turim. Contudo, antes do modelo ser apresentado, Lamborghini e Bizzarini entraram em desacordo porque este tinha feito um motor mais competitivo, algo que desagradava a Lamborghini. Vendo que não era aquilo que desejava, decidiu quebrar o contrato de 4,5 milhões de liras, com um extra por cada cavalo que conseguisse ganhar ao mesmo motor da Ferrari. O assunto acabou nos tribunais, onde Bizzaarini ganhou.

Esse contratempo não impediu de constituir a sua "Automobili Lamborghini Societá per Azioni" a 30 de outubro de 1963. Comprou um terreno de 46 mil metros quadrados na localidade de Sant'Agata Bolognese, a meio caminho entre Modena e Piave di Cento, aproveitando a mão de obra existente na zona. Para economizar dinheiro e peças, usou muitos componentes vindos da sua fábrica de tratores, e assim prosperava neste ramo do negócio com o 350GTV, que estava a ser um sucesso de critica.

Nos anos seguintes passou do 350 GTV para o 400GT, graças ao aumento do volume do motor feito por Dallara, e em 1966 era apresentado o 400GT 2+2, basicamente um alargamento de dois para quatro lugares. Por essa altura, os seus engenheiros estavam a construir um protótipo com o intuito de dar um "pedegree" de competição à pessoa que o conduzia nas estradas normais. Lamborghini ficou hesitante, mas deu luz verde, desde que se mantivesse apenas como carro de estrada. Mostrado no Salão de Genebra de 1967, o prótótipo, com o sigla inicial de P400, recebeu criticas positivas e foi para produção com um novo nome: Miura.

Entretanto, outros modelos surgiam, desde protótipos como o Marzal, feito pela Bertone - que tinha portas "gullwing" - até ao Islero 300, um sucessor do 400GT, mas que não teve o mesmo êxito do modelo anterior. O sucesso do Marzal faz com que Lamborghini fizesse um modelo senelhante, que batizou de Espada, e que começou a ser produzido em 1969. Por esta altura, Dallara saira da Lamborghini porque queria fabricar automóveis de competição. Acabou na De Tomaso, onde construiu o chassis de Formula 1 que Frank Williams usou na temporada de 1970 e onde Piers Courage acabou por morrer no GP da Holanda, em Junho daquele ano, no circuito de Zandvoort.

Entre 1970 e 72 outros modelos apareceram: Urraco, uma versão curta do Espada, e o Jarama, um modelo desenhado por Paolo Stanzini. Mas em 1971, a sorte de Ferrucchio mudava: a sua filial sul-africana foi forçada a encerrar e uma grande ordem de compra para a Bolivia foi cancelada devido a um golpe de estado, quando as máquinas já estavam dentro do barco que os ia levar, em Génova embarcar. Estes contratempos, aliados ao fato dos seus trabalhadores estarem sindicalizados - logo, não poderiam ser despedidos sem justa causa - fez com que Lamborghini vendesse a sua divisão de tratores à sua rival SAME.

Mas isso não bastou. Em 1972, vendeu 51 por cento da sua fábrica a um própsero homem de negócios suiço, Georges-Henri Rossetti, admirador e amigo de Lamborghini, na condição de ele não se meter muito nos negócios da empresa. A aquisição valeu 600 mil dólares, mas pouco depois veio o primeiro choque petrolifero de 1973-74 e Lamborghini vendeu os restantes 49 por cento a outro suiço, René Leimer. O último modelo que produziu foi o Countach, que ao contrário dos modelos anteriores, não era o nome de um touro. É uma exclamação habitualmente dada na zona de Piemonte, no noroeste italiano, quando os habitantes locais vêm uma mulher bonita...

Assim sendo, abandonou a industria automóvel de vez e retirou-se para Castiglione del Lago, onde comprou uma propriedade de 3000 metros quadrados, e regressou às origens familiares, produzindo vinhos e desenhando o seu próprio campo de golfe. Voltou a casar-se aos 58 anos e teve uma filha, Patrizia. Acabou por morrer a 20 de fevereiro de 1993, aos 76 anos, vitima de ataque cardíaco.

Por esta altura, a Lamborghini vivia nas mãos de outros proprietários e lutava pela sobrevivencia, depois do seu periodo na Chrysler, onde embarcou na aventura da Formula 1, entre 1989 e 1992. Somente em 1998, quando foi adquirida pelo grupo Volkswagen, é que se assistiu ao seu renascimento, graças a modelos com o Murciélago e o Gallardo, que recuperaram na primeira década do século XXI o prestigio que teve nos seus tempos aureos.

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