quinta-feira, 15 de abril de 2021

O testemunho de um momento horrível


Por estes dias, o Brasil vai ver publicado mais um livro sobre Ayrton Senna. Mas não é um qualquer: tem a ver com Imola 1994. E mais do que ser do fim de semana, um dos mais horrorosos da história do automobilismo - apenas superado pelo acidente das 24 Horas de Le Mans de 1955, que matou 80 pessoas - é um momento vivido por alguém que esteve lá, e como marcou a pessoa que o escreve. 

Flávio Gomes é bem conhecido no meio automobilístico e jornalístico brasileiro. Colaborador em jornais e rádios por lá, desde o Estado de São Paulo à Rádio Jovem Pan, passando pela Fox Sports, colecionador de automóveis estranhos - tem Ladas, Trabants e um Renault Twingo vermelho maracujá que comprou no fim de semana a seguir a Imola! - agora foi para o Youtube e tem o seu canal que deu o nome de "Bem, Merdinhas!", mostrando que não tem papas na língua.

O título é "Imola 1994", e vem acompanhado pelo subtítulo "A trajetoria de um repórter até ao acidente que chocou o mundo", um acidente que, bem vistas as coisas, vai fazer 27 anos daqui a duas semanas, no sábado do GP de Portugal deste ano. A capa está ali em cima, tem de se ver como se pode adquirir a partir do estrangeiro...

Mas escrevo isto por causa de uma parte do livro que o Fábio Seixas mostrou na sua coluna no site UOL.com.br. E acho bem divertida e que mostra uma faceta do piloto brasileiro, mostrando que após estes anos todos, ainda há perolas que merecem ser reveladas.

Aqui vem a história:

"Senna odiava que encostassem nele. E quando aparecia algum cabra vestindo camiseta da seleção ou boné do Banco Nacional, ou ambos, enrolado numa bandeira do Brasil, era batata. O cara tentava um contato físico, queria passar o braço em torno de seus ombros, falava alto e espalhava perdigotos miseráveis. Esses personagens brotavam do chão. E, em algumas corridas, eram muito numerosos. 

O GP de Portugal, no Estoril, era especialmente dramático nesse particular. Apareciam torcedores brasileiros de todos os cantos, e eles partiam para cima de Senna com enorme desenvoltura e atrevimento. Faziam questão de conversar com o piloto, mostrar como conheciam sua carreira, demonstrar familiaridade com o tema e obter dois troféus: um autógrafo e uma foto.

Profissional compenetrado e obcecado pelo trabalho, Senna se incomodava muito com essas pessoas, especialmente quando partiam para as vias de fato - o famoso abraço para a foto. Não existiam ainda as selfies, e o fã desembestado, quando vislumbrava a chance, sacava de sua máquina fotográfica e entregava a quem estivesse por perto para registrar o momento histórico. Depois que revelasse a foto, mandaria ampliar e emoldurar para colocar num porta-retrato na mesa de trabalho, ou na parede às suas costas.

Quis o destino de uma pobre alma dessas que quem estivesse por perto de Senna no momento da aproximação infrene fosse eu, naquele fim de semana ensolarado de setembro de 1991 no Estoril. Conversávamos rapidamente enquanto caminhávamos para o motorhome, estava tirando alguma dúvida sobre alguma bobagem do carro, nada muito importante, quando o cidadão apalermado se achegou aos gritos e foi agarrando o piloto sem se importar minimamente com a interrupção do diálogo alheio, enquanto me entregava uma câmera que parecia cara e sofisticada. "Bate uma foto aí!", ordenou, sem se importar com o nítido desconforto do ídolo.

Peguei a máquina, simulei a correção do foco e fiz a foto. Mas na hora do enquadramento, desviei o equipamento ligeiramente para a direita, de modo que fosse registrado apenas o parvo abobalhado, tirando Senna da imagem. "Mais uma, mais uma se der problema na hora de revelar!", exigiu o pascácio aos berros, e no segundo clique abaixei a lente de maneira impercetível e tirei a foto dos pés dos dois personagens. Devolvi a câmera, ele a recolheu sem agradecer, falou mais alguma besteira descartável para Senna, deu-lhe um tapa nas costas - algo que ele só não odiava mais do que ser ultrapassado na pista - e seguiu seu caminho exultante, já imaginando a inveja que causaria nos amigos quando chegasse ao Brasil e mandasse revelar o filme.

"Folgado do caralho", Ayrton resmungou quando o estulto se afastou vibrando como se tivesse marcado um gol. "Esse aí vai me odiar para o resto da vida quando mandar revelar as fotos", respondi. "O que que você fez?", Senna perguntou, já antevendo a patifaria. "Primeiro tirei uma foto só dele. Depois, do joelho para baixo."

Poucas vezes vi Senna se divertir tanto. "Você não fez isso!", falou, quase gargalhando. "Lógico que fiz, puta mala, o cara não vê que estamos conversando? Interrompe os outros, não pede licença, não diz por favor, vai se foder!" E ele rindo: "Nossa, baixinho, como você é filho da puta!"

3 comentários:

joao carlos de godoy disse...

bom dia desculpe a sinceridade mas este fg nao passa de um oportunista mentiroso nao e piloto nao e escritor foi escurraçado e demitido por onde passou agora desempregado fica inventando fatos para tentar aparecer usa material do seu falando que e dele um verme e o que metade do brasil acha

João Carlos Viana disse...

E No final, Senna tinha razão...

Luiz Alberto Pandini disse...

Senna era um ser humano. Tem gente que parece simplesmente se recusar a aceitar isso.