Pois é... este era um fim esperado. Os testemunhos indicaram, afinal, que ela não sairia dali viva: à saída de um comício, na cidade de Rawalpindi, um homem disparou uma rajada da sua AK - 47 contra o carro onde seguia Benazir, atingindo-a no pescoço, momentos antes de activar o cinto de explosivos que trazia consigo, matando mais 16 pessoas. Tinha 54 anos, por coincidência, a idade da minha mãe.
Foi primeira-ministra por duas vezes (1988-90, 1993-96) e era filha de Ali Buttho, um dos poucos primeiros-ministros civis que o país viveu, e que foi derrubado há 30 anos por um general, Zia al-Uhaq, que o mandou executar. Foi presa e depois enviada para o exilio, na Grã-Bretanha. Quando voltou, em 1986, foi recebida como se fosse a encarnação de uma deusa, e foi eleita. Mas quando esteve no governo, o poder assomou-a: num país dominado pela corrupção, o seu marido, Asif Ali Zadari, era conhecido no país pelo "senhor 10 por cento", pelos comissões que ele arranjou durante o tempo em que a sua mulher esteve no poder. Hoje em dia, fala-se que a familia tem uma fortuna avaliada em 1,4 mil milhões de dólares...
Mas o engraçado é que isso não deu cabo da reputação. Perlo contrário: o seu estilo popular, de estar em contacto com a população, granejou a simpatia para além da sua provincial natal, o Sind, no centro do país. Mesmo no exílio auto-imposto, primeiro em Inglaterra, depois no Dubai, a popularidade continuava a existir, especialmente depois do golpe de estado que colocou o General Pervez Musharraf no poder, em 1999.
Ela, tal como o outro ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, voltaram ao país em Setembro e Outubro deste ano, depois de alegadamente terem feito um acordo com o General. No caso dela, tinha a ver com uma eventual amnistia as acusações de corrupção. Mas quando voltou, a 18 de Outubro, para além de ter 300 mil manifestantes a recebê-la de braços abertos, tinha também vários bombistas suicidas que minaram a caravana. Resultado: 180 mortos.
Depois houve aquela declaração de estado de emergência (mais foi um golpe de estado), a 3 de Novembro, no sentido de tirar do lugar todo o Supremo Tribunal, hostil ao General. Durou pouco tempo, mas resultou. E agora havia eleições legislativas marcadas para o dia 8 de Janeiro, que provavelmente levariam de novo Benazir ao cargo de primeira-ministra. Uma combinação explosiva no horizonte...
Então, quem a matou? O mais conveniente seriam os "talibans", mas no final, pode ser o resultado da combinação volátil entre os serviços secretos paquistaneses (que não própriamente o dedinho de Pervez Musharraf) e os extremistas islâmicos. Como viam que agora o Ocidente poderia ter mais do que uma personalidade válida para combater o extremismo islâmico no seu país, para além do General, trate-se de a eliminar, de perferência, antes das eleições do dia 8 de Janeiro. Ora, isso, num país que têm a bomba nuclear há 10 anos, não são boas noticias...
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