Na primeira imagem, os pilotos, juntos, em Coimbra, antes do Rali de Portugal de 2025. Na segunda, Henri Toivonen no rali da Córsega de 1986, preparando-se para mais uma etapa, a bordo do seu Lancia Delta S4 Rally de Grupo B.
O rali de Portugal de 2025 já acabou e de uma certa forma, foi um sucesso. estradas cheias de espectadores, emoção entre os pilotos e no final, menos de 20 segundos entre o primeiro, Sebastien Ogier, que ganhou aqui pela sétima vez, e Ott Tanak, que se não fosse os seus problemas no segundo dia, poderia ter sido ele a triunfar no rali.
Mas não foi nenhum desses momentos que ficou na memória deste rali. Foi o que aconteceu no primeiro dia, na sexta-feira. O rali, no geral, teve 24 especiais, espalhados por três dias. E no primeiro, tiveram onze, mais que o "normal", que costuma ser oito especiais. Foram apenas três a mais que o normal, mas começaram muito cedo, pelas seis da manhã, e acabou perto das onze da noite, ou seja, mais de 14 horas em cockpits que pareciam, como disse Kalle Rovanpera, "uma sauna mal construída".
Para terem uma ideia: os pilotos do WRC1 passaram 14 horas ao volante dos seus carros numa sexta-feira em que percorreram 683 quilómetros, dos quais 146 foram troços cronometrados, tudo isto com pouquíssimas pausas. Agora que o rali acabou, os pilotos decidiram falar em uníssono com o promotor do WRC sobre estas longas jornadas e este concordou com eles que algo deverá ser feito, com vista à implementação de um calendário mais equilibrado e sustentável a partir de 2026. E já não foi de agora: desde 2023 que eles querem ralis mais curtos, com menos ligações. E isto foi a gota de água, porque agora, os pilotos estão unidos pela WoRDA, a associação de pilotos.
Parecendo que não, por causa dos horários que tem de cumprir, e as ligações estão cada vez mais longínquas, os pilotos estão a ficar crescentemente cansados com tudo isto. São ralis feitos de forma compacta, com três dias. E é duro, muito duro.
Para terem uma ideia: os pilotos do WRC1 passaram 14 horas ao volante dos seus carros numa sexta-feira em que percorreram 683 quilómetros, dos quais 146 foram troços cronometrados, tudo isto com pouquíssimas pausas. Agora que o rali acabou, os pilotos decidiram falar em uníssono com o promotor do WRC sobre estas longas jornadas e este concordou com eles que algo deverá ser feito, com vista à implementação de um calendário mais equilibrado e sustentável a partir de 2026. E já não foi de agora: desde 2023 que eles querem ralis mais curtos, com menos ligações. E isto foi a gota de água, porque agora, os pilotos estão unidos pela WoRDA, a associação de pilotos.
Parecendo que não, por causa dos horários que tem de cumprir, e as ligações estão cada vez mais longínquas, os pilotos estão a ficar crescentemente cansados com tudo isto. São ralis feitos de forma compacta, com três dias. E é duro, muito duro.
E nisto, lembrei-me de Henri Toivonen e como eram os ralis nos tempos do Grupo B, onde muitos da minha geração "tem saudades". Nesses tempos, os ralis tinham 35, 40, 50 especiais, espalhados por quatro ou cinco dias, quase uma semana, por vezes. E havia ralis duríssimos, especialmente em África, como o Safari, no Quénia, e a Costa do Marfim. E claro, os pilotos sofriam, mas sobreviviam. Por pouco, muito pouco.
Os carros de 1986 eram rápidos e muito leves. Chassis tubulares, carros com uma pele de fibra de vidro, com turbocompressores, quando mais leve, mais rápido. Os pilotos, para poderem guiar estes carros, tinham de estar em forma. Mas mesmo em forma: não poderiam ficar doentes, porque assim, por exemplo, perdem tempo de reflexo, para poderem reagir rapidamente.
E Toivonen, nesses dias desse rali, estava doente. Estava constipado. Tinha de estar a tomar remédios para poder respirar porque tinha o nariz entupido. Se ficas doente, isso distrai-se. E o que perdes? Reação, tempo de reação. Daí explicar porque no local do acidente não haja marcas de travagem: não teve tempo para reagir. E houve outra coisa que ouvi falar, muitos anos depois. E de um dos pilotos da Lancia desse tempo: Markku Alen.
O senhor "Maximum Attack" disse, num programa de televisão finlandês, numa conversa descontraída com o Juha Kankkunen, que em 1986 era o piloto da Peugeot - e foi campeão desse ano, numa decisão controversa da FIA, mas essa é conversa para outro dia - que o Delta S4 não tinha uma coisa, pelo menos naquele rali: direção assistida. Se for verdade, acho um absurdo. Como é que uma prova, conhecida por ser "o rali das 10 mil curvas", não tem um carro que facilite o trabalho do piloto, especialmente alguém que estava doente e liderava com folga? Não admira que uma das suas últimas declarações gravadas em vida tivesse sido um lamento. Que tinha guiado um rali inteiro, quando ia a caminho da 18ª especial, aquela que acabou com a sua vida e a do seu navegador, Sérgio Cresto.
O espetáculo pode ser uma maravilha, mas a segurança tem de ser inegociável.
Nenhum destes pilotos esteve doente no fim de semana. Não são fracos, são profissionais, sabem o que passam, guiam carros destes a cada mês. Isto não é a Formula 1, onde os pilotos chegam ao circuito, ficam três dias e depois seguem para outra pista. E guiam máquinas difíceis. Comparem os andamentos deles a um piloto em part-time, seja um Rally1 ou um Rally2. Se o próprio Diogo Salvi, um amador de 55 anos, estava arrasado e perdia dois minutos em média em casa especial, comparado com um Ott Tanak ou um Kalle Rovanpera, bem mais novos e ultra-profissionais, se tem motivos de queixa com todas as condições que tem, então, há um problema e tem de ser resolvido.
E o calendário irá alargar-se para termos 15 ou 16 ralis em 2027. Jornadas exaustivas, tenho a certeza. Não quero ver mais pilotos atirados ribanceira abaixo porque simplesmente o corpo não aguentou. Porque se isso acontecer, voltaremos a 1987. E serão Rally3, garanto-vos.


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