A história deste GP noturno, em Singapura, é a de verdadeira resistência. Uma corrida onde, para cumprir a distância exigida, os pilotos têm de ficar duas horas dentro do carro, num cenário de calor e grande humidade - mesmo às nove da noite, hora em que realiza a corrida na cidade-estado. Logo, mais do que ser veloz, o piloto tem de ser resistente, porque é uma luta contra os elementos. Não só contra ele, mas também contra um carro que se degrada em termos de pneus e travões. Se os pneus podem ser substituídos, os travões não.
E era nesse cenário que iriamos assistir ao GP de Singapura. Onde os Ferrari tinham tudo para conseguir a terceira vitória consecutiva e mostrar ao mundo que têm um carro vencedor. Mas era demasiado tarde para causar mossa nas aspirações da Mercedes em vencer ambos os títulos. E claro, para Charles Leclerc, a sua ambição era mais pessoal: com cinco pole-positions - o piloto que mais vezes tinha partido do primeiro lugar na temporada! - se acabasse como tinha partido, uma eventual terceira vitória seguida faria-o igualar Damon Hill e um recorde com 26 anos. E claro, deixá-lo com cada vez mais autoridade para ser primeiro piloto para atacar os Mercedes.
A partida começou com Leclerc a aguentar os ataques de Hamilton, que por sua vez, aguentava a tentativa de Vettel de o apanhar. Atrás, Sainz Jr e Hulkenberg tocaram-se, acabando com o espanhol a sofrer um furo e a cair para o fundo do pelotão. Ambos acabaram por ir às boxes e fazer as devidas reparações, tal como George Russell, que também tinha a asa quebrada.
Nas voltas seguintes, via-se como alguns dos pilotos tentavam evitar os problemas de sobreaquecimento, saindo da trajetória para arrefecer o carro, especialmente Sebastian Vettel, que estava sempre atrás do piloto da Mercedes. E na volta 12, começaram as primeiras paragens, primeiro com Daniil Kvyat, e depois com Sergio Perez.
Mas nesta altura, Lelerc começava a perder rendimento por causa dos pneus. E Hamilton ficava colado na traseira. Contudo, o monegasco da Ferrari reagia, afastava-se um pouco, e quem aabaria por sofrer com os pneus era... Hamilton.
E no regresso à pista... Vettel entrou na frente de Leclerc. Surpreendente, hein? Hamilton lá se mantinha na frente, mas o ritmo era maior para os Ferrari, mesmo ele a acelerar para evitar isso. E na volta 22, Bottas ia aos pneus, colocando médios. Cinco voltas depois, Hamilton foi às boxes, para colocar duros, numa altura em que os Ferrari estavam presos no trânsito. Voltou na frente de Bottas, e Alexander Albon até saiu de pista para evitar bater nos Flechas de Prata.
Com isto tudo, o líder era Antonio Giovinazzi, que batia alguns recordes: o primeiro italiano desde 2009, e primeiro piloto da Alfa Romeo desde 1983, ele lá se mostrava ao mundo que liderava. Sem ir às boxes, é certo, mas mostrava que liderava. Mas durou pouco: Sebastian Vettel passou na volta 31, uma volta depois de Pierre Gasly ter feito uma defesa musculada contra a ultrapassagem do alemão da Ferrari. Sem consequências, mas ficou o susto.
Quando o alemão chegou à liderança, a diferença para Gasly era de superior a cinco segundos, enquanto Vertsappen tinha 1,2 segundos para Leclerc, mas o holandês da Red Bull atacava, pois tinha Hamilton logo atrás dele. Os cinco que não tinham ido às boxes - como Giovinazzi e Ricciardo - aguentaram o que podiam até que os pneus médios estivessem nas lonas. E as coisas acabaram na volta 35, quando Giovinazzi e Ricciardo... tocaram-se no meio da pista, acabando ambos nas boxes, o italiano com a asa quebrada, o australiano com um furo.
E logo depois, o primeiro abandono, quando o Williams de George Russell bateu no Haas de Romain Grosjean, com o inglês a ir para o muro. Parado numa posição perigosa, a organização não teve outra chance senão colocar o Safety Car na pista. Na volta 36.
Alguns pilotos aproveitaram a chance para trocar de pneus, boa parte para médios. Mas nenhum dos pilotos da frente foi às boxes, mantendo os duros. As coisas andaram assim até à volta 41, quando a corrida recomeçou com Vettel e Leclerc na frente... e Stroll com um furo, mas sem incomodar o pelotão.
Mas pouco depois, Sergio Perez teve problemas no seu carro e teve de o deixar no meio da pista, o suficiente para nova entrada do Safety Car. Houve uma ou outra passagem para as boxes, e no entretanto, a boxe da Ferrari soltou a ordem para os seus pilotos para manterem a poisção, do qual Leclerc obedeceu, contrariado.
A terceira relargada durou pouco tempo, quando Kimi Raikkonen e Daniil Kyat se tocaram no final da reta, acabando com a corrida do veterano finlandês. Com a terceira entrada do Safety Car, toda a gente já estava convencida que a corrida poderia não acabar antes do limite das duas horas. E nesta altura, os pilotos estavam no limite físico.
Quando voltou, na volta 54, todos aceleraram rumo à meta, mas a luta que mais interessava era pelo terceiro posto, com Max Verstappen a aguentar os ataques de um Lewis Hamilton que estava a ver o seus rivais aproximarem-se. Contudo, o holandês aguentou bem os ataques e no final, os Ferrari conseguiram algo que era inédito em Singapura: uma dobradinha. E que dobradinha! Afinal de contas, há 392 dias, desde o GP da Bélgica de 2018, que Sebastian Vettel não subia ao lugar mais alto do pódio. E já bem merecia, especialmente depois do Canadá e de todos os erros nos últimos tempos.
No final, as caras contrastantes de ambos os pilotos no pódio, mas no final é Maranello que triunfa, numa sequência que já não tinham em mais de uma década, com os Mercedes de fora do pódio, algo que só acontece pela segunda vez nesta temporada. Mas eles deverão estar tranquilos: os títulos não lhes fogem, basta controlar o avanço da Ferrari a da Red Bull.
E agora não há tempo para respirar: Sochi está à esquina.
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