segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O clube que Charles Leclerc queria juntar... mas não conseguiu


Caso Charles Leclerc tivesse ganho ontem o GP de Singapura, o piloto monegasco teria entrado num clube muito estrito que neste momento têm dois membros, nos quase 70 anos de história da Formula 1. Esses dois membros têm algumas coisas em comum, como o de serem campeões do mundo, e terem corrido na mesma década, mas não juntos. E ainda têm mais uma coisa em comum: os carros em que conseguiram esses seus feitos foram desenhados pelo mesmo projetista!

Damon Hill e Mika Hakkinen conseguiram ganhar os seus três primeiros grandes prémios da sua carreira de seguida. No caso do filho de Graham Hill, o facto de guiar o Williams FW15C ajudou a conseguir a melhor temporada de um "rookie", desde Jackie Stewart, em 1965. Mas ele foi um mero ajudante de um Alain Prost que tinha como prioridade alcançar o seu quarto título mundial e elevar o seu recorde de vitórias para 51. No caso do piloto finlandês, a sua primeira vitória caiu do céu, mas era merecida, depois de quatro anos de "travessia do deserto" ao serviço da McLaren, antes de arrancar para um campeonato onde tinha tudo para ganhar... e aproveitou.


1 - Damon Hill (Hungria, Bélgica e Itália 1993)


No final de 1992, Nigel Mansell dizia: "o carro é tão bom que até pode ser guiado por um fantoche". O que o "brutânico" queria dizer que o Williams FW14, desenhado por Adrian Newey, era um dos carros mais perfeitos da história do automobilismo. Alain Prost, quando voltou à Formula 1 em 1993, impôs algumas condições para o seu regresso, e um deles foi vetar Ayrton Senna como companheiro de equipa. Nigel Mansell também não queria voltar a correr com Alain Prost a seu lado - tinham estado juntos na Ferrari em 1990 e não acabou bem - logo, decidiu ir correr para a CART.

Restou um lugar, que foi ocupado pelo piloto de testes, Damon Hill. Filho de Graham Hill, já tinha estado na Formula 1 em 1992, correndo pela Brabham, que estava no seu estretor final. Aos 32 anos de idade, era muito tarde para se mostrar na categoria máxima do automobilismo, mas com um carro como o FW15C, seria o secundário ideal para a equipa: não incomodaria, não perturbava e quando o primeiro objetivo fosse alcançado, ajudariam-o a conseguir o seu melhor resultado possível.

Foi um Damon Hill que permitiu, por exemplo, fazer brilhar Ayrton Senna em algumas corridas, como no Brasil e em Donington Park, pois não o conseguiu segurar o que podia nos momentos em que necessitavam dele. Apenas a meio da temporada ele começou a andar ao nível de Prost, Senna e de Schumacher, e a sua derrota no GP da Alemanha, com um furo nas voltas finais no circuito de Hockenheim lhe tirou uma vitória mais que justa.

Mas no Hungaroring, ele aproveitou bem. Com Prost a caminho do título mundial, Hill andou bem e alcançou a sua primeira vitória. Em Spa-Francochamps, batalhou com Schumacher e Senna para chegar ao lugar mais alto do pódio e os azares de Prost em Monza fizeram-o repetir o feito pela terceira vez seguida, ficando com o segundo posto à vista. No final, não foi o caso, pois não venceu mais alguma prova, e o segundo posto, o seu objetivo, caiu nas mãos de Senna, que triunfou nas duas últimas corridas do ano.


2 - Mika Hakkinen (Jerez 1997, Austrália e Brasil 1998)


No final de 1993, em substituição de Michael Andretti, Mika Hakkinen, outro piloto de testes, foi para o seu lugar. Tinha a experiência de duas temporadas na Lotus, e quando foi para a equipa de Woking, bateu o pé a Senna, que estava de saída da equipa, pois estava mais obcecado com a Williams. Nas quatro temporadas seguintes, o finlandês foi a alma de uma McLaren que lutava para regressar às vitórias, mesmo que tivesse motores Mercedes, que receberam desde 1995. Muitos olhavam para ele como um talento que via passar ao lado de uma grande carreira, e o seu acidente nos treinos do GP da Austrália de 1995 fez temer o pior.

Contudo recuperou, e no inicio de 1997, tinha 15 pódios sem vencer. Lentamente, o carro mostrava sinais de competitividade, e em Nurburgring, fez a sua primeira pole-position da sua carreira. Na última corrida do ano, os McLaren pareciam ser espectadores do duelo entre Jacques Villeneuve e Michael Schumacher. Com isso resolvido a favor do canadiano da Williams, este abrandou o ritmo e foi apanhado pelos McLaren. No inicio da última volta, Hakkinen passou-o e viu-se no comando de forma inesperada! Claro que acelerou e conseguiu uma vitória bem popular no pelotão da Formula 1. 

No inicio de 1998, as coisas eram um pouco diferentes. O MP4-13, desenhado por Adrian Newey - que vinha... da Williams - estava pronto e Hakkinen entrou "a matar", ao vencer em Melbourne, com uma manobra polémica, onde Coulthard foi ordenado que o deixasse passar pela boxe, para, segundo o escocês, honrar um acordo de cavalheiros onde o primeiro que chegasse à curva na primeira volta era o vencedor, e em Interlagos, com nova dobradinha. Hakkinen ainda subiria ao pódio na corrida seguinte, na Argentina, mas como Hill no Estoril, tinha sido segundo classificado nessa prova.

Mas ele acabaria por vencer mais seis vezes e no campeonato, terminaria como campeão, o primeiro que a McLaren conseguia desde 1991.

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