quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

A imagem do dia

O normal fos filhos é ficarem com o negócio dos pais quando eles morrem ou reformam-se. Mas para Gilbert Sabine, um pacato dentista do norte de França, aos 64 anos de idade, foi acometido de algo inesperado: ficar com o negócio do filho, tragicamente desaparecido num acidente. Pode-se imaginar que isso é anormal, mas mais anormal seria se esse negócio fosse o Paris-Dakar, precisamente a mais famosa prova de todo-o-terreno, fundada pelo seu filho, Thierry Sabine.

E tudo isso se passou em 1986. A 14 de janeiro, quando a caravana estava em Gao, no Mali, o helicóptero, um Ecreuil, levava Sabine, o piloto e co-piloto, o cantor Daniel Balavoine e a jornalista Nathalie Odent quando este se despenhou numa duna, matando-os a todos. A organização, apanhada em choque, pediu ao seu pai para que administrasse da melhor maneira possível a administração deste rali, enquanto passava pela tarefa de sobreviver - como todos - à morte do seu fundador. 

Gilbert Sabine fez o seu melhor, mantendo-se à frente da organização até ao final da década de 80, quando esta passou para as mãos da Amaury Sports Organiation, a ASO. Ao ver que esta estava em boas mãos, decidiu regressar ao anonimato da sua vida e observar o legado do seu filho crescer e ir para outros lados, como este ano, onde passará a correr nas areias do deserto saudita, onde um século antes, T.E. Lawrence ajudou os beduinos do deserto se libertar do jogo otomano, apesar da Grã-Bretanha e França não lhes terem dado logo a independência...

Gilbert Sabine morreu no último dia de 2019, aos 97 anos de idade. O Dakar, independentemente do lugar, continua a ser tão famoso e tão forte como era nos tempos do seu filho, porque não interessa o lugar, o que se que é muita areia e que seja aquilo que o seu filho disse um dia. Que fosse o desafio para os que partiam, e um sonho para os que ficavam. 

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