O ano de 1979, como já vieram, mostrou ao mundo alguns dos chassis mais marcantes da história da Formula 1. Para o bem e para o mal, vieram ao mundo carros como o Lotus 80, o Arrows A2, o Williams FW07 e o Copersucar F6. Mas para finalizar sobre este ano, falta falar de um dos chassis mais importantes não só da década, como da história da Formula 1 nos últimos 40 anos. Desenhado por Gordon Murray, foi o paraíso depois do inferno. E deu uma segunda vida à Brabham, depois dos anos de pesadelo com o Brabham-Alfa Romeo.
Em 1978, a equipa até tinha tido uma boa temporada. Com o BT46 e a versão B, com o aspirador a fazer o downforce necessário ao carro na Suécia, que lhe deu a vitória nessa prova, antes de os retirarem de circulação, para que Bernie Ecclestone tivesse chance de ser o patrão da FOCA, em 1979, a equipa desenhou o BT48, com Murray a pedir à Autodelta para que desenhasse um motor V12. Este ficou pronto antes do carro se estrear, na Argentina, mas apesar de ser potente e veloz, não terminava corridas, e os resultados estavam à vista: apenas sete pontos, com dois quartos lugares na Holanda, com Nelson Piquet ao volante, e em Itália, com Niki Lauda aos comandos, como melhores resultados.
Nessa mesma corrida de Monza, já a Alfa Romeo tinha inscrito dois carros, para Bruno Giacomelli e Vittorio Brambilla, e a equipa própria significava que acabaria o acordo de fornecimento de motores à Brabham, com efeito imediato. Ecclestone ficou aliviado e voltou-se para o Cosworth V8, enquanto Murray decidiu desenhar um novo carro, não muito diferente do anterior, apenas para poder acomodar o motor mais pequeno. Em seis semanas, o BT49 foi desenhado, construído e pronto a tempo do GP do Canadá, onde Niki Lauda... retirou-se. Ricardo Zunino ficou com o seu lugar e o primeiro piloto era agora o jovem brasileiro Nelson Piquet, que tinha talento, mas apenas tinha feito a sua primeira temporada completa.
Com um chassis de alumínio, mas com alguns elementos de fibra de carbono, era dezasseis quilos mais leve que o modelo anterior, porque o depósito e o motor eram mais pequenos. Tinha uma caixa de seis velocidades, da Hewland, esse carro era feito para suportar o efeito-solo, com saias condizentes nas laterais do carro, praticamente dispensava as asas. "Tinha mais downforce que qualquer outro carro, graças ao efeito-solo. Corríamos sem asa frontal e quase sem asa traseira", disse Murray, em 1999, numa entrevista a Alan Frankel.
Murray, o projetista, estava na Brabham desde 1970, e até pensava em mudar-se quando Ecclestone comprou a fábrica a Ron Tauranac. Cedo se deram muito bem e tinham estabelecido uma parceria: Murray tomava conta dos aspectos técnicos, mecânicos e eletrónicos da equipa, enquanto na parte dos patrocínios, politicas e logística, Bernie tomava conta de tudo.
“Basicamente, Bernie deixou-me administrar as coisas, confiou em mim. Empregamos uma fração do pessoal de grandes equipas como McLaren e Williams. Nós éramos assassinos de gigantes. Fiz o trabalho de projeto, contratava e demitia, supervisionava a produção, o fornecimento de peças, o programa de testes, o trabalho do túnel de vento. Eu fiz toda a estratégia nas corridas. Estupidamente, recusei a ter um engenheiro de corrida. Outras equipes tinham um engenheiro por carro, mais um cara do carro de testes e um diretor técnico. Eu fiz tudo sozinho. Deus sabe quantas horas por semana eu estava trabalhando. Mas eu só precisava dormir quatro horas por noite e me sentia bem com isso.”, afirmou, numa entrevista feita a Simon Taylor, em 2008, para a Motorsport britânica.
O carro ficou pronto no Canadá. Lauda deu dez voltas no bólido, antes de sair e entregar o volante a Bernie, afirmando que a Formula 1 tinha acabado para ele, cansado de "andar às voltas". Piquet ficou com o chassis na mão e aproveitou muito bem. O seu primeiro pódio aconteceu em Buenos Aires, em janeiro de 1980, e dois meses depois, a sua primeira vitória, em Long Beach. No final, conseguiu mais duas vitórias e lutou pelo título, perdendo para Alan Jones.
Em 1981, o chassis foi modificado para a especificação C, com mais fibra de carbono, e o carro ficou mais leve. Mas com a retirada das saias e a obrigatoriedade dos carros ficarem a seis centímetros do solo, Murray viu que poderia haver uma chance de conseguir vantagem sobre a concorrência. Assim, ele construiu uma suspensão hidropneumática, onde o carro ficaria rente ao chão ao longo da corrida, aproveitando o efeito-solo de modo mais eficaz, e antes do carro ser escrutinado, este levantava-se para a altura exigida, "enganando" os comissários. Piquet venceu na Argentina e em San Marino com esse truque, e o carro era de tal forma eficaz dessa maneira que em Buenos Aires, a certa altura da corrida, o mexicano Hector Rebaque era segundo, depois de passar Carlos Reutemann. Mas o segundo Brabham acabou por desistir, e a grande chance de pódio tinha sido desperdiçada.
Em 1982, Bernie Ecclestone tinha decidido aderir aos Turbo e assinara um acordo com a BMW, começando em Kyalami. Mas a estreia foi má e queriam voltar à Formula vencedora. Foi o que fizeram em Jacarépaguá, com Piquet a vencer, antes de ser desclassificado, mas isso criou atritos com o fabricante alemão. Assim, chegou-se a um compromisso: Piquet desenvolvia o motor BMW no BT50, e Riccardo Patrese, o novo companheiro de equipa do piloto brasileiro, ficaria com o BT49 Cosworth para marcar pontos. E assim, com a versão D, o carro ganhou nova vida, especialmente no conturbado GP do Mónaco, onde Patrese venceu inesperadamente, cinco anos depois da sua estreia, conseguindo mais 19 pontos com o carro. Na última corrida do BT49, no Canadá, o mesmo local da sua estreia, dois anos e meio antes, era suficientemente competitivo para ser segundo, atrás do Brabham-BMW do vencedor, Nelson Piquet.
E por essa altura, a mente de Gordon Murray tinha outras ideias mais ousadas.
Contudo, os resultados do chassis ao longo desse tempo - 38 corridas entre 1979 e 82, sete vitórias, sete pole-positions, quatro voltas mais rápidas, dezasseis pódios e o título de pilotos para Nelson Piquet em 1981 - mostraram que dos chassis nascidos em 1979, a Brabham foi ainda mais genial, porque se os carros da Arrows e Lotus eram buscas para encontrar os limites do aerodinamismo, no caso da Williams e Brabham, foram o pragmatismo que falou mais alto, mas enquanto um foi conservador e eficaz, no outro, houve espaço para alguma ousadia, e também foi espaço para mostrar o talento de um engenheiro como Gordon Murray, sem desacreditar outro excelente engenheiro que é Patrick Head. E num tempo como aquele, ver toda essa quantidade de carros, as várias experimentações e os vários resultados é algo que só enriquece esse tempo. E o que têm em comum.
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