segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Donos novos, cara nova

Na semana passada, a Liberty Media anunciou que iria mexer com o logótipo da Formula 1. Quando se soube da noticia, onde eles mostraram três hipóteses de escolha, muitos protestaram acerca dessa mudança, afirmando que o logotipo atual deveria ser mantido, dizendo que as alternativas eram piores. 

Temos de ver esta mudança de duas formas, pelo menos: o logotipo atual é de 1994, logo, tem 23 anos de idade. As pessoas habituaram-se a isto e faz parte da paisagem automobilística. E há uma segunda razão, do qual é preciso ser lembrada: é que a Formula 1 tem novos donos, e em muitos aspectos, desejam cortar com o passado, embora diga que a apresentação do logotipo atual na televisão está bem feita. E nesse campo, eu ficaria um pouco triste se isso fosse retirado, mesmo que o novo logotipo tenha uma apresentação melhor.

A Liberty, pelos vistos, já fez a sua escolha e apresentou em Abu Dhabi, depois da cerimónia do pódio. As pessoas reagiram com desgosto, até ódio, especialmente nas redes sociais, onde se circulou muitas opiniões contrárias. As coisas são assim, como sempre.

Contudo, este domingo, horas depois, dei de caras com este site onde se fala do processo criativo da novo logotipo da Formula 1. Poderiam ter acontecido coisas piores do que o escolhido - que não é mau de todo, pois faz lembrar o desenho do capacete do Niki Lauda nos anos 80 - e da maneira como o desenho do novo logotipo é introduzido no ambiente, até dá um ar de agressividade, especialmente quando usam os tipos de letra que desenharam a acompanhar o logotipo. E a cor também ajuda, esse vermelho-sangue.

O desenhador é o britânico Richard Turley, da agência Wieden+Kennedy, de Londres, e claro, substitui o atual, que já vem de 1994, o que mostra que tem algum tempo. A ideia é, claro, vinda da Liberty Media, que quer atrair novos fãs, mas também quer marcar uma diferença em relação aos antigos donos da Formula 1.

"O impulso tem sido realmente torná-lo mais focado no fã, para entender que esse é o coração, a alma e o futuro do automobilismo", começou por dizer Turley. "Vendo que a pesquisa [feita previamente pela Formula 1 junto dos fãs] e como as pessoas falaram e pensam sobre este desporto nos permitiu escrever um resumo para nós mesmos em termos de design e media em torno dele", continuou. 

"Toda a estratégia saiu dessa atividade intensiva, focada nos fãs. Esse foi o ponto de partida, então poderíamos escrever um breve e em torno do que a identidade precisava fazer".

Norman afirmou que essa pesquisa foi a chave para o "rebrand" da Formula 1. "Os fãs querem aumentar a sua associação com a Fórmula 1 através dos pilotos, da concorrência, do lado humano do desporto e da sensação de estar no limite ao assistir às corridas. Isso nos afasta da percepção de que a Formula 1 está a ser inacessível e está apenas [concentrado] nos carros e nos negócios".

O resultado é uma identidade que Turley diz "representa esses valores, [é] voltado para frente, surpreendente, dinâmico".

Visto o design, pessoalmente, apesar das reticências iniciais, estou naquilo que Fernando Pessoa escreveu certo dia, como slogan da Coca-Cola, quando chegou a Portugal: primeiro estranha-se, depois entranha-se. Uma vez passada a repulsa inicial de muita gente, afirmando que a velha imagem é boa, e que não deveria ter sido mudada, mostra-se uma imagem de modernidade e agressividade, algo que não se via tanto na imagem anterior. E é verdade que há logotipos que ficam para sempre, intemporais, mesmo a imagem antiga, tendo ficado na mente dos fãs por muito tempo - 23 anos é toda a vida do Daniil Kvyat e do Pascal Wehrlein, por exemplo - poderia arriscar a ficar datada. 

Mas toda a gente sabe que não foi por isso que mudaram. A Formula 1 tem novos donos, e eles querem moldar aquilo que têm à sua maneira. Fora o velho, entra o novo. Não fiquem admirados se o anão dizer "cobras e lagartos" do novo logotipo!

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