Hoje vou um fugir um pouco ao assunto, para falar de um assunto do qual fui fazer um trabalho na semana passada, e a razão pelo qual faço isto é que achei tão engraçado e tão invulgar que merece um post aqui.
De quando em quando faço uma colaboração num jornal local, o "Correio de Leiria", cujo proprietário é um antigo colega de escola, o Adélio Amaro. Basicamente, o jornal é um Jornal de Letras em ponto pequeno, a nível local, daí a periodicidade da coisa seja mensal. no passado dia 5, o escritor e jornalista Baptista-Bastos (B-B) veio à minha terra para apresentar o seu mais recente romance: "As Bicicletas em Setembro".
Esse livro retrata as intrincadas relações humanas existentes, das solidões, desilusões e derrotas que a vida proporciona, através da personagem principal, uma matriarca de seu nome Jesuina. B-B confessou que estava céptico do sucesso do seu livro, pois afirmou que aquilo que foi publicado corresponde a apenas um terço daquilo que escreveu. “Cortei muito, muito”. Só se apercebeu do contrário quando, depois de ter enviado alguns exemplares a amigos como Eduardo Lourenço e Francisco José Viegas, lhe terem dito que adoravam a obra. Este último disse até que finalmente, Baptista-Bastos tinha criado uma personagem feminina, a Jesuína, que iria ser o motor da história. Uma mulher que, segundo ele, se inspirou na sua avó e nas suas tias, que o criaram desde novo, após a morte da sua mãe.
Mas o mais interessante disto tudo nem é o livro em si. É o escritor, que para caracterizar as suas opiniões, tem um modo peculiar que o caracteriza: um inconformista com o actual estado das coisas, especialmente quando fala da escrita e do jornalismo. Sobre o primeiro caso, criticou vivamente o actual panorama literário do país, afirmando que não informam o leitor sobre a época e a sociedade em que se vive, algo que acontecia nos livros de Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco ou Cesário Verde. “Se (o livro) não dar informação, é um onanismo, uma masturbação.” Citou André Gide quando afirmou que “não é com bons sentimentos que se faz boa literatura”.
Mais tarde, numa sessão de perguntas e respostas que teve tanto de divertido como tenso, B-B insurgiu-se contra os “epifenómenos” da actualidade, como Miguel Sousa Tavares e o seu “Equador”: “Não li, não leio e nunca lerei o livro”, ou Margarida Rebelo Pinto e José Rodrigues dos Santos, que nem sabia dizer correctamente os seus nomes!
Em relação ao jornalismo, B-B declara que escreve actualmente nas suas colunas (tem duas: no Diário de Noticias e no Jornal de Negócios) “porque sou um sarrafeiro”. Ele afirma que não há uma imprensa nacional, porque todos escrevem acerca a sua cidade. Quanto à televisão, afirmou que vai lá para mostrar a sua face de anarquista: “Só vou à televisão para falar mal dos governos, qualquer um que seja.” Quanto à frase que o marcou, no programa “Conversas Secretas”, da SIC, disse que “só fiz essa pergunta umas três vezes e deu dois livros de Sociologia”, o que revela o impacto que isso causou.
Confesso que me diverti muito com as bocas qua mandou. E diverti-me ainda mais com algumas rsspostas indignadas e espantadas de alguns dos membros da assistência. A ideia que fiquei de certas pessoas é que reverenciam demasidado certas pessoas. É que algumas delas nem sequer merecem o nosso respeito. Quanto ao B-B, esse sim, tiro-lhe o meu chapéu, mas às vezes, parece que exagera...
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