quarta-feira, 26 de maio de 2010

Alberto Ascari, superstições e a maldição do numero 26

Alberto Ascari foi um dos grandes pilotos italianos do século XX automobilístico. Demasiado novo para correr nos “Grand Prix” dos anos 30, ao lado de Tazio Nuvolari ou de Nino Farina, para não falar dos alemães como Bernd Rosemeyer ou Rudolf Caracciola, Ascari teve tempo para correr ao lado de outras lendas do automobilismo como Juan Manuel Fangio, Nino Farina, Luigi Fagioli e Froilan Gonzalez. E correu quase sempre pela Ferrari, com passagens pela Lancia e Maserati.

No final de 1954, Ascari estava a iniciar a Lancia na sua aventura na Formula 1, com o modelo D50, projectado pelo legendário Vittorio Jano, e que tinha um motor V8. O projecto estava a custar muito dinheiro à Lancia, mas parecia que tinha potencial para vencer e ser o maior rival da Mercedes, que tinha entrado de rompante no inicio dessa época, vencendo o Mundial, com Juan Manuel Fangio ao volante. Ascari era o piloto principal da marca, e quando estreou o modelo, no circuito de Pedralbes, em Barcelona, conseguiu a “pole-position” e fez uma boa corrida, até desistir com problemas de embraiagem.

A temporada de 1955 também não começara bem, pois desistira na Argentina, não conseguindo aguentar o calor sufocante daquele mês de Janeiro em Buenos Aires. No Mónaco, foi o único carro que conseguia seguir os Mercedes de Fangio e do jovem piloto britânico Stirling Moss, e parecia que ia aproveitar a oportunidade concedida quando ambos os carros desistiram: Fangio na volta 49 e Moss na volta 81.

Só que de forma inexplicável, na volta seguinte, Ascari falha a entrada na chicane do Porto e mergulha nas águas da baía de Monte Carlo. Felizmente consegue sair do carro com escoriações e um nariz partido, passando a noite no hospital para observação.

Ninguém consegue dar uma explicação cabal sobre o acidente. Uns dizem que foi pura distracção, outros atribuem ao cansaço devido às muitas voltas dadas até então (algo que iria matar o seu compatriota Lorenzo Bandini doze anos depois) ou então que se tenha escorregado no óleo do Mercedes de Moss. O carro foi retirado das águas algumas horas mais tarde.

Ascari teve alta do hospital e logo a seguir foi para Milão. Quatro dias mais tade, na quinta-feira, 26 de Maio de 1955, estava em Monza, de visita a Eugenio Castelloti, que testava um Ferrari 750 Monza para o Supercortemaggiore 1000. Ambos iriam conduzir esse carro, graças a um acordo de cavalheiros entre a Lancia e a Ferrari. Ascari nem tinha de estar ali. Só para terem uma ideia, o seu capacete azul-marinho, sem o qual não poderia correr, estava na loja para ser reparado. E não tinha fato de competição.

Antes de voltar para Milão, para almoçar com Mietta, sua mulher, pediu o capacete de Castelloti e foi dar umas voltas com o carro. Certamente queria testar se a sua condução estava intacta depois daquele mergulho monegasco, mas o facto é que após algumas voltas, quando passava pela Curva de Vialone, o seu carro catapultou no ar por duas vezes. Ascari foi projectado do carro e morreu quase de imediato. Tinha 36 anos.

Aqui começam as coincidências. Alberto Ascari tinha 36 anos de idade, tinha ganho 13 Grandes Prémios e morrera num dia 26. O seu pai Antonio Ascari, um dos grandes corredores dos anos 20 pela Alfa Romeo e Fiat, morrera também num dia 26, a bordo de um carro com o número 26 e também tinha 36 anos quando morreu. E também, nova coincidência, num carro com o numero 26.

Alberto conduzia no Mónaco o seu Lancia com o numero 26, e quando largou no meio da primeira fila dessa corrida, tinha a seu lado o Mercedes de Fangio, com o numero 2, e o outro Mercedes, o de Moss, com o numero 6. Juntam-se os dois e dá… 26.

Um dos que estavam no local foi o fotógrafo francês Bernard Cahier, que fotografou a Formula 1 por mais de 35 anos, e estava em Milão por altura do seu acidente fatal. Ele contou o episódio vários anos mais tarde: “Estava em Milão, a caminho de Monza, e ouvi um grande alvoroço, com alguém a dizer que Ascari tinha morrido. Fui para o circuito e encontrei Eugénio Castelloti. Contou-me que estava a fazer os testes do novo Ferrari 750 Sport - um carro muito rápido e igualmente perigoso – quando Ascari, curioso, quis dar uma volta. Nem tinha levado capacete, e acabou por usar o de Castelloti. Era hora do almoço e não se sabe o que aconteceu. Talvez um pneu rebentado ou um diferencial partido, só se sabe é que despistou e morreu.”

Uma coincidência final: dez anos mais tarde, outro piloto cai á água nas ruas do Principado. Trata-se do australiano Paul Hawkins, que apesar de sobreviver ao acidente, terá um final trágico numa corrida de Turismos no circuito inglês de Oulton Park. A coincidência é que ele morrerá num dia 26 de Maio…

Após o acidente de Ascari, a Lancia decidiu abandonar a competição no final da época e cedeu os seus carros à Ferrari, rebatizando-os de Lancia-Ferrari. Juan Manuel Fangio foi para lá em 1956 para vencer o seu quarto título mundial, após a retirada da Mercedes após a catástrofe nas 24 Horas de Le Mans. Foi a única vez que Enzo Ferrari venceu corridas com os carros de outro construtor. Um dos pilotos que conduziu esse carro foi Eugénio Castelloti, considerado como um digno sucessor de Ascari, mas quaisquer esperanças terminaram a 13 de Março de 1957 quando morreu no circuito de Modena, ao testar um carro de Sport para as 12 horas de Sebring. O carro capotou várias vezes e ele teve uma fratura craniana fatal.

Quando à curva onde Ascari perdeu a vida, ela foi transformada em 1972 numa chicane, batizada convenientemente de Variante Ascari. E a Itália ainda procura hoje por um campeão do mundo.

Sem comentários: