quinta-feira, 27 de outubro de 2022

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Ontem falei sobre o desfecho de Jerez e como aquilo foi o corolário de uma temporada bem disputada entre uma Ferrari do qual Michael Schumacher carregou às costas e o levou quase a um título que não ganhavam desde 1979, e uma Williams que era a melhor equipa do pelotão, mas que naquele ano tinha tudo pavimentado para que o canadiano pudesse ganhar, mas teve uma concorrência mais encarniçada que esperavam. 

Quando pesquisava para escrever os eventos que falei anteriormente, não sabia que a escolha de Jerez para palco final do campeonato tinha sido a pedido da Renault, que não queria fechar a sua participação na Formula 1 - onde se encontrava desde 1989 -  num palco japonês, casa de um dos seus ribais, a Honda, apesar desta não lá estar desde 1992, mas tinha preparadores através da Mugen. 

Mas outra coisa que não sabia, e é sobre isso que falo hoje, é que depois da colisão na corrida, Michael Schumacher tentou reparar a asneira, falando com o canadiano. E quem conta essa história é o Adam Cooper, na Autosport britânica.  

Depois da corrida, e das perucas amarelas - por causa do cabelo oxigenado do canadiano - descobriu-se que a Ferrari tinha feito centenas de bonés com os dizeres "Michael Schumacher, campeão do mundo de 1997", que depois do que aconteceu, foram objeto de... embaraço. Cooper conta que ficou com dois, um deles dado a Jock Clear, engenheiro de Jacques Villeneuve

Quando chegaram ao hotel Montecastillo, a Williams começou a fazer uma festa improvisada com o campeonato. E algum tempo depois, a Ferrari também chegou, e ambas as equipas decidiram por festejar juntas. Um pouco estranho, mas na verdade, naquele mundo pequeno, conheciam-se uns aos outros, e depois do final da temporada, era tempo de descontrair. 

Depois de alguns outras festas, a noite ia já longa quando a "entourage" de Villeneuve encontrou, numa rotunda... com a "entrourage" de Schumacher. E ambos regressaram ao hotel, para prolongar a festa. E foi aí que o alemão... tentou fazer as pajes com o seu adversário.

Recentemente, ao falar com o próprio Cooper sobre os eventos de 1997, o canadiano disse que recorda como se fosse ontem:

"Foi estranho, mas existia uma razão para isso. Não se falava do acidente, era apenas se divertir e ser barman, servindo bebidas para todos. Foi divertido, ele tocou junto, ele era um bom ator E tenho certeza que uma parte dele também se divertiu, porque ele gostava de ter uma boa [farra] noite fora."

"Pessoalmente no momento eu pensei que era ótimo, porque esse é o tipo de coisa que eu teria feito. OK, você me venceu. Foi assim com Damon no ano anterior. Naquele momento eu não vi o que vinha logo depois."

No final da festa, os últimos resistentes eram Schumacher e Villeneuve. E a conversa tinha sido captada por um vídeo, que acabou num tabloide alemão, numa altura em que, fora daquele mundo, existia a tempestade pelos eventos na corrida. E claro, queriam a cabeça do alemão. O vídeo foi depois usado como "desculpa" para afirmar que apesar do incidente, no final, eram todos amigos e não deveria haver uma penalização tão severa. Claro, o canadiano sentiu-se usado e não gostou muito.

"Ele usava [a câmara de vídeo] para tirar fotos, para se ilibar", disse Villeneuve. "A história era, 'Isso mostra que eu não fiz nada de mau durante aquela corrida, porque olha, nós somos amigos.' Isso é o que me deixou chateado, e eu não esperava."

Claro, não deu em nada. A FIA desclassificou-o, mas manteve os pontos. E teve uma suspensão de correr... mas suspensa. Um quarto de século depois, o canadiano afirma ainda ter memórias vivas desses dias de campeão.

"Honestamente, essa é a coisa mais estranha, a memória não envelhece", diz ele. "Não há tempo na memória. Se você se lembra, pode ser ontem, não há lapso. Pode ter sido há dois ou três dias. Eu sei que não foi ontem, porque não estou de ressaca hoje. Mas é sobre isso…"

Já agora, para finalizar, as fotos são de dois dos mais distintos fotógrafos de automobilismo. O do canadiano no pódio é do italiano Ercole Colombo, e o do alemão cercado por jornalistas é do seu compatriota Rainer Schegelmilch.

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