terça-feira, 31 de março de 2020

A imagem do dia

Nestes tempos de "lockdown", onde ficamos encerrados contra a nossa vontade e o nosso desporto favorito, é bom começar a contar algumas estorietas para tornar esta hibernação suportável. E neste final de mês de um ano sem final à vista, recordo um episódio onde a Formula 1 se viu obrigada a adiar uma corrida em cima da hora.

No calendário da Formula 1, o GP da Bélgica iria ser corrido a 2 de junho, entre as corridas do Mónaco e Canadá. Estava a pular com Zolder e nesse ano, decidiram colocar uma nova capa de asfalto do qual se esperava que os tempos em pista pudessem cair. De facto, o objetivo foi alcançado, mas... a estória que se segue tem a ver com um mau inverno e uma pista crua demais no momento em que a Formula 1 lá foi.

A nova capa de asfalto era para absorver melhor em situações de chuva e custou na altura cerca de 3,5 milhões de dólares. Queriam colocá-la na melhor altura possível, ainda por cima, tinha de estar pronta pelo menos 60 dias antes da realização do Grande Prémio. Contudo, burocracias e um inverno rigoroso fez com que somente... em maio a operação pudesse ser feita. A dez dias da corrida, a capa fora colocada e os carros, que queriam testar antes da prova, não puderam para que o asfalto pudesse solidificar.

Na sexta-feira, a atividade correu calmamente, mas com a passagem dos carros, o asfalto começou a degradar-se a olhos vistos. Para piorar as coisas, ainda havia uma prova de Formula 3000 marcada para aquela altura... e não ajudou imenso. As reparações foram feitas, e no sábado, os treinos decorreram, mas ao fim de meia hora, todos recolheram às boxes e começaram a discutir a situação.

Todos estavam zangados: a pista estava a desfazer-se a olhos vistos e era uma ameaça à segurança. Sugeriu-se cancelar tudo no sábado e no domingo, irem dieitos à corrida, sem "warm up" e tudo. Mas no final do dia de sábado, pilotos e equipas disseram que naquelas condições, não podia ser possivel. E para piorar as coisas, a corrida de Formula 3000... ainda estragou mais o asfalto. No final do dia, todos concordaram com um adiamento para setembro, mexendo algumas coisas no calendário, pois iria ficar entre as corridas de Monza e Brands Hatch, que aconteceria uma semana mais tarde.

Jean-Marie Balestre odiou o que os organizadores belgas fizeram. Puniu-os com dez mil libras de multa e cem mil libras de fiança, que só levantariam se a corrida realizasse sem problemas, mais tarde. Felizmente, tudo correu bem essa altura - choveu e tudo! - e o asfalto secou durante a prova, que foi vencida por Ayrton Senna, na sua segunda vitória na sua carreira, e pela Lotus. E como era para acontecer em junho, e tempos já tinham sido marcados então, o Lola de Alan Jones, que tinha estreado em Monza, não pode participar nessa prova porque mão existia em junho. Só voltaria em Brands Hatch. E trágicamente, Stefan Bellof, que apareceu no fim de semana belga no seu Tyrrell, tinha morrido duas semanas antes, no mesmo circuito, ao volante de um Porsche 956 de Endurance.

1 comentário:

Cláudio Guerra disse...

Eu me lembro dessa corrida da Bélgica adiada. Felizmente no fim tudo deu certo. Muito bons os textos! 👏🏻👏🏻👏🏻