domingo, 6 de outubro de 2024

A imagem do dia (II)



Se estivesse vivo, José Carlos Pace faria 80 anos neste domingo. Durante toda a sua carreira na Formula 1, a data de aniversário calhava quase sempre com o GP americano, a última corrida do campeonato, em Watkins Glen. E há precisamente 50 anos, no dia em que comemorava o seu 30º aniversário, conseguiu algo que, se calhar, não esperava conseguir no inicio da temporada: um pódio. 

De uma certa maneira, naquela tarde que viu o seu compatriota Emerson Fittipaldi alcançar o seu segundo título mundial, o pódio que tinha alcançado não era só um motivo de festa natalício, como também era o final (quase) perfeito de uma temporada com altos e muitos baixos. 

Depois de uma temporada de 1973 onde, ao serviço da Surtees, conseguiu o seu primeiro pódio da sua carreira e alguns feitos de nota, como duas voltas mais rápidas, especialmente no temido Nurburgring Nordschleife. 

Mas as coisas no inicio de 1974 não correram bem. Apesar de ter conseguido um quarto lugar em Interlagos, no GP do Brasil, ele não pontuou mais corrida alguma, e as suas relações com John Surtees, o seu patrão, se degradaram, ao ponto de, antes do GP de França, ter saído da equipa. Em Dijon, inscreveu-se na Goldie Hexagon Racing, que usava Brabhams BT42 como cliente. Apesar de não se ter qualificado - 24º numa grelha onde apenas 22 carros alinharam - ficou na frente do Brabham oficial de Rikky van Opel. Isso foi o suficiente para a partir do GP da Grã-Bretanha, o piloto brasileiro começar a correr pela equipa oficial.

A adaptação foi lenta. Nono em Brands Hatch, depois de partir de vigésimo, lentamente começou a dar-se melhor com o carro, ao ponto de, na qualificação do GP de Itália, conseguir o terceiro melhor tempo, entre o carro oficial de Carlos Reutemann e o da Goldie Hexagon, de John Watson. Contudo, isso não se refletiu na corrida, com apenas um carro a pontuar... e foi o de Pace, quinto, na frente de Watson, que foi sétimo, e nesses tempos, era o primeiro a ficar de fora. Mas pelo caminho, conseguiu o primeiro feito na equipa oficial, ao conseguir a volta mais rápida.

Em Watkins Glen, Pace conseguiu outro bom lugar na grelha. Aliás, os Brabham decidiram intrometer-se na luta pelo título, com Reutemann a fazer a pole-position e Pace a ser quarto, entre o Parnelli de Mário Andretti, o Ferrari de Niki Lauda e o Tyrrell de Jody Scheckter. E na partida, Pace ficou com o terceiro posto, apenas atrás de Reutemann e do Hesketh de James Hunt. Aproveitando bem os problemas dos Ferraris e a desistência de Jody Scheckter - tudo beneficiando o seu compatriota Fittipaldi - Pace sempre em terceiro, teve um grande ritmo e acabou com a volta mais rápida. 

Na parte final, quando sentiu que James Hunt lutava contra uns travões em degradação, pressionou no sentido de ele cometer um erro e aproveitar. Foi o que aconteceu a quarto voltas do fim, conseguindo a primeira dobradinha da Brabham no tempo de Bernie Ecclestone e Gordon Murray

Depois, contou uma história: nas vésperas da corrida, teve um sonho estranho. Aparentemente, o seu falecido pai tinha-lhe dito para modificar o desenho do seu capacete, que tinha uma seta amarela apontada para os dois lados, sob um fundo preto. Mudou a seta na parte de cima, raspando a pintura com uma lâmina, esperando para ver o que isso daria. Como acabou numa corrida quase perfeita, a modificação ficou assim até ao final da sua carreira.   

Pace celebrou este aniversário com uma prenda quase perfeita. Não ganhou, mas foi ao pódio, ficou com a volta mais rápida e ainda viu o seu compatriota ser campeão. Mas, como no ano anterior, o seu aniversário ficou manchado por um acidente mortal. 

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