E, como sabem, o automobilismo também aproveita o agosto para fazer uma pausa, decidi pegar noutra minha atividade favorita: a leitura de livros. E peguei num que apanhei, por acaso, numa Feira do Livro por aqui e comprei, esperando por uns dias na praia para fazer as devidas leituras.
E o livro que andei a ler por estes dias foi a autobiografia de Enzo Ferrari: "As Minhas Amargas Alegrias". Até calha bem, porque este ano passam os 125 anos do seu nascimento e os 35 da sua morte. Bastou-me um fim de semana para lê-lo - comecei numa sexta-feira à tarde e acabei dois dias depois - e é sobre ele que irei falar.
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Escrito originalmente em 1962, mostra uma faceta de um Ferrari que era notoriamente reclusivo. Mostrar-se como ser humano não era algo normal, e na altura, as suas memórias - ou autobiografia, se preferirem - foi um grande sucesso, acabando por se vender cerca de cem mil exemplares, só em Itália. Tanto que existiram reedições e modificações em 1964 e um dos seus capítulos - "Piloti, che gente!" - deu até um livro à parte, que teve atualizações até 1987, um ano antes de morrer, e com uma introdução de Piero Lardi Ferrari, o seu segundo filho e herdeiro.
Ali, explica as suas origens, na Emilia-Romagna natal - ele é de Modena - e que foi registado dois dias depois do seu nascimento, alegadamente por causa de um nevão. Fala também de uma adolescência dificil - combateu na I Guerra, numa altura em que morreram o pai e o seu irmão mais velho - de como foi à procura de trabalho em Milão e acabou como piloto, primeiro na CMN, antes de ir para a Alfa Romeo, onde correu ao lado de alguns dos melhores pilotos italianos da época, como Ugo Sivocci, Giuseppe Campari, António Ascari e sobretudo, Tazio Nuvolari. Depois, fala da sua transição para diretor da equipa - funda a Scuderia Ferrari em 1929, para lidar com carros da Alfa Romeo - e da razão pelo qual deixou de correr: o nascimento do seu filho Alfredino (Dino), em 1932.
Ele depositou imensas esperanças nele. Não só por ser seu filho, mas também por ser um engenheiro capaz - o motor Dino de 2.4 litros é obra dele - mas sofria de nefrite, uma doença nos rins, e acabou por morrer em junho de 1956, aos 23 anos. Ferrari sofreu imenso pela sua perda - aliás, é a ele que dedica a sua autobiografia - e sentiu a sua falta até ao fim, porque sabia que tinha imensas coisas em comum, e acreditava - não fala explicitamente, mas entende-se nas linhas - que acreditava que poderia continuar com o legado da Scuderia.
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Um capítulo à parte é um dedicado aos pilotos. Sendo ele um antigo piloto, Ferrari não coibiu de fazer avaliações sobre pilotos de três gerações, que abarcaram quase um século de automobilismo, desde os primeiros tempos - gente como Felice Nazzaro ou Piero Bordino, que competiram antes da I Guerra Mundial - até aos anos 80, como Nigel Mansell, Gerhard Berger, Michele Alboreto, Alain Prost ou Ayrton Senna.
Há parágrafos inteiros dedicados a pilotos que admirava e teve nas suas fileiras: Antonio Ascari, Ugo Sivocci, Giuseppe Campari, Tazio Nuvolari, Achille Varzi, Alberto Ascari, Froilan Gonzalez, Eugenio Castelloti, Mike Hawthorn, Peter Collins, Phil Hill, Lorenzo Bandini, Ricardo Rodriguez, John Surtees - e nas edições posteriores, Ludovico Scarfiotti, Jacky Ickx, Niki Lauda, Jody Scheckter, Gilles Villeneuve e Michele Alboreto.
Fora desse núcleo, outros pilotos deu extensos parágrafos, especialmente dois: Juan Manuel Fangio e Stirling Moss. Também falou sobre Jim Clark, Jackie Stewart, Emerson Fittipaldi e Ronnie Peterson, do qual correu apenas na Endurance. (...)
A literatura automobilística é fascinante, e este ano, Enzo Ferrari, estará nas bocas do mundo. Michael Mann estreou por estes dias um filme sobre um período da sua vida, e por acaso, consegui ler a sua autobiografia, "As Minhas Amargas Alegrias". O relato é fascinante de pilotos, pessoas, lugares e carros, numa altura em que a Europa e o mundo saia da II Guerra Mundial e a Itália passava por um desenvolvimento sem precedentes.
Sobre isso e muito mais, falo este mês no Nobres do Grid.
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