Fui operado há quatro dias, para tirar mais uma parte do meu corpo. Depois de umas amígdalas, um apêndice e cerca de 30 centímetros de intestino delgado, foi a vez de despedir de vez da minha vesícula. Todos desaparecidos, fazendo parte da matéria incendiária de um forno qualquer, feito para fazer desparecer resíduos hospitalares de um dia para o outro. Aos poucos, desfaço-me de mim mesmo para poder ganhar mais algum tempo da vida.
Acho engraçado que isto acontece numa altura em que a Formula 1 passa por um processo semelhante. Desde 2005 que o numero de carros na grelha não é tão baixo. As coisas estão assim tão complicadas que até esta sexta-feira de manhã, quando liguei a televisão, vi que era matéria de abertura na CNN, pois isto acontece no fim de semana do GP dos Estados Unidos, em Austin. Não é nada que não saibamos, quem lê e ouve os rumores sabia que isto iria acontecer, mais cedo ou mais tarde. E sabemos das razões, escuso de as dizer porque já escrevi sobre elas ao longo deste tempo todo. Basta fazer uma simples pesquisa e irão ler isso, mas posso colocar aqui uma das minhas crónicas sobre a tal crise que coloca a Formula 1 entre a espada e a parede.
Também acho que estas novidades deveriam ser um motivo para reflexão sobre o futuro. Sobre a distribuição dos dinheiros, sobre quem deveria receber o quê, sobre se deveria haver um limite a quanto gastar e como gastar (uma equipa gasta em média 94 milhões de euros por temporada!) e se querem abrir a todos ou transformar numa coutada elitista que terá uma tendência autofágica para gastarem cada vez mais e pior, até que um dia, a bolha expluda e todos saiam a perder. Cada vez mais me convenço que a história dos três carros por equipa é só uma maneira de tapar um remendo para o futuro próximo, e não é uma garantia de sobrevivência. Quanto muito, irá tirar às equipas do meio a possibilidade de pontuarem mais vezes, como fazem a Force Índia e a Williams agora. E se tal acontecer, vai reduzir as nove equipas para oito ou até seis. E quando tivermos seis equipas com três carros cada um, a solução será implantar mais carros até que o último fique e coloque em pista todos os carros necessários para a preencher a grelha? Se calhar, a ideia é essa.
(Contudo, ouvi esta semana que poderia haver dois irmãos indianos que poderiam comprar a Marussia. A ser verdade e a acontecer, poderia evitar o desaparecimento de uma equipa e haver a transformação que aconteceu com a Force India, depois de esta ter comprado a Spyker em 2007. Veremos.)
Para finalizar, tenho de falar de Jules Bianchi. Há uns dias, falava com um amigo meu sobre se nós tínhamos esquecido dele. Eu respondi logo que não, e que nestas coisas, as noticias serão sempre escassas e a evolução é lenta e imprevisível. Acho que não é todos os dias que deveríamos falar sobre ele, porque vai haver uma altura em que não teremos mais nada para dizer. E também acho que se deveria evitar entrar numa tentadora "caça às bruxas", como normalmente acontece quando as coisas correm mal. De uma certa maneira, o acidente fez lembrar na necessidade de provavelmente, discutir a cobertura dos "cockpits" no sentido de proteger os pilotos deste tipo de acidentes. Contudo, ainda subsistem as duvidas para saber se esses cockpits aguentam impactos desse tipo e mais importante, descodificar a "quadratura do circulo": como fazer os carros suficientemente seguros, sem perder a visibilidade que eles têm agora?
Contudo, tenho de dizer isto: quatro semanas depois, não vejo sinais claros de recuperação. Parece que os piores receios estão a acontecer. E tão mau como a morte, é a incapacidade permanente. Temo que estejamos a assistir a uma morte ao retratador.
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