quarta-feira, 26 de outubro de 2022

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Custa a crer que hoje passam 25 anos sobre este momento. Aliás, aquele final de semana foi absolutamente incrível, e o que me dá pena é que tudo aquilo poderia ter acontecido... no nosso país. 

É que as sementes deste desfecho aconteceram quando a FIA - dizendo melhor, Bernie Ecclestone - decidiu que, apesar das obras de remodelação, a Formula 1 não iria mais ao autódromo do Estoril. Há quem diga que foi por causa do governo português ter tentado ser mais esperto que o anãozinho, mas francamente, é mais conversa que outra coisa. Assim sendo, sem Formula 1 em Portugal, havia uma baga e foi preenchida com uma corrida 550 km mais a sul, em Jerez de la Frontera. E que seria a última corrida do ano, como (quase) tinha sido três anos antes, quando tentou preencher o lugar que tinha sido reservado para o GP da Argentina.

E como em 1994, esta corrida iria ser o "Grande Pémio da Europa". 

Com Michael Schumacher na frente de Jacques Villeneuve por um ponto (78 contra 77), bastaba ficar na frente dele para ser campeão. Ainda por cima, na segunda temporada da Ferrari, seria excelente para a Scuderia, por causa da aposta que tinham feito no alemão. Ele já tinha gente como Rory Bryne e Ross Brawn, para além de Jean Todt, que lá estava desde 1993. E se por algum acaso, Schumacher acabasse por não pontuar, não bastava ao canadiano chegar ao fim nos pontos: tinha de ser quarto para ser realmente campeão.

E para carregar mais tensão - e espanto- a qualificação ficou marcada pelo facto de três pilotos terem ficado com o mesmo tempo: Schumacher, Villeneuve e o outro Williams de Heinz-Harald Frenzten! E Damon Hill, quarto na grelha com o seu Arrows-Yamaha, ficou a meros quatro milésimos da pole. Que poderia ter sido sua se não tivesse o Minardi de Ukyo Katayama a atrapalhar a sua bolta mais rápida, porque se despistou e o britânico teve de levantar o seu pé. 

Com um empate a três, o critério foi o de saber quem tinha sido o primeiro. Fora Jacques, logo, a pole era dele. 

Mas na partida, o melhor tinha sido Schumacher, que fora para o primeiro lugar e lá ficou. O circuito era relativamente estreito, e passar não era fácil. Um carro era bom nas retas, apesar do outro se aproximar nas curvas. Apesar de uma boa paragem para reabastecimento, o Williams sabia que tinha de o passar na manha. E claro, o canadiano estudava-o, para saber quando e onde é que o iria atacar, porque pressionar só por pressão o alemão não bastaria, porque era um mestre nestas coisas. 

E na volta, 48, quando ficou a menos de um segundo de Schumacher, ele tentou a sua sorte no final da curva Dry Sac. Apareceu pela direita, travou tarde, e o alemão virou tudo para colidir com o seu carro, tentando, talvez, algo parecido com o que tinha feito em 1994: se danificasse o carro do canadiano, e este desistisse, seria campeão, mesmo que ele também desistia. Afinal de contas, tinha chegado a Jerez como o líder do campeonato. 

Mas aparentemente, o truque não resultou, desta vez. O Williams era resistente, a manobra tinha estado à vista de todos, e as memórias de Adelaide ainda estavam frescas. E claro, reforçou ainda mais a reputação de "Dick Vigarista". Schumacher desistiu, Villeneuve seguiu, apesar dos danos no seu carro, e tentou levar o seu Williams até ao fim, era o que queria.

Na última volta, cedeu a vitória aos McLaren de Mika Hakkinen e David Coulthard - mal pensávamos que eles iriam começar ali uma era de domínio... - e na meta, por fim, o canadiano tinha aquilo que muitos gostariam de ter visto ao seu pai, Gilles, num Ferrari (irónico, hein?). E a FIA não esqueceu da manobra de Schumacher e decidiu que ele iria ter uma punição exemplar. E foi dura: desclassificação do mundial - embora pudesse ficar com os pontos, as bitórias, as poles e as boltas mais rápidas - e as reações na imprensa foram implacáveis.

Os comentadores não ficaram atrás. Martin Brundle, então na BBC e a começar a sua carreira como comentador, ao lado de Murray Walker, disse, depois da colisão, e lembrando que tinham sido companheiros de equipa na Benetton, cinco anos antes: "Isso não funcionou Michael. Você acertou a parte errada dele, meu amigo". 

Alan Jones, campeão do mundo de 1980, ex-piloto da Williams, e comentador no Channel 9 local, não foi meigo: “Sem dúvida na [sua] mente que Schumacher deliberadamente dirigiu para o lado dele para tirá-lo, à la Damon Hill em Adelaide”, disse.

Jacques Laffite, outro ex-piloto e então comentador na TF1 francesa, foi mais implacável: chamou-o de "idiota" em direto. 

E foi assim que, há um quarto de século, acabou o campeonato do mundo. 

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