(...) Era um dos verões mais quentes de que havia memória na Europa. Os Jogos Olímpicos tinham acabado de começar na cidade canadiana de Montreal, mas em Paris, Berlim ou Madrid, os europeus derretiam-se nas fontes, praias e rios, desesperadamente procurando por sombra e água fresca.
O campeonato de Formula 1 parecia ser a demanda de um homem só: Niki Lauda e a sua Ferrari. Antes do GP de França, que tinha decorrido duas semanas antes, em Paul Ricard, o austríaco tinha tido a sua primeira grande quebra mecânica no seu carro, permitindo que James Hunt pudesse ganhar a sua segunda corrida do ano, depois de ter conseguido em abril no circuito de Jarama, palco do GP de Espanha. Mas os comissários tinham o desclassificado por causa de uma asa traseira fora do regulamento, algo que a McLaren tinha recorrido à FIA. Antes de França, a diferença entre Lauda e Hunt era de… 47 pontos, pois Lauda tinha 55, e Hunt… oito.
Mas em poucos dias, o britânico tinha conseguido dezoito pontos, pois para além dos nove alcançados em terras francesas, recuperou os outros nove da vitória espanhola. E com Lauda com menos três pontos – tinha sido segundo em Jarama – a diferença tinha sido reduzida em 21 pontos. Assim, o britânico da McLaren era um destacado segundo classificado, conseguindo superar o sul-africano da Tyrrell, Jody Scheckter.
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Tempos antes, os comissários da Royal Automobile Club (RAC) decidiram que os pilotos estavam proibidos de recorrer aos seus carros de reserva, sob pena de desclassificação. Nesse tempo, os organizadores tinha poder de decidir em mais alguns itens do regulamento, deixando à FIA os regulamentos mais gerais, flexibilizando as regras em favor de estas ou aquelas equipas, que muitas das vezes aproveitavam.
Para além disso, disseram que, mesmo em caso de acidente, os pilotos só poderiam entrar na corrida se tivessem de cumprir uma volta inteira no circuito. Ora, Hunt estava com danos na sua suspensão, e se fizesse tudo, corria o risco de destruir o seu carro. Assim, depois da Druids, deu meia volta e enfiou o carro nas traseiras das boxes, para cortar caminho e poupar o carro. Algo que a Ferrari aproveitou e decidiu protestar.
Os comissários também viram aquilo que Hunt tinha feito e decidiram que Laffite, Regazzoni e Hunt não iriam participar na segunda partida, por várias razões. No caso dos dois primeiros, foi por causa do carro de reserva, e no caso do britânico, foi por ele não ter completado a volta.
Quando a decisão de excluir Hunt foi publicitada nos megafones do circuito, esta foi muito mal recebida nas bancadas. Primeiro, a multidão assobiou para os comissários, mas as coisas pioraram nos minutos a seguir, com cânticos e reações negativas, atirando com tudo o que tinham à mão. Primeiro, baixinho, mas depois de modo mais estridente nas bancadas na zona da meta e da curva seguinte, a Paddock Hill Bend, os espectadores gritavam: “nós queremos o Hunt, nós queremos o Hunt”. O cântico continuou, cada vez mais alto e cada vez mais forte, impressionando todos os que estavam a reparar os carros afetados, mas os comissários estavam irredutíveis na sua decisão de não deixar Hunt participar na segunda partida.
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No próximo dia 18, cumprem-se 40 anos do GP da Grã-Bretanha, que passou para a historia como uma das corridas mais épicas e controversas daquela temporada. James Hunt levou a melhor sobre Niki Lauda, e continuava na recuperação da desvantagem para o austríaco. Contudo, as circunstâncias dessa prova fizeram com que a Ferrari contestasse o resultado, que foi só resolvido dois meses depois. E durante esse tempo, muito mudou...
Este mês, no Nobres do Grid, escrevo sobre isso.
Este mês, no Nobres do Grid, escrevo sobre isso.
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