segunda-feira, 27 de maio de 2024

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Há um domingo por ano onde ficamos pregados ao ecrã para ver automobilismo. Esse costuma ser no final de maio, mais ou menos entre o meio e o final primavera, e acontece nos dois lados do Atlântico, um na Europa e outro na América. 

E, de uma certa forma, este último domingo de maio de 2024 ficará na memória por muitos motivos.

No Mónaco, foi uma corrida que valeu por dois momentos. E o segundo entrou na história, não só do automobilismo, como a do próprio micro-estado europeu. Parecendo que não, o Mónaco é uma cidade-estado, reinado por uma monarquia, cujas garantias de existência são assegurados pela França. E não tem muitas coisas com que possa se representar. Por exemplo, não tem uma equipa nacional de futebol, e o seu principal clube joga na I divisão francesa.

E no domingo, fez-se história: desde 1929 que houve apenas um piloto monegasco a ganhar a corrida caseira. Foi em 1931, e quem o conseguiu foi Louis Chiron, um dos melhores pilotos da pré-guerra, que andou em carros da Bugatti, Alfa Romeo e Mercedes, entre outros. Em 1950, aos 51 anos, conseguiu ainda um terceiro lugar na sua corrida natal. E esse foi o único pódio na história da Formula 1, até chegar Charles Leclerc

Mas ele, até 2024, não tinha conseguido um resultado de relevo. Claro, uma pole-positon em 2021 que não resultou em nada - um acidente na qualificação resultou em danos internos que o impediram de correr - este ano, também resultou em pole-position, a primeira sem ser com Max Verstappen. Contudo, quem é monegasco, não quer saber muito se os dez primeiros são os mesmos que partiram. O que lhe interessa é que no domingo, fizeram história. 

Não é por acaso que Alberto II esteja feliz como uma criança naquele pódio. O seu pai, o principe Ranier, nunca viu uma coisa dessas, apesar de ter conhecido Louis Chiron. Mas ouvir o hino nacional monegasco naquele local... não tem preço. Não admira que ele chorasse no pódio. Quantas vezes ele não sonhou com este domingo?

E para o próprio Leclerc, não só é o final de uma corrida sempre marcada pela má sorte - nem um pódio tinha! - como de uma certa forma, conseguiu o seu sonho. E neste momento, irá pensar certamente no seu pai, Hervé, que morreu em 2017, quando o seu filho estava prestes a entrar na Formula 1. De onde estiver, tenho a certeza que está a comemorar o sucesso do seu filho. 

Quanto a Indianápolis, deveria ter acontecido quase uma hora depois da corrida monegasca. Mas na hora da corrida... os céus desabaram. Sim, previa-se chuva pelo meio dia e meia local, e quando aconteceu, interrompeu as cerimónias por mais de duas horas. Quando a chuva se foi embora e a pista começou a secar, viram que havia uma luta contra o tempo, porque havia um limite da corrida acabar pelas 20.15 locais, por causa da luz natural. Logo, tinham de correr rapidamente. 

Mas a chuva tinha limpou a pista, e com ela, a borracha acumulada. Logo, as chances de batidas iriam ser reais. E foi o que aconteceu... na segunda curva da pista, na primeira volta. E aconteceriam mais duas batidas - e o motor rebentado da Katherine Legge, a única piloto presente - antes da volta 50, para colocar a corrida perto do limite. No final, acabaram por ser oito, as situações da bandeiras amarelas. 

No final, como no ano passado, decidiu-se na última volta. Já com o lusco-fusco a envolver tudo, o mexicano Pato O'Ward, no seu McLaren, passou o Penske do americano Josef Newgarden, o vencedor das 500 Milhas do ano anterior, e parecia que ia a caminho da vitória. Mas na reta oposta, a duas curvas do final... ele reagiu e passou-o, para espanto de muitos... e júbilo de muitos outros. Porque ia fazer história.

Newgarden deu à Penske a sua 20ª vitória no "Brickyard", e pela primeira vez desde 2002, com Hélio Castro Neves, conseguiu repetir a vitória - "back to back", como afirmam os americanos. E claro, o delírio dos outros contrastou com a derrota de O'Ward: ele saiu do carro a chorar. 

E merecia: algumas voltas antes, controlou o carro por três vezes para evitar uma batida no muro que poderia ter terminado a sua corrida.       

Quanto à McLaren, que hoje tinha Mr. Brown... engraçado, mas real: nas três corridas de hoje, conseguiu ter um carro no segundo lugar: Jake Hughes na Formula E, Oscar Piastri na Formula 1 e agora, Pato O'Ward nas 500 Milhas. Como dixem os britânicos... "close, but no cigar".

Mas do final, valeu a pena estar acordado até perto da uma da manhã para assistir a isto. As 500 Milhas de Indianápolis são dos melhores espetáculos do automobilismo.

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