Está tudo pronto de Jeddah para o primeiro Dakar em terras arábicas. Os concorrentes fazem os seus "shakedowns", os mecânicos tratam dos carros, motos e camiões, e o resto, desde os jornalistas até aos fãs. contam as horas para o começo, que acontecerá no domingo. Será o primeiro Dakar a acontecer na Arábia Saudita, depois de onze edições em areias e terras sul-americanas, fdesde Buenos Aires até Lima, passando por Santiago, Córdoba, Assuncion e La Paz, entre outros.
Está tudo pronto... mas a politica poderá ter uma mãozinha nisto. E eu temo essa mãozinha.
Esta madrugada, o general Qasem Soleimani, o chefe supremo da guarda Revolucionária iraniana, foi morto por um drone americano quando estava na gare do aeroporto de Bagdad. Solemani era a segunda figura mais poderosa do Irão, e graças a ele, a Guarda Revolucionária andou na última década em sítios como a Síria, para apoiar o líder Al-Assad contra um levantamento geral que gerou a guerra civil síria e que causou mais de trezentos mil mortos e mais de de milhões de refugiados.
O ataque a Soleimani aconteceu menos de uma semana depois de uma multidão ter atacado a embaixada americana em Bagdad. A multidão, suspeita-se, tenha sido guiada por iranianos para armar confusão. O ataque lembrou os eventos de há 40 anos, em Teerão, onde uma multidão invadiu a embaixada, prendeu 56 membros do seu staff e os fez reféns por 444 dias, sendo libertados precisamente no dia da tomada de posse. Muitos analistas dizem que o presidente americano, ao reagir dessa forma, poderá ter caído numa armadilha causada por eles para escalar ao ponto de conflito.
E o que têm a ver o Dakar com isto tudo? Ora, este ano é na Arábia Saudita, um país maioritariamente sunita. E os iranianos são xiitas. É como os católicos e os protestantes no século XVII: não se podem ver nem pintados a ouro. E para além da divisão dentro da religião, também tem a rivalidade regional. Em setembro, a maior refinaria de petróleo do mundo, situado no leste do país, foi atacado por drones desconhecidos, mas tudo indica terem sido drones iranianos, eventualmente mandados pela Guarda Revolucionária, provavelmente em jeito de provocação. E como o Irão também deseja ter o poder de fechar o Estreito de Ormuz, passagem de mais de um terço do petróleo saudita e de outros países da região, tentar algo desse género seria um passo mais para uma guerra aberta.
E como a Arábia Saudita está ao lado dos Estados Unidos, uma prova desportiva como esta tem os seus riscos. Afinal de contas, é algo do qual os sauditas servem como demonstração de relações públicas, de que são um país aberto e seguro. Imaginem algo que perturbe o Dakar ou o país por estes dias? Pois... esse é o risco.
É olhar atentamente para o que vai acontecer e esperar pelos próximos dias para saber até que ponto isto irá escalar. Uma retaliação iraniana - e isso será inevitável - acontecerá já o Dakar estará em ação, em pleno deserto. Veremos se não será perturbado.
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