sexta-feira, 1 de novembro de 2019

No Nobres do Grid deste mês...

No passado dia 15 de outubro, a Formula One Management, através da Liberty Media, e os donos do clube de futebol (americano) Miami Dolphins anunciaram um acordo para receber nos seus terrenos uma corrida na cidade, que fará parte do calendário da Formula 1 a partir de 2021. Caso as autoridades da cidade aprovarem o traçado, que será desenhado nos terrenos do Hard Rock Stadium, o estádio de futebol (americano), será a primeira vez desde 1984 que a Formula 1 terá duas corridas nos Estados Unidos.

Contudo, isto não é a primeira vez que isto acontece. Aliás, houve uma altura na história, entre 1976 e 1984, que a Formula 1 queria correr nos Estados Unidos quantas vezes que fossem possíveis. E em 1981, quando esteve prestes a dividir-se em dois, o calendário "rebelde" tinha a esmagadora maioria das suas provas em território americano. E essa era a obsessão de uma pessoa: Bernie Ecclestone.

Durante muito tempo, os Estados Unidos foram um "eldorado" para todos os promotores desportivos. A maneira como eles conseguem mostrar um espectáculo é admirado, copiado e perseguido pelo resto do mundo, especialmente na parte da gestão desportiva. A NBA, o campeonato americano de basketball, a MLB, a liga americana de baseball, o NFL, a liga americana de futebol (americano), ente outros, são ligas bilionárias, graças aos milhões de adeptos que têm, que proporcionam espectáculos dentro de outros espectáculos, que são os próprios jogos. Mas isso tudo tem um problema: raramente são as modalidades vindos de fora que triunfam. A única grande excepção é a MLS, a liga americana de futebol (europeu), que triunfa porque os americanos são a maior potência... no futebol feminino. Aliás, o nosso futebol na América chama-se "soccer", e a popularidade deste desporto entre as mulheres deu origem à expressão "soccer mom", mães de familia que vão buscar os seus garotos aos jogos de futebol escolares nas suas carrinhas de sete lugares.

Quando falo das excepções sobre as modalidades vindas de fora, digo com alguma autoridade porque, historicamente, a Formula 1 queria marcar a sua presença na paisagem americana. E fez de tudo para conseguir, sem sucesso. Projetos abortados, corridas em parques de estacionamento de casinos, asfaltos que derreteram, e o legado foi pouco mais do que zero. Excepto Long Beach. (...)

Entre 1975 e 1991, a Formula 1 decidiu que a América iria ser o seu eldorado. Graças a Bernie Ecclestone, que a partir de 1978 começou a cuidar dos seus aspectos comerciais, procurou dinheiro das cidades que pretendiam ter um espectáculo tão prestigioso como aquele. Chegou a correr em Detroit, na capital do automóvel, mas ao longo desses anos, as provas aconteciam no meio das cidades, com asfalto que muitas das ocasiões, não aguentava a passagem constante dos carros.

Sítios como Las Vegas, Dallas, Phoenix e Detroit receberam a Formula 1, mas não deixaram saudades nem nos adeptos, nem nos pilotos, apesar de, por vezes, serem palco de disputas de títulos. Poucos eram os espectadores que viam essas corridas e os organizadores saiam com prejuízo. Em dois ou três anos, mudavam-se para a CART, mais barata de se organizar.

E Bernie tinha sonhos maiores, especialmente de correr nas ruas de Nova Iorque. Mas depois de algumas tentativas sem sucesso, em 1983 e 84, e ter voltado à carga em 2012, acabou por ver a Formula E correr onde ele sempre sonhou. E é sobre toda esta relação entre a Formula 1 e os Estados Unidos que falo este mês no Nobres do Grid.

Sem comentários: