O assunto de ontem sobre os 25 anos do desastre da central nuclear de Chernobyl fez o suficiente para ser atraído por um "advogado do Diabo", daqueles que defendem a energia nuclear afirmando estar "mal informado sobre este assunto" e que de forma educada mas por outras palavras, deveria permanecer na minha área e abster-me de comentar sobre o caso. Francamente, este post é, mais do que responder ao sujeito - também é - também é altura de dizer a minha opinião pessoal sobre este assunto actual de forma fundamentada, informada e o mais estruturada possivel sobre este assunto em concreto. Como vivo em democracia, mas não cuspo para o ar - para isso existem os fóruns e as caixas de comentários dos jornais - tenho todo o direito de dar a sua opinião sobre os assuntos da atualidade. Ou então, se preferirem, mostrar que posso ser objetivo mesmo deixando de ser "suiço" ou seja, neutro.
Primeiro que tudo, digo ao "advogado do Diabo" que considero uma ofensa pessoal que me diga que estou "mal informado" sobre este assunto. Muito pelo contrário: estou suficientemente - até demasiadamente - informado para tomar uma opinião sobre este caso, e ao longo da tarde andei a dizer no meu Twitter as razões pelos quais não gramo em nada a energia nuclear. Uma delas é a sua má reputação: em apenas 32 anos houve três acidentes graves: Three Mile Island, nos Estados Unidos, Chernobyl, na Ucrânia (então parte da União Soviética) e agora Fukushima, no Japão. Centrais de construção diferente, com materiais diferentes, com processos de arrefecimentos diferentes - os russos usam grafite, os ocidentais água doce - e acidentes diferentes. Contudo, mesmo que cada caso é um caso, as consequências foram graves: a periculosidade e a alta radioatividade dos materiais mostram que a sua vulnerabilidade perante uma catástrofe é intolerantemente alta.
Francamente, os céticos e os lobbystas do nuclear não me convencem. Os números que apresentam sobre a enorme segurança das suas centrais - mais do que existirem, tem de os fazer pois é a sua obrigação - não me convencem de que o nuclear é a alternativa. Para mim, não o é. É demasiado cara para construir, para manter e até para o desmantelar, passada a sua vida útil. E numa altura em que as centrais nucleares mais antigas estão a chegar ao final da sua vida útil, começam a surgir relatórios e estudos preliminares de que o desmantelamento das centrais mais antigas serão um processo longo e custoso, para não falar dos resíduos, que serão "a batata quente" que gerações de físicos irão lidar para os próximos séculos, até que encontrem um método mais rápido e seguro de os neutralizar.
E para finalizar, as alternativas começam a ser viáveis. As eólicas e as centrais solares começam a ter um impacto no peso total da energia produzida nos países que os usam, e em Portugal, onde a dependência energética é maior do que os outros países da Europa, pois não tem petróleo suficiente para ser viável em termos comerciais, o peso desse tipo de energia já alcança os 20 por cento. O que começa a poupar na factura e a ser menos dependente do exterior nesse aspecto.
Há alguns meses vi na National Geographic o documentário sobre uma central de energia solar nos arredores de Sevilha que começa a ter potência para alimentar uma cidade de milhão e meio de habitantes. Não fixei o numero, mas tem de ser da ordem de alguns Gigawatts. Se isto funciona agora, com essas centenas de painéis solares que alimentam a turbina a vapor que gera a eletricidade durante 24 horas por dia, com os depósitos de energia acumuláveis nos dias de menor intensidade solar, imaginem dentro de dez ou quinze anos, quando a tecnologia for melhor, quando os painéis solares forem mais eficientes a absorver energia, mesmo nos dias nublados? Já não é uma questão de "se" mas sim de "quando". E quando isso acontecer, as restantes energias arriscam a ser inviáveis.
Portanto, mais do que ser contra a energia nuclear por principio, sei perfeitamente que existem outras alternativas que estão a ser usadas, acarinhadas, pesquisadas e utilizadas. O fantasma do nuclear é demasiado enorme e óbvio para conseguirmos ver as vantagens existentes. O seu "cartão de visita" é demasiado óbvio para ser ignorado mesmo pelos "advogados do Diabo" que o tentam demonstrar que é uma energia "segura" e "limpa". Francamente, quando oiço isso, lembro-me de Montgomery Burns...
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