Num tempo não muito distante, era relativamente fácil seres um "all rounder". Praticar duas, três quatro ou mais desportos, só para mostrar as suas capacidades até poderá ser normal quando és uma criança, para saber em que és bom, mas fazê-lo na vida adulta, já não é tão fácil assim.
E o piloto que falamos hoje tem uma longa carreira desportiva. Hoje, recua-se muitos anos, até junho de 1955. Estamos em Zandvoort, palco do GP dos Países Baixos, e o automobilismo está ainda em choque com os eventos das 24 Horas de Le Mans, que tinham acontecido no fim de semana anterior. Corridas estavam a ser canceladas - e existia apelos para a proibição do automobilismo na Europa - e a Mercedes, dominadora do campeonato, sofria com a polémica, embora eles tenham sido os menos culpados do incidente.
E a Mercedes, ironicamente, era a marca dominadora na temporada da Formula 1, com Juan Manuel Fangio e Stirling Moss. Contudo, não corriam sozinhos: tinha a Maserati, Lancia e a Ferrari, e estes tentavam o seu melhor para os apanhar. Os italianos da equipa do tridente tinham dois bons pilotos: o italiano Luigi Musso e o argentino Roberto Miéres.
A corrida não teve história, exceto dois momentos: a luta que Luigi Musso deu aos Mercedes para os acompanhar, numa corrida extenuante - cem voltas à pista, quase 420 quilómetros! - e a perseguição que Mieres deu aos primeiros, ele que tinha partido de sétimo na grelha. Aos poucos, os carros alemães iam-se embora, e apesar de Moss ter sofrido uma fuga de escape que o deixou intoxicado, acabou a meio segundo de Fangio, o vencedor. Musso conseguiu o lugar mais baixo do pódio, e o único que os acompanhou. Mesmo assim, acabou a 57 segundos do vencedor. E os pilotos da Mercedes foram os primeiros a dar os parabéns pela sua performance.
Quanto a Mieres, conseguiu o quarto lugar, a uma volta, mas melhor ainda, conseguiu a volta mais rápida, que nesse tempo valia um ponto. E em conjunto com mais duas corridas onde acabou nos pontos, foi oitavo classificado de um campeonato encurtado pelos eventos de Le Mans.
Ele foi mais que um piloto de automóveis. No final da década, quando a sua carreira automobilística estava a chegar ao final, e era um dos representantes da Peugeot na América do Sul, o seu interesse pela vela, que tinha praticado na sua juventude voltou a alimentar e foi selecionado para representar o seu país, a Argentina, nos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma, na classe Star. Ali, encontrou-se com o Principe Bira, a única ocasião na história da competição onde dois ex-pilotos de Formula 1 participaram na mesma competição. Mieres foi o melhor sobre Bira, mas nenhum deles ganhou medalhas: o argentino foi 17º, o tailandês - que foi a todas a edições até 1972 - foi o 19º.
Anos depois, Mieres contou que quem o meteu nesse tipo de barco fora... Bira! "A primeira vez na vida subi para um Star, que era o meu barco de corrida com o qual fui olímpico e oito vezes campeão argentino, foi em Cannes. O Príncipe Bira levou-me a velejar durante um tempo. Também nos Jogos Olímpicos de 60 corri contra ele, ele pela Tailândia e eu pela Argentina”, recordou, numa entrevista feita em 1975 para um jornal argentino.
Roberto Casimiro Mieres, que tinha o apelido de "Bitito", morreu a 20 de janeiro de 2012, em Punta del Este, no Uruguai. Ele tinha nascido a 3 de dezembro de 1924 em Mar del Plata. Faria hoje cem anos.
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