quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A imagem do dia


No domingo, Esapekka Lappi era um piloto contente. Ele e o seu navegador, Janne Ferm, comemoravam uma importante vitória para a Hyundai, nas neves da Suécia, sabendo que já tinha passado muito tempo desde que tinha subido ao pódio. O que não sabia, era que, estatisticamente, tinha acabado de bater dois recordes de longevidade na história dos ralis.

O de mais tempo entre duas vitórias, e a da quantidade de ralis é que teve de fazer entre duas vitórias. Na primeira, entre o rali da Finlândia de 2017, até ao passado domingo, tinham passado seis anos e 203 dias, batendo um recorde com... 45 anos (o anterior, de 5 anos e 359 dias, pertencia ao queniano Shektar Mehta) e no segundo caso, Lappi tinha feito 61 ralis até conseguir este feito, batendo os 56 que Dani Sordo teve de percorrer entre os ralis da Alemanha, em 2013, e da Sardenha, em 2019, para poder triunfar.

"Bom pra car****! Faz um bom tempo que ando a buscar esta segunda vitória. Gostaria de agradecer a milhões, mas provavelmente esquecerei muitos deles. Mas muito obrigado a Cyril [Abiteboul, diretor da Hyundai], que me manteve na equipa depois de uma temporada muito má no ano passado. É um grande contraste entre aquele momento e agora. Então, obrigado à equipa. E à [minha] família também.", desabafou Lappi, no final do rali.

Aos 33 anos, feitos no passado dia 17 de janeiro, isto é o auge de uma carreira que começou cedo, e em 2013 se tornou campeão Ásia-Pacifico, com um Skoda Fabia S2000. Triunfou no WRC2 em 2016, também um Skoda, já como piloto oficial, mas até ali, não tinha tido chances em correr num carro da primeira categoria. Essa chance aconteceu com a Toyota, que fazia o seu regresso aos ralis.

Quando aconteceu, em 2017, fex num programa parcial. E entrou com estrondo. Apesar de ter sido apenas décimo no rali de Portugal, foi quarto no rali seguinte, na Sardenha, e duas provas depois, na sua Finlândia natal, mostrou todo o seu talento quando ganhou, batendo todos os favoritos, desde Sebastien Ogier a Thierry Neuville, Kris Meeke ou Jari-Matti Latvala

Parecia que isto seria o trampolim para maiores feitos, mas... não. Uma temporada difícil em 2018 fez com que passasse para a Citroen onde, apesar de quatro pódios, foi dispensado no final do ano, porque a marca decidira sair do WRC. Foi para a Ford em 2020, mas sem pódios, também foi dispensado no final do ano.

Em 2021, passou para o privado, correndo em Rally2, exceto na Finlândia, onde pegou um Toyota GR Yaris Rally1, para ser quarto classificado. Foi o suficiente para regressar à Toyota em 2022, onde, com um programa parcial, conseguiu três pódios e 58 pontos, sendo o 13º classificado na geral. Mas com uma equipa onde todos queriam correr, e não conseguindo convencer os seus patrões, para correr ao lado de Elfyn Evans e o japonês Takamoto Katsuta, ele foi para a Hyundai, com uma temporada completa, ao lado de Thierry Neuville.

No ano que passou, conseguiu quatro pódios, sendo o melhor um segundo lugar na Sardenha, e ficando na sexta posição, com 113 pontos, a melhor desde 2018. Parecia ser um bom caminho de regresso, contra gente que corria a tempo parcial, como Teemu Suninen, Craig Breen (antes do seu acidente fatal, na Croácia) ou Dani Sordo, mas no final do ano, se calhar com resultados aquém do esperado e de não ter travado a ascensão de Kalle Rovanpera para o seu bicampeonato, soube que a marca coreana tinha contratado Ott Tanak, que um ano antes, tinha saído para a Ford. Como não poderiam ter três pilotos a tempo inteiro, Lappi tinha de, em 2024, partilhar o carro com Sordo e Suninen. Mas, se é para ajudar a equipa, não era problema.

Num lugar onde os finlandeses se sentem em casa, apesar de ser na Suécia, Lappi conseguiu manter o carro na estrada, enquanto via gente como Kalle Rovanpera, Takamoto Katsuta e Ott Tanak a saírem de estrada. A sua calma e sangue frio fez com que fizesse história, muito tempo depois da última vez. E até a concorrência estava a aplaudir o seu feito. Como Rovanpera, o seu compatriota.

"Não guiei tão bem nesta Power Stage. Acho que poderia ter sido um pouco mais rápido com dois pneus sobressalentes, porque agora um pneu dianteiro não era o ideal. Um pouco decepcionante neste fim de semana, não é o que viemos fazer aqui. Embora o EP [Esapekka Lappi] corra pela equipa errada, eu realmente espero que ele traga isso para casa. Então, tudo de bom para ele, é bom ter um vencedor finlandês no rali.", disse, num belo gesto de fair-play.

Não temos ideia se Lappi tenha o estofo de campeão, mas neste rali sueco, a sua experiencia, calma e sangue-frio fez com que desse à Hyundai a vitória. E, inesperadamente, a marca coreana tem duas vitórias em dois ralis, onde todos esperavam triunfos da Toyota. 

Parece que irá ser uma temporada bem interessante. Só espero que Lappi não espere mais seis anos para ganhar um rali do WRC. 

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