segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A imagem do dia

Hoje em dia, ver pilotos a comemorar o Ano Novo longe das suas familias porque no dia seguinte vão começar a correr, é algo do qual só vemos no Rally Dakar. Mas meio século antes, não havia "rally-raids" como este, mas sim o GP da África do Sul, no circuito de Kyalami.

Sim, Jim Clark, Graham Hill, Jackie Stewart, Dennis Hulme ou Jack Brabham estavam em paragens sul-africanas para disputar a primeira prova de um campeonato que só retomaria... quatro ou cinco meses depois, em paragens europeias. Pelo meio tinham a Tasman Series, e sempre achei estranho porque é que os GP's da Austrália e da Nova Zelândia não faziam parte do calendário da Formula 1. Para mim, a única razão tinha a ver com a potência dos carros que participavam nas Tasman Series, que era diferente em termos regulamentares. Bastava uma unificação das séries, e se calhar teriamos a Formula 1 a correr há mais de 50 anos na terra dos cangurus, em vez dos trinta e um que leva agora.

Mas em 1967, a corrida em Kyalami, que aconteceu no segundo dia do ano civil, tornou-se num dos mais memoráveis da história do automobilismo. Não tanto pela lista de inscritos algo exótica - os sul-africanos do campeonato local apareceram em força, para correr ao lado dos consagrados - mas por aquilo que foi e o que poderia ter sido.

Os mexicanos comemoram hoje os 50 anos da primeira vitória de Pedro Rodriguez, mas poderíamos comemorar o aniversário da vitória de... John Love. Quem? Provavelmente o primeiro (e único) rodésiano (agora zimbabweano) que alcançou um pódio. Ficou em segundo lugar na corrida, mas a pouco mais de dez voltas do fim... liderava, a bordo de um Cooper que tinha um motor Climax com especificações... de Tasman Series, modificado para ser parecido com um motor de 3 litros. E digo "modificado", porque na realidade, tinha 2,7 litros.

No final, o pequeno depósito de gasolina que ele tinha não lhe dava para percorrer tudo até ao fim, logo, a vitória caiu ao colo de Pedro Rodriguez. E para ele, aos 26 anos de idade, e a fazer a sua primeira temporada a tempo inteiro - já veterano e já com fama na Endurance - parecia que aquela vitória em paragens sul-africanas tinha valido a pena, mais de três anos depois de ver o seu irmão Ricardo morrer, vitima da Curva Peraltada. Pedro Rodriguez poderia ser um dos vencedores mais inesperados, mas era mais conhecido do que... John Love. E se a vitória de Rodriguez tem o seu quê de fantástico, a realidade é que passamos ao lado da vitória mais sensacional da Formula 1, e provavelmente uma das vitórias mais sensacionais da história do automobilismo.

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