segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Procuradores de atenção, quem diabos são eles?

Esta semana que passou, entre Austin e a Cidade do México, anunciou-se um negócio do qual muitos ficaram... e não ficaram surpreendidos. A firma em questão queria entrar fortemente na Formula 1, mas o sítio no qual acabaram por fazer negócio foi inesperado.

Formalizando: A Haas F1 fechou um negócio com a Rich Energy. O valor é desconhecido, e fala-se que com este negócio, os carros serão desenhados e pintados de modo diferente em 2019. 

O problema deste negócio é que tudo isto não tem muito por onde se pegar. E o senhor que está por trás disto, William Storey, como disse acima, quer há muito entrar na Formula 1. E adora atenção.

Desde 2016 que se fala da Rich Energy e de Storey. Primeiro, que tinha fechado negócio multianual com a Formula 1 - que não resultou em nada. Depois, no inicio de 2018, queria comprar a Force India, chegando a oferecer 280 milhões de libras pela marca, em conjunto com alguns parceiros, mas quer o negócio, quer os parceiros, não avançaram. E em julho, quando a marca pediu proteção aos credores, a Rich Energy chegou a mostrar nas redes sociais um contrato assinado com a marca no sentido de injetar dinheiro na equipa. Lawrence Stroll comprou-a, apesar dos protestos deles. 

E quando no inicio do mês a Racing Point, substituta da Force Índia, disse que tinha pago as dividas antigas, incluindo as vindas de patrocinadores, não se viu nada vindo da Rich Energy.

Agora, ultimamente, parecia que tinha negociado com a Williams, antes de se virar para a Haas. Veremos no que irá dar, mas daquilo que se lê tem mais de "marca fantasma" do que algo com substância. E já houve  exemplos do passado, começando no final dos anos 70... na área do petróleo.

Em 1979, vivia-se o segundo choque petrolífero, seis anos depois do primeiro. David Thiemme, um americano radicado na Suíça, ganhava dinheiro com as transações bolsistas. Segundo ele contava, tinha ganho 70 milhões de dólares só nesse ano. Impressionava todos com a sua marca, a Essex, e impressionou o suficiente para convencer Colin Chapman, da Lotus. Chegou a meio de 1979, e a seguir, partilhou o muro das boxes com o fundador da Lotus ao longo de 1980. E pelo meio havia tanto dinheiro que, quando o modelo 81 foi apresentado, no Royal Albert Hall londrino, todo aquele aparato tinha custado um milhão de libras.

Então um dia, a Interpol o deteve quando chegou a Genebra devido a desvio de fundos. Ele tinha entrado em litígio com a Credit Suisse, o banco no qual tinha feito uma parceria. Ele foi libertado sem processo, inocente, mas o estrago estava feito. A Essex desapareceu de cena a meio de 1981, tão rapidamente como tinha entrado, e nunca mais se soube de Thiemme.

Nove anos depois, em 1989, entre as novas equipas na Formula 1 surgia a Onyx. A escuderia tinha nascido oito anos antes na mão de Mike Earle, que tinha montado na Formula 2 e desejava tentar a sua sorte mais acima com Riccardo Paletti como piloto, mas não deu. Somente em 1988 tentou de novo, graças a Bertrand Gachot, que tinha algum dinheiro no bolso. Só que o piloto belga tinha conhecido um compatriota seu, Jean-Pierre Van Rossem, então com 43 anos, que se movia na área financeira. Genial e excêntrico, alegava ter conseguido um programa de computador infalível, inventado por ele, que permitia dobrar os seus ganhos na bolsa. Chamou-o de "Moneytron" e duplicou o dinheiro que Gachot tinha no bolso para a Formula 1 - passou de dois para quatro milhões de dólares.

Só que Van Rossem adorou a ideia e as luzes da ribalta da Formula 1 e comprou a Onyx, com o objetivo de levar a sua adiante. Como é conhecido, a equipa fez alguns brilharetes em 1989 - o pódio de Stefan Johansson no Estoril foi um deles - mas no final do ano, e depois de muitas brigas - despediu Gachot por causa de... umas declarações à imprensa! - Van Rossem ficou sem dinheiro e foi-se embora. A Onyx, sem financiador, e com as contas a acumularem-se, vendeu para a Monteverdi e acabou a meio de 1990, sem gloria.

Quanto a Van Rossem, meteu-se na politica, chegando a ser deputado no parlamento belga. Mas tudo isso porque... queria fugir aos tribunais, devido a fraudes fiscais e financeiros. Lembram-se da Moneytron? Era mais um "Ponzi Scheme" do que algo palpável, e Van Rossem cumpriu pena de prisão efetiva. Mas ele anda por aí, sempre excêntrico e bombástico. 

É certo que as bebidas energéticas são as tabaqueiras dos nossos dias, mas a tática deles não é nova. Há vinte anos, duas marcas fizeram o mesmo: a Hype e a T-Minus. A primeira foi fundada em 1993 pelos donos da Planet Hollywood e quando apareceu nos flancos dos Williams de Damon Hill e Jacques Villeneuve, em 1996, muitos ficaram surpreendidos pela marca, e especialmente quando descobriram o modelo de negócio: primeiro falam muito, depois vendem a bebida. Aliás... é Hype, não é?

No final, a Hype Energy foi vendida no ano 2000 ao seu atual proprietário: o ex-piloto de Formula 1... Bertrand Gachot. Sim, é verdade! E hoje está nos flancos dos Force India, enquanto em termos de distribuição, é modesto, comparado com a Monster e a Red Bull. 

Quanto à T-Minus, foi um esquema do principe nigeriano Malik Ado Ibahim, que queria ter uma equipa de Formula 1. E tudo aconteceu no inicio de 1999, quando a Arrows recebeu uma proposta que envolvia um investimento de... 125 milhões de dólares, que lhes poderia dar motores competitivos e melhores pilotos. Claro, isso foi o suficiente para que Tom Walkinshaw lhe dar uma parte da equipa (30 por cento), enquanto convencia a firma Morgan Greenfell a ajudar na operação de aquisição.

O problema é que Malik parecia ser um "attention seeker", que gostava de publicidade. Como o nosso amigo da Rich Energy. E é aí que aparece a T-Minus, pois a bebida serviria para ganhar dinheiro. Mas primeiro tinha de ganhar nome para ganhar dinheiro. Estranho, hein? 

Claro que não iria dar certo. Pouco depois, Ibrahim desapareceu de cena, a T-Minus também e dinheiro... zero. o Joe Saward disse depois que essa operação valeu absolutamente nada. O resto da história é triste: a Arrows desapareceu a meio de 2002 e Walkinshaw saiu da vida e passou à história oito anos depois, na Austrália. E quanto a Malik, anda entre a Nigéria e os Estados Unidos, na industria energética... e com problemas na justiça. Em 2010 a justiça texana processou Malik devido a um desvio de 200 mil dólares na companhia The Bridge, especializada em energias renováveis.

A Formula 1 sempre foi um lugar onde estão imensas luzes da ribalta. E sempre existiu imensos "atention seekers" que, com uma fortuna nas mãos, conseguem convencer donos de equipa de que a injeção de dinheiro poderá ser a sua salvação. Em troca de mediatismo. Chamem David Thiemme, Jean-Pierre Van Rossem, Ibrar Abdo Malik ou agora, William Storey.  

1 comentário:

Fox disse...

Boa tarde,
Para mim tudo isto tem um nome, lavagem de dinheiro.
As Máquinas de Lavar existem em todas as disciplinas de todos os desportos.
Uma boa tarde.
Rui Sales