A comemoração dos 25 anos do desastre de Chernobyl calha por coincidência numa altura em que discutimos um novo desastre nuclear, num outro pais. Mas como dizem os médicos, "cada caso é um caso", e Fukushima não é Chernobyl por tudo: diferente central, diferente construção e fabricação, diferentes circunstâncias. No caso japonês, falamos de um devastador terramoto, ao qual deveria resistir, e pelos vistos, não resistiu. Aliás, fala-se que aquela central em particular teria grandes dificuldades em resistir a uma terramoto de grau acima de sete na escala de Richter. E o evento de 11 de março foi de 9.0...
Lembro-me desses dias de Chernobyl. O primeiro aviso veio da Suécia, quando no inicio de maio as autoridades locais avisaram os soviéticos que uma nuvem radioativa tinha passado por eles, vindo do seu pais, e pediram explicações. Primeiro houve silêncio, depois surgiram os rumores, que se fortaleceram nos dias a seguir. E por fim, depois das autoridades ocidentais terem começado a insistir fortemente nos soviéticos para exigirem saber o que se passava, eles cederam. Mikhail Gorbachov, o lider soviético da altura, fez uma comunicação inédita ao pais para dizer o que se passara na noite de 25 para 26 de abril em Prypiat, no norte de Kiev, a capital ucraniana. Aliás, esta cidade de quatro milhões de habitantes somente se salvou porque os ventos daquela noite sopravam para norte-noroeste, fazendo com que a nuvem voasse atraves da Bielorussia e Rússia, parando na Suécia e Finlândia.
Tal como aconteceu em 1986, todos questionavam o nuclear, fazendo com que alguns paises decidissem cancelar os planos de construção de centrais nucleares. Podia ser uma energia limpa, não poluente, mas os resíduos são dificeis de serem tratados e a radioatividade pode ficar presente durante dezenas de milhares de anos na atmosfera. Logo, os custos de desmantelamento dessas centrais serão largamente elevados. Em suma, o nuclear tem muitas mais coisas contra do que a favor.
Fukushima acontece numa altura em que as grandes potências tinham começado a virar para o nuclear como uma alternativa à energia vinda das ondas, das eólicas e da solar. Os seus defensores vendem-na como uma energia limpa, capaz de produzir em grande quantidade aquilo que milhares de ventoinhas ou painéis solares são capazes de fazer. Mas o senso comum sabe que um painel solar ou uma turbina são de fácil montagem e não causam tanto impacto na paisagem do que um mamarracho como uma central nuclear. E por muito que a tecnologia avance, o risco, por minimo que seja, é demasiado alto, sensivel e intolerável para as pessoas. Basta ver os milhares de ucranianos que sofreram, sofrem e sofrerão para as gerações futuras. E os japoneses que sofrerão no futuro com os cancros da tiroide, para não falar do envenenamento causado pela forte exposição à radioatividade...
Não queremos mais que se repita Chernobyl e Fukushima. Mas temo que esta história não esteja encerrada de vez. Veremos mais alguns destes capítulos no futuro.
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