segunda-feira, 21 de agosto de 2023

A imagem do dia


Os filhos de pilotos que seguem os passos dos pais muitas das vezes tem botas muito grandes para calçar. E tem sempre pessoas em cima deles, que estarão sempre a compará-los. Poucos conseguem ser melhores - Max Verstappen é uma dessas excepções, outra é Jacques Villeneuve - mas a maioria, no máximo, podem igualá-los, como Damon Hill (filho de Graham Hill) ou Nico Rosberg (filho de Keke Rosberg).

Mas na América, isso já acontecia muito tempo antes disso ser problema na Formula 1. Então, numa família em particular. A de um californiano de origem sérvia. 

Quando Bill Vukovich tinha dez anos, o seu pai, também chamado Bill, era um dos melhores pilotos de então. Tinha ganho as 500 Milhas de Indianápolis em 1953 e 54, e o seu estilo de condução o apelidou de "Russo Maluco" (os americanos são um desastre na geografia desde tempos imemoriais...), e durante essas duas corridas, conseguiu um impressionante 71,5 por cento das voltas, sinal do seu domínio numa oval que ainda tinha... tijolos como superfície nas suas curvas.

Mas um dia, a 30 de maio de 1955, tudo mudou. O automobilismo tinha uma má face, e sentiu-o na sua pele. No final do dia, não iria mais ver o seu pai. Ele liderava por 17 segundos - uma vantagem enorme, mesmo para os dias de hoje - quando perdeu o controle depois de bater no carro de Johnny Boyd, que se tinha envolvido com os carros de Al Keller e Rodger Ward. O carro ficou fora de pista, depois de ter capotado muitas vezes e acabado de cabeça para baixo. Ele teve morte imediata.

Dez anos depois, ele estava dentro de um carro, arriscando a ter o mesmo destino que o pai. Pergunta-se o porquê. A adrenalina é assim tão forte? Andar dentro de circuitos é assim tão poderoso? Ou há mais alguma coisa, um assunto por acabar? O que interessa é que o filho do "Russo Louco" estava nas pistas, escrevendo o seu capítulo na história. 

E para isso, chegamos a 1973. "Vuky", então com 29 anos, já tinha sido o "rookie do ano" nas suas primeiras 500 Milhas de Indianápolis, em 1968, e tinha sido segundo classificado em 1972, depois de ter sido terceiro em 71, graças à sua regularidade. Partia de 16º, e o seu objetivo era de chegar ao fim da corrida numa boa posição. Mas desde o primeiro metro que a sua primeira preocupação tinha de ser a sobrevivência. Uma carambola causou dez feridos e a interrupção da corrida, adiada para o dia seguinte. E para piorar as coisas, o mau tempo não ajudou. Na terça-feira, a corrida prosseguiu, mas acabou com uma bola de fogo na curva 4, quando o carro de Swede Savage acabou em chamas, depois de uma passagem para reabastecimento.

Acabou na quarta-feira, depois das "72 Horas de Indianápolis"... e não acabou nas 200 voltas previstas. A chuva fez mais uma vez a sua passagem, e todos estavam cansados. Mas entre os sobreviventes, Vukovich II era um deles. Acabou na segunda posição, atrás de Gordon Johncock, e tornou-se no filho de campeão melhor classificado, a par de Mário e Michael Andretti

Vukovich segundo - que morreu no domingo aos 79 anos de idade - correu até 1984, sendo segundo em 1979, no ano em que houve a cisão entre a USAC e os construtores, que deu origem à CART. Nesse ano quando tentou - e não conseguiu - qualificar-se para as 500 Milhas, já o filho, Billy como o pai e o avô, tentava a sua sorte no automobilismo. Billy III tornou-se no primeiro piloto da terceira geração a correr nas 500 Milhas. Tornou-se "Rookie ao Ano" em 1988, 20 anos depois do pai, mas a 25 de novembro de 1990, em Mesa Marin, numa corrida de midgets, o seu acelerador ficou preso e bateu forte contra o muro de proteção, matando-o aos 27 anos, tendo o mesmo destino do seu avô.  

Apesar dos sapatos grandes que tinha de calçar, até que conseguiu que os seus pés ficassem assentes nesses sapatos. 

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