Poucos sabem hoje em dia a maneira como o belga Jacky Ickx surpreendeu o mundo do automobilismo, mas o seu "cartão de visita" aconteceu no GP da Alemanha de 1967, no Nurburging Nordschleife, deixou toda a gente de boca aberta. E foi uma corrida de sonho, ao ponto de se pensar que poderia ter sido um candidato à vitória, apesar de andar... num Matra de Formula 2.
Ickx, que faz hoje 80 anos - nasceu no 1º de janeiro de 1945 - começou em cedo a competir, graças aos incentivos do seu pai, que também se chamava Jaques, e do seu irmão mais velho, Pascal Ickx, que tinha sido piloto de ralis nos anos 50. Em 1966, ganhou as 24 Horas de Spa-Francochamps, a bordo de um BMW 2000Ti, e quase a seguir, pulou para os monolugares, competindo na Formula 2, num carro inscrito por Ken Tyrrell. Em Nurburgring, acabou envolvido numa colisão com o carro de John Taylor, com este último a ficar gravemente ferido quando o seu carro pegou fogo. Taylor morreria três semanas depois, das queimaduras.
No ano a seguir, ele era de novo piloto da Tyrrell Racing Organisation, que nessa temporada inscrevera um chassis Matra e um motor Cosworth. Tinha ganho em abril no Nurburgring, e alguns dias antes, tinha também triunfado em Zandvoort, sendo o líder do campeonato - acabaria campeão nessa temporada. Quando chegou ao "Inferno Verde", ele iria fazer companha a mais nove carros de Formula 2, entre os quais Alan Rees - que iria ser o fundador da March e da Arrows - Jackie Oliver - futuro piloto da Lotus, BRM e Shadow, e outro futuro fundador da Arrows - e Brian Hart - que iria fundar a firma de motores com o seu nome.
Os carros de Formula 2 partiam numa grelha à parte dos da Formula 1, mas na qualificação, ele começou a surpreender tudo e todos quando conseguiu o terceiro melhor tempo na grelha, batido apenas pelo Lotus de Jim Clark e o Brabham de Denny Hulme, menos de 10 segundos do "poleman", o que ra um feito, uma pista de 23 quilómetros!
No dia da corrida, Ickx estava atrás de 17 carros de Formula 1, e tinha de os passar, para dar nas vistas. E foi o que fez: enquanto Clark ficava com a liderança, seguido por Hulme e o Eagle de Dan Gurney, Ickx começava a subir lugar atrás de lugar, passando pilotos mais lentos que ele. Cedo chegaria aos pontos, também ajudado pelas desistências dos Lotus de Clark, na quarta volta - suspensão quebrada - e de Graham Hill. Perto do meio da corrida, agora liderada por Dan Gurney, o piloto belga era quinto, atrás do BRM de Jackie Stewart. Pouco depois, o escocês tinha problemas de transmissão e desistia, deixando-o em quarto, atrás apenas de Gurney, Hulme e Jack Brabham. À medida que as voltas passavam, todos ficavam impressionados com a condução do jovem belga, que corria ali pela segunda vez naquela temporada, mas parecia um experimentado piloto. Mesmo depois de ter sido passado pelo Ferrari de Chris Amon, que ficou com o quarto posto.
Mesmo sabendo que ali, por conduzir um Formula 2, não iria pontuar. Eram as regras de então na competição...
Contudo, todas as estórias de Cinderella tem um final. E este não acabou à meia-noite. Na realidade, acabou na 12ª volta. Saltar em certas partes da pista causavam stress nas suspensões do carro, e a meio dessa volta, a suspensão do seu Matra não aguentou, dobrando-se e inutilizando o seu carro. Se tivesse aguentado, teria ficado, se calhar, com um lugar nos pontos, se calhar o quarto.
Mas mesmo não acabando a corrida, aquela fora uma tarde de sonho para o jovem belga. Nas semanas que seguiram, acabou por ganhar o campeonato de Formula 2 - foi o primeiro campeão da competição - e conseguiu a sua primeira chance de correr num Formula 1, num Cooper oficial, no GP de Itália, onde foi sexto... apesar de ter tido um furo na última volta! Tudo isso foi suficiente para atrair a atenção do "Commendatore" Ferrari, e no inicio de 1968, aos 23 anos, era piloto da Scuderia...
Dito isto, feliz aniversário a Jacky Ickx!
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