sábado, 2 de dezembro de 2017

A Alfa Romeo volta à Formula 1, o que quer dizer? (parte 4)

No capitulo anterior, falamos do envolvimento da Brabham com os motores flat-12 da Alfa Romeo, com resultados relativamente bons, mas não o domínio do qual se esperava. Um motor potente, mas pesado e guloso, algo do qual a marca teve dificuldades em contornar estes obstáculos. Contudo, em 1978, a marca alcançou o caminho das vitórias, as primeiras da marca italiana na Formula 1 desde 1951. E isso fez acelerar o projeto de ter a sua própria equipa de Formula 1.

Primeiro que tudo, recuemos algum tempo, para meados de 1977. Na Autodelta, Carlo Chiti preparava os seus motores dentro de um chassis próprio, em testes secretos na pista de Balocco, nos arredores de Milão, não muito longe das oficinas da Autodelta. Ao fim de algum tempo, Chiti e Robert Choulet, um aerodinamicista, desenharam aquele que viria a ser o Tipo 177, e o seu piloto de serviço era o jovem italiano Bruno Giacomelli, visto como uma grande esperança do automobilismo italiano, pois tinha ganho a Formula 2 "com uma perna às costas".

Giacomelli andou com o 177 ao longo de 1978 em testes quer em Balocco, quer em Paul Ricard.  Niki Lauda acompanhava por vezes esses testes, e chegou a dizer a Giacomelli, de forma um pouco trocista: "esses motores quebram mais vezes do que os meus?" A historieta mostra um pouco a crescente irritação de Lauda para este tipo de motores, e alguns pensam que isso poderá ter precipitado a sua primeira retirada da Formula 1. Mas já la iremos.

Em 1979, a Alfa Romeo decidiu que o 177 iria participar em algumas corridas na temporada, em preparação para a sua entrada como equipa oficial. Entretanto, a pedido da Brabham e de Lauda, construía-se em contra-relógio um V12, deixando o flat-12 para o modelo 177. O carro ficou pronto para a primeira corrida do ano, na Argentina, e apesar de ser veloz nas qualificações... era um inferno. Apenas conseguiram sete pontos na temporada, com Lauda a ficar com quatro, resultantes de um sexto posto na África do Sul e um quarto posto em Monza. Já o seu companheiro de equipa, um jovem promissor brasileiro chamado Nelson Piquet, tinha conseguido outro quarto posto na corrida anterior, na Holanda. Em suma, a pouca fiabilidade foi o suficiente para que ainda antes da temporada acabar, a equipa tenha trocado os Alfa Romeo pelos Cosworth.

Isso coincidiu com a estreia da Alfa na Formula 1. Primeiro com o 177, nas corridas da Bélgica e França, e a partir do GP de Itália, com Giacomelli e o seu compatriota Vittorio Brambilla, no novo 179. Inscritos pela Autodelta, e com o motor V12, tiveram resultados modestos e não acabaram qualquer prova.

Para 1980, a marca iria encarar a sua primeira temporada a tempo inteiro com um novo piloto: o francês Patrick Depailler. Aos 35 anos, o veterano piloto tinha passado por Tyrrell e Ligier, antes de, a meio de 1979, se ter lesionado a sério num acidente de asa delta. O seu regresso era devido à sua capacidade de testar novos componentes nos carros e fazer evoluir as máquinas que tinha nas suas mãos. E a aposta era agora a velocidade, em vez da fiabilidade. 

Contudo, logo na primeira prova do ano, na Argentina, Bruno Giacomelli acabou no quinto posto, alcançando os primeiros pontos da sua carreira, e os primeiros da marca desde 1951. Parecia ser um bom sinal, reforçado com o terceiro lugar na grelha por parte de Depailler na corrida de Long Beach. Contudo, o carro sofria com as constantes quebras de motor, e eles raramente terminavam as corridas. 

Mas o pior acabou por vir a 1 de agosto de 1980, quando Depailler sofreu um acidente fatal durante uma sessão de testes em Hockenheim. Abalados, a equipa prosseguiu, e irónicamente, foi aí que Giacomelli conseguiu mais dois pontos, resultantes de um quinto posto. As prestações melhoraram na parte final da temporada, com o italiano a tirar uma inesperada pole-position em Watkins Glen e liderou calmamente a corrida até que na volta 31, um problema elétrico o obrigou a abandonar. Nessa altura, os italianos Vittorio Brambilla e o jovem Andrea de Cesaris também correram no 179.

Para a temporada seguinte, contrataram Mário Andretti, vindo da Lotus, e começou bem com um quarto posto na corrida inicial, em Long Beach. Contudo, para o piloto de 41 anos, foi a única vez em que conseguiu pontuar, e a Alfa era mais noticia pelas suas desistências do que pelos seus resultados. E o carro já era considerado como uma "cadeira elétrica". Contudo, a parte final do ano foi melhor para a equipa, quando Giacomelli acabou a última prova do ano, em Las Vegas, no terceiro lugar, dando o seu primeiro pódio com a nova roupagem.

Para 1982, saía o veterano Andretti para entrar o novato De Cesaris. Por esta altura, a marca tinha decidido cortar relações com a Autodelta e com Chiti, fazendo com que contratassem o francês Gerard Ducarouge, ex-Ligier, como projetista do próximo carro, que seria o 182. O carro também teve a ajuda de Mário Tolentino na parte dos motores. Tolentino era o chefe da Euroracing, outra preparadora situada nos arredores de Milão. Apesar de tudo, os motores ainda eram revistos na Autodelta, pelo menos até que a transferência fosse mais completa.

A temporada teve promessas, principalmente quando Andrea de Cesaris conseguiu a pole-position em Long Beach, na altura tornando-se no mais jovem de sempre a alcançar tal feito. Mais tarde, no Mónaco, acabou no terceiro lugar, que poderia ter sido o primeiro... se não tivesse ficado sem gasolina na última volta. A temporada terminou com apenas sete pontos, mas estrearam o motor V8 Turbo, o que lhes deu os seus melhores momentos na Formula 1... mas isso é para a quinta e última parte desta história.

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