Durante anos a fio, o Mundial de Ralis foi uma coutada. A coutada dos Sebastiões, para ser mais preciso. Desde 2004 que o campeão do mundo é sempre francês, e sempre se chamou de Sebastien. Primeiro Loeb, que até 2012, e sempre pela Citroen, lutou contra Fords e finlandeses - primeiro Marcus Gronholm, depois Mikko Hirvonen - mas venceu sempre. O seu grande rival acabou por ser outro Sebastian, Ogier de apelido, que em 2008, aos 25 anos, e com o campeonato junior pelas suas costas, desafiou Loeb de tal forma - em 2010 - que a equipa francesa se tornou um lugar demasiado pequeno para ambos.
Valeu a Volkswagen, que apareceu e ficou com os seus serviços, e com grande proveito. Quando Loeb pendurou o capacete e largou a coroa, no final de 2012, Ogier sucedeu-lhe, conquistando os títulos seguintes. Agora tricampeão, Ogier ganhou os dois primeiros ralis do ano, em Monte Carlo e Suécia, e parece que vai a caminho do seu quarto título mundial consecutivo.
Mas há uma coisa interessante a acontecer neste Mundial de 2016. É que no final deste rali da Polónia, ganho pelo norueguês Anders Mikkelsen, tornou-se no quinto rali consecutivo em que temos um vencedor diferente. E isso já não se vê há muito tempo. E melhor: se o vencedor tivesse sido Ott Tanak - e andou perto, como toda a gente sabe - teriamos tido uma situação onde todas as marcas presentes teriam ganho pelo menos um rali neste Mundial.
Parecendo que não, o Mundial WRC de 2016 está a ser inesperadamente competitivo. Desde o rali da Suécia, já vimos Hayden Paddon a estrear-se na galeria dos vencedores, na Argentina, Thierry Neuville a dar mais mais uma vitória aos coreanos, pouco depois, na Sardenha, e até Kris Meeke, que está a fazer uma temporada em "part-time", pois está a desenvolver o Citroen C3 para 2017, fez uma perninha em Portugal para o vencer. E Jari-Matti Latvala também já venceu, depois de ter perdido o rali da Argentina devido a um despiste, quando estava perto da vitória.
E a grande ironia é que acontece numa altura em que o WRC se prepara para ter novos regulamentos em termos de carros e de potência. Esta vai aumentar dos atuais 300 para os 380 cavalos, com um pouco menos de peso - vai baixar para os 1200 quilos - e as entradas de ar vão ser mais largas, fazendo com que se lembrem dos carros do Grupo B, que deram nas vistas na década de 80. Ainda por cima, a Toyota prepara-se para entrar no WRC, fazendo companhia às outras quatro marcas, tornando a série mais competitiva.
Mas sabendo nós que o WRC agora ganhou mais competividade - e não falamos da escassa diferença entre os pilotos nestes últimos ralis - porque não temos mais tempo de antena. Duas boas explicações, uma mais estrutural, outra mais conjuntural. Os ralis não têm (e nunca tviveram) tanto público quanto a Formula 1, que está centrada na Europa, apesar de voltar a haver um rali na China, após 17 anos de ausência, e o segundo, tem a ver com o título mundial. Apesar do equilibrio e a variedade em termos de vencedores. o facto de Sebastien Ogier continuar a ser regular no campeonato faz com que a diferença para a concorrência ser quase do dobro. Cinquenta e um pontos separam Ogier de Mikkelsen, seu companheiro na Volkswagen, o que signfica que, a este ritmo, o francês vencerá o título no Rali da Catalunha, a duas provas do final.
Mas mesmo assim, o Mundial WRC é algo que merece ser seguido por estes dias. Veloz e competitivo, o campeonato deste ano arrisca a ser um dos mais memoráveis da história, apesar de termos um campeão quase anunciado.
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